O que existe em comum entre as famílias de Vitor Klement e de Antonella da Silva Romano, de Caxias do Sul? Além de terem pais engajados, as duas famílias criaram campanhas virtuais de arrecadação de dinheiro que ganham as ruas e buscam sensibilizar a comunidade. A ideia é conseguir recursos para tentar amenizar problemas de saúde dos pequenos. As histórias diferem quanto às condições das crianças, mas caminham positivamente diante da maré de solidariedade que se formou acerca destas famílias.
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Aos seis meses, Antonella Romano é um bebê agitado, sorridente e carinhoso com os pais. Tornou-se a razão de viver dos pais, Keli Daniela Serpa da Silva, 24 anos, e Leandro de Quadros Romano, 30. Os exames feitos durante a gestação não identificaram qualquer anormalidade na formação da criança. A surpresa veio no parto de Antonella: ao sair do ventre da mãe, a menina tinha um coágulo na altura do cóccix (região do fim da coluna).
Passaram-se três meses entre a primeira consulta com médico especialista e o diagnóstico final - lipomielomeningocele, uma malformação na região lombar que é responsável por desencadear disfunção na bexiga, deformidade dos pés e fraqueza ou paralisia em membros inferiores. Os especialistas apontam que o bebê precisa passar por um cirurgia para corrigir o problema.
– Ela já tem um problema na bexiga e vamos precisar sondá-la porque ela quase não faz xixi. Quando ela completar um ano, se não fizer a cirurgia, ela praticamente não tem chances de andar – preocupa-se a mãe.
Mesmo tendo plano de saúde, a família precisará desembolsar cerca de R$ 20 mil para custear o trabalho de um dos cirurgiões. Keli, que está desempregada, e Leandro, que é soldador, então decidiram criar uma vaquinha virtual, promover um almoço beneficente e vendas de produtos que incluem porcentagem de doação à família. Até agora, foram arrecadados pouco mais de R$ 4 mil. A cirurgia será feita daqui a três meses.
– Eu não imaginava que receberia tanta ajuda. Chegam mensagens com histórias positivas de todo país, e nos dão força para ir pra frente. Eu agradeço cada real que estão doando, cada ajuda que recebi. Eu quero dar a oportunidade da minha filha ter uma vida normal – planeja a mãe.
Vitor precisa de R$ 50 mil
A jornada diária do metalúrgico Ademar Klement só encerra bem tarde, depois de caminhar por dezenas de casas na região do bairro De Lazer, onde vive, e vender rifas de porta em porta. O prêmio é singelo: três tortas, doadas por uma padaria da cidade. Mas nem de longe é a bonificação que convence alguém a comprar os números, vendidos por R$ 2. O que sensibiliza é a história do filho Vitor, quatro anos, que tem autismo e precisa de tratamento. Junto da mulher, a professora Marcelina Reis da Silva Klement, Ademar transformou a busca pela melhoria da qualidade de vida de Vitor em uma meta.
Pedágio solidário, rifa e vaquinha na internet foram as alternativas que o casal encontrou para tentar bancar os custos de um tratamento chamado Método Padovan, que não é oferecido no Rio Grande do Sul e não é barato. Desde dezembro passado, o menino vem sendo submetido à terapia no Rio de Janeiro, onde vive com a avó. Os custos são todos bancados pelos pais.
– Nós percebemos que havia algo diferente quando ele fez dois anos e ainda não falava uma palavra. Buscamos fonoaudióloga e otorrino, e foi quando ouvimos pela primeira vez a palavra autismo. O diagnóstico final só saiu no ano passado, e não paramos de pesquisar qual a melhor saída para o caso dele – descreve o pai.
Não há cura para a condição de autista, mas a chance de Vitor ter uma vida mais próxima do normal é o que motiva os pais a bancarem R$ 7,2 mil por mês em um instituto carioca, onde o pequeno faz seções quase diárias de fisioterapia, fonoaudiologia e outras terapias. Em um mês, segundo o pai, o guri ganhou muita independência. A família busca arrecadar cerca de R$ 50 mil para pagar o tratamento. Até agora, a vaquinha virtual arrecadou R$ 2,7 mil. Ainda falta muito para alcançar o objetivo, mas não é algo impossível, acreditam os pais:
A busca por tratamentos alternativos para a evolução do autista é fundamental na etapa infantil, afirma Claudia Biasuz, coordenadora do Pró-Autista, projeto de Bento Gonçalves que lida diretamente com este público. É nesta fase que é possível ter avanços significativos que ajudem na qualidade de vida do paciente.
– Já é lei que em postos de saúde ou consultas de pediatras devem ser feitas perguntas relacionadas aos sintomas de autismo. É muito importante, porque nesta fase há evoluções – avalia Claudia.
O Padovan é um método de reorganização neurofuncional que busca recuperar funções perdidas ou nunca adquiridas. É o caso de crianças com autismo, que têm dificuldade ou ausência de interação social:
– Ele trabalha o indivíduo como um todo, não focando somante a fala e a linguagem, mas também aspectos motores. É um tratamento para preparar o cérebro e adquirir funções cognitivas – explica a fonoaudióloga Cintia Bonfanti.
COMO AJUDAR
* Os pais de Vitor e de Antonella organizaram páginas no Facebook que servem como canal de comunicação. Basta digitar na caixa de procura do facebook "Vakinha online Todos Pelo Vitor" ou "Todos Com a Antonella".
* É possível doar por meio do site Vakinha nos dois casos:https://www.vakinha.com.br/vaquinha/todos-com-a-antonellahttps://www.vakinha.com.br/vaquinha/todos-pelo-vitor
* A família de Antonella promove um almoço beneficiente no dia 15 de outubro, no bairro Bela Vista. Ingressos custam R$ 35 (adulto) e R$ 15 (infantil). Contato pelo telefone (54) 99120-2442, com Keli, ou (54) 99153-5402, com Keity.
* Pais de Vitor farão um pedágio solidário neste sábado pela manhã na rótula da Casa de Pedra, na Perimetral Norte. Informações com Ademar, pelo telefone (54) 99186-3540.