Ao longo de 43 dias, a Campanha do Agasalho de Caxias do Sul espera arrecadar mais de 200 mil peças de roupa. Parece muito, afinal trata-se de média superior a 4,6 mil itens por dia. A meta, no entanto, é considerada plenamente alcançável nas expectativas da Fundação Caxias, principal entidade envolvida na organização. Isso porque, historicamente, a população caxiense demonstra grande adesão a causas solidárias.
– Todos os anos ultrapassamos nosso objetivo. Se pararmos para refletir, estamos falando em 200 mil peças para uma cidade de pouco mais de 450 mil habitantes, ou seja, equivale a quase metade da população – destaca o coordenador da Campanha do Agasalho, Valter Franzosi.
E os primeiros indicativos reforçam o espírito de solidariedade da população. Em cerca de 10 dias, foram arrecadadas mais de 34 mil peças, das quais 21 mil já entregues a 16 entidades ligadas à campanha. A Campanha do Agasalho segue até 24 de junho.
– A confiança do caxiense está muito ligada à credibilidade da entidade. A Fundação Caxias, por exemplo, existe desde 1969 e, desde então, conseguimos conquistar uma reputação de respeito. Em virtude disso, nossas campanhas sempre são bem-sucedidas – assegura o presidente da Fundação, Paulo Poletto.
– Como brasileiros acabamos tendo dúvidas em tudo, até por termos sido vítimas de traições de toda nossa classe política, mas, a partir do momento que você garante essa confiança e honestidade da causa, tem a aceitação da população – complementa.
SAIBA COMO AJUDAR:
Atualmente, a Campanha do Agasalho é a principal ação desenvolvida na cidade. Ao todo, são cerca de 800 pontos de coleta espalhados em Caxias, entre supermercados, repartições públicas, lojas e ônibus do transporte coletivo.
Além da campanha, a Fundação Caxias arrecada, ao longo do ano, por meio do banco de doações, móveis, eletrodomésticos, colchões, material escolar e de informática. A orientação é que interessados em ceder ou receber itens procurem uma das cerca de 200 entidades ligadas à Fundação Caxias. Dúvidas podem ser esclarecidas no (54) 3223-0528.
"Não é nem felicidade que percebemos no olhar de quem recebe agasalhos e sim necessidade"
As primeiras entidades que receberam os agasalhos já começaram a distribuição de roupas, cobertores e calçados. Entre elas, o Clube de Mães Jardim Ipê, atuante na Zona Norte há mais de 20 anos. Integrante do grupo, Maria Clori da Silva relata que mais de 300 peças foram entregues a famílias de baixa renda. Segundo ela, a ação surte grande efeito na comunidade, onde existem muitas pessoas em situação de vulnerabilidade:
– Não é nem gratidão que percebemos no olhar delas, e, sim, a pura necessidade por agasalho. Muitas vezes são famílias bem grandes que precisam.
Ela revela que há também trocas de itens, quando algumas das famílias entregam roupas que deixaram de usar e recebem outras em melhores condições. Além disso, as próprias voluntárias do Clube de Mães confeccionam peças para doação.
– A gente faz desde acolchoados até roupinhas para crianças, principalmente porque há bastante procura por agasalhos infantis – complementa.
Ela conta que todos os anos sobram peças, porém, o excedente ajuda a garantir suporte a casos de eventual urgência.
– No ano passado, conseguimos suprir as famílias depois de um incêndio que destruiu sete casas no Cânyon, e só com as roupas que haviam sobrado da última edição da campanha – exemplifica.
A mão solidária no momento de aperto
A estudante Bruna Piazza, 21, sabe bem o que é depender de amparo social em um momento de dificuldade. No dia 6 de maio, ela, a mãe, e o irmão, vivenciaram um momento de desespero após perderem tudo em um incêndio que consumiu a casa da família, no bairro Panazzolo.
Diante da situação trágica, vizinhos, amigos e familiares rapidamente demonstraram sua solidariedade por meio de doações e até mesmo abrigando a família.
– Foram tantas doações que nem sabemos de onde surgiram tantas coisas e tão rapidamente. Em dois ou três dias, já havíamos conseguido agasalhos, cobertores e até mobília – destaca a estudante.
A mãe de Bruna, Cátia Regina Flores, surpreendeu-se pela empatia demonstrada por pessoas que sequer conhecia.
– Recebemos um número tão grande de agasalhos que conseguimos repassar para outros necessitados. Foi tão gratificante ver desconhecidos nos doando coisas novas, eletrodomésticos e todo tipo de item que perdemos no incêndio – enumera, elogiando também o apoio recebido de vizinhos de um prédio que ficava em frente à residência.
O objetivo da família agora é juntar dinheiro para reconstruir casa, que será edificada no mesmo terreno.
Quem quiser ajudar pode adquirir materiais na Nadivan Materiais de Construção, na Rua Raimundo Nora, 265, bairro Panazzolo. No estabelecimento há uma lista de itens e controle do que ainda pode ser adquirido para auxiliar na obra.
Ações independentes que visam o bem
Apesar da existência de instituições e entidades voltadas a propósitos beneficentes, iniciativas independentes buscam ampliar ainda mais a ajuda a pessoas carentes e facilitar doações. Criada em janeiro de 2016, a página do Facebook "Bora Ajudar - Elo do Bem", reúne pedidos a necessitados que precisam de auxílio urgente em Caxias.
A iniciativa é de Marcia Grisa Paim, símbolo de atuação em causas solidárias da Zona Norte, com a promoção de bazares beneficentes e eventos voltados a crianças pobres. Apesar de ser referência no atendimento à população vulnerável, ela descarta qualquer vaidade ou questão em ser reconhecida.
– É tudo questão de se sensibilizar pelo próximo. Mesmo no caso da gente (ela e o marido), em que trabalhamos e não pagamos aluguel, às vezes passamos aperto... Imagina a situação de uma família que tem dificuldade até para conseguir o alimento do dia a dia – analisa.
Ela explica que a ideia da página surgiu quando notou um grande demanda por doações publicadas em seu perfil pessoal no Facebook.
– Sempre tem alguém precisando de alguma coisa, enquanto outros podem doar algo que esteja sobrando. Há pedidos por móveis até alimentos. Sabemos como está difícil para todo mundo neste momento – salienta.
Marcia também destaca que percebe bastante disposição por parte da população:
– É uma corrente do bem. Todo mundo coopera e isso faz com que possamos obter auxílio naquele momento de necessidade. É sempre possível ajudar, dar um pouquinho de si. Às vezes, até demonstrar carinho e compaixão é o suficiente.