O que era para ser um espaço de lazer para os moradores do bairro Cruzeiro se transformou em preocupação. Desocupada há quase um ano, a antiga sede da associação de moradores de bairro (Amob), junto à Praça Avelino Manoel Avrela, na Avenida Sirius, virou reduto para usuários de drogas, principalmente à noite, e tem inibido a presença das famílias.
O prédio que abrigava a Amob pertence à prefeitura e está interditado por problemas na fiação, conforme o presidente da associação, Nelson Acyoli Vieira Filho. A falta de ocupação do espaço público vem à tona justamente em um momento em que a prefeitura luta judicialmente para recuperar terrenos e imóveis de 45 Amobs. Este é um dos exemplos que evidencia a dificuldade do município de utilizar os imóveis que já tem à disposição, a exemplo do antigo prédio do INSS, no bairro São Pelegrino, e da UBS do bairro Cristo Redentor, pronta há sete meses.
Recentemente, vândalos arrancaram uma das grades das janelas e conseguiram entrar no imóvel. Do lado de fora, é possível enxergar os estragos: o forro e os fios de eletricidade foram arrancados e furtados num cenário de abandono. A sujeira se acumula entre os materiais quebrados, onde antigamente as crianças do bairro participavam de atividades no turno inverso ao da escola.
Leia mais
Prefeitura de Caxias projeta contratar 600 vagas para a educação infantil até o final do ano RGE troca poste em condição precária no bairro Santa Catarina, em Caxias
Sindicatos denunciam supostas irregularidades trabalhistas e falta de medicamentos na UPA Zona Norte, em Caxias
— O pessoal que vem utilizar a praça pra trazer as crianças me procura para dizer que eles (usuários de drogas) ficam aí direto. As famílias estão com medo. O nosso pedido é que a prefeitura traga a Guarda Municipal para a praça. Podiam utilizar essa salinha (do prédio) para ficar um período, por exemplo, das 18h à meia-noite, já seria uma ajuda — sugere Nelson.
A comerciante Tânia Maino, 59 anos, moradora do Cruzeiro há mais de 20 anos, também lamenta o estado de conservação da área de lazer:
— Quando foi inaugurada, a praça era um lugar muito legal. Tinha até um espaço para a gente tomar chimarrão. Eu gostava muito de fazer caminhada ali. Mas com essas drogas e agito, ficou sem condições. Está um abandono — reclama a moradora.
Para outro morador do bairro, que prefere não se identificar, a aglomeração de pessoas, principalmente no período noturno, está pesando no bolso.
— Eu sou comerciante e a drogadição na praça está me atrapalhando. As pessoas têm medo de passar por ali e vir até o meu estabelecimento — afirma.
Prefeitura planeja ocupar espaço, mas sem prazo definido
Conforme o gerente operacional da Guarda Municipal, Cristiano Marcos Vitali, o bairro Cruzeiro recebe rondas diárias, conforme a demanda de ocorrências da cidade. Segundo ele, recentemente nenhum usuário de drogas ou vândalos foram flagrados durante as passagens das viaturas. Em agosto, o presidente da Amob do bairro encaminhou um documento à Secretaria Municipal de Segurança Pública e Proteção Social, solicitando a presença permanente dos servidores na área de lazer.
— Pelo tamanho da cidade e pela quantidade de viaturas que temos, entendemos que a Guarda não tem como estar em todos os lugares ao mesmo tempo. Mas procuramos passar pelo menos uma vez por dia pelo bairro e consequentemente pela praça — diz Vitali.
Em relação à ocupação e melhoria do prédio, a Secretaria do Planejamento informa que a intenção é levar para lá o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos Cruzeiro do Sol, que atende crianças e adolescentes no turno inverso ao da escola. Hoje, os alunos têm atividade em uma sala alugada no bairro, mas já usaram o imóvel em 2007. Não há, no entanto, previsão para a ocupação.
Amob ocupa antigo módulo da BM
Atualmente, a Amob do Cruzeiro usa o antigo módulo da Brigada Militar (BM), na Avenida Hércules. O terreno onde está o módulo é público, mas o prédio foi construído com recursos da comunidade, segundo o líder comunitário do bairro. Em entrevista à Rádio Gaúcha em fevereiro, o comandante da BM em Caxias, major Jorge Émerson Ribas, justificou que o fechamento da companhia foi motivado pela falta de efetivo. A corporação desativou a unidade no início de novembro do ano passado
O espaço abriga atividades da comunidade, como aulas de kickboxing e artesanato, que ocorrem semanalmente. O imóvel, conforme Nelson, recebeu melhorias nos últimos meses: foram adquiridos mobiliários e houve a reforma do telhado.
— A ideia é que a Amob seja utilizada pela comunidade, em aniversários de criança ou em algum coquetel, gratuitamente — comenta.