Seis médicos da Sistema Único sa Saúde (SUS) de Caxias do Sul, representantes da comissão da categoria, participaram de uma reunião na noite desta segunda-feira com o prefeito Daniel Guerra (PRB). O convite, entregue aos médicos pelo prefeito na semana passada, afirmava que o poder público "discutiria a contraproposta encaminhada pelo Executivo". E foi isso que Guerra fez, frustrando os médicos que participaram do encontro, que também contou com a presença de secretários, como o da Saúde, Fernando Vivian, da Fazenda, José Alfredo Duarte Filho, e de Recursos Humanos, Vangelisa Lorandi.
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O prefeito ouviu as demandas levadas pelos profissionais e solicitou alguns encaminhamentos aos titulares das pastas, mas, como reiterou algumas vezes durante a reunião, não fez uma nova contraproposta. Com isso, a terceira greve no ano na rede pública de saúde de Caxias está mantida - e por tempo indeterminado - para esta terça-feira. Uma assembleia dos médicos está marcada para a terça para decidir os próximos passos do impasse.
A reunião começou às 19h05min e os primeiros 45 minutos foram utilizados pelos médicos. Eles agradeceram o convite do prefeito e afirmaram que não é somente a questão salarial que está sendo discutida pela categoria. Eles também reivindicam melhores condições de trabalho e se queixaram da falta de insumos dentro das unidades básicas de saúde.
– Trabalho em um postinho que, se pegar fogo na parte da frente, todos que estão lá dentro morrem queimados. Estamos sem medicamentos básicos e não dá para trabalhar assim. Não ficamos felizes em fazer greve, nos dói não atender a população, mas às vezes é o que nos resta – reclamou o médico Marcelo Borelli.
O secretário de Saúde, servidor há 19 anos, afirmou que, no tempo em que trabalhava em UBS, também sofreu com alguns problemas estruturais. No cargo de titular da pasta há menos de um mês, garantiu que se empenhará para resolver a questão. Porém, Vivian disse que essas demandas precisam chegar à secretaria. Guerra afirmou que foi liberado R$ 1 milhão para a compra de medicamentos no início do ano.
– Já cheguei para trabalhar na unidade e não tinha sabão para lavar as mãos, mas é preciso avisar o responsável. Saúde é prioridade nessa gestão e isso precisa ser resolvido – disse Vivian.
Na reunião, os médicos também reclamaram de um dos itens que estavam na última contraproposta enviada pela prefeitura, a produtividade e qualidade nos atendimentos. Adilson Moreira afirmou que essa medida é inconstitucional e que não é justo avaliar o serviço médico:
– É injusto. O nosso remédio, muitas vezes, é amargo. Seremos avaliados por não encostar uma pessoa que não precisa, por não dar um atestado para quem não precisa, por pedir para a pessoa parar de fumar. Não pode ser assim, a medicina não funciona assim.
Como resposta, o secretário da Fazenda explicou que essa forma de avaliação pode ser discutida:
– Se olharmos uma avaliação, e nela constar que o atendimento foi ruim "porque o médico não me deu atestado", ela não será considerada. Não queremos ser injustos, pensamos em uma forma de valorizarmos o trabalho dos médicos.
Os seis profissionais também questionaram a criação de um cargo específico para médicos dentro da prefeitura, a questão da obrigação em bater o ponto e falaram sobre a decisão de manter o Sindicato dos Médicos como representação da categoria.
O encontro durou mais de 2h30min na prefeitura. Os médicos devem se reunir na noite desta terça, e novas conversas devem ser marcadas com a gestão municipal para discussões. No entanto, o chefe de Gabinete, Júlio César Freitas da Rosa, foi taxativo:
– As duas partes devem seguir as regras do jogo. Não adianta querermos discutir se um time jogar com um regulamento e o outro time jogar com outro. Vamos sempre seguir o que diz a Justiça. O prefeito não vai tomar nenhuma decisão irresponsável porque ele pode pagar por isso lá na frente.