Elas querem, sim, rosas, elogios e gentilezas. Mas não é só isso. Elas querem ter direito a escolha. Querem estudar e trabalhar; querem ser mães e "donas de casa"; querem casar ou ficar sozinhas. Elas querem ter emprego, igualdade salarial, garantia de direitos. Elas não querem ser violentadas, principalmente por aqueles por quem têm admiração; não querem morrer por serem mulheres. Elas querem respeito e liberdade.
Uma onda de empoderamento feminino tem mostrado uma nova mulher, que não só deseja todas essas coisas como corre atrás e bota a boca no mundo, se necessário, para conquistá-las. É uma mulher que tem empatia pela próxima.
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No último domingo, na atividade promovida pela Marcha Mundial das Mulheres na sede da União das Associações de Bairros, em comemoração ao Dia Internacional da Mulher, cerca de 50 mulheres dançavam e cantavam de mãos dadas e demonstravam sororidade, termo que significa união entre as mulheres, baseado no companheirismo.
Entre elas, Gabriela de Moraes Machado, 30 anos. Mãe e mulher, ela participava da atividade para se inteirar sobre a Reforma da Previdência, uma das pautas do encontro. Gabriela é voluntária do Caxias da Paz e buscava informações para repassar aos participantes do programa na Zona Norte, comunidade a que ela se refere com carinho especial.
Inquieta, a jovem não admite que as pessoas não tenham acesso a direitos por desconhecê-los. Com olhar apurado, ela criou o Mina de Conteúdo, projeto que reúne, em fotos e textos, histórias de mulheres "lutadoras".
– A mulher tem voz, mais do que em qualquer outro tempo, mas não é suficiente. Algumas vivem o modelo imposto pela família, vivem a violência velada. A mulher tem vergonha em ter estudado menos, porque foi mãe cedo. É bem importante as pessoas se unirem para falar sobre essas questões – defende.
De uma outra geração, Benta Campos, 48, acompanhava as filhas no domingo. Mas foi ela quem sempre incentivou as meninas a participar do movimento feminista. Talvez por não ter tido a oportunidade quando era jovem. Benta é de uma época, não tão distante, em que a mulher precisava trabalhar cedo e casar cedo. Há três anos, ela realizou o sonho de se graduar em Serviço Social.
– A mulher quer liberdade para ser mulher, para estar onde quiser e ser o que quiser. Se quiser ser mãe e dona de casa, se quiser ser empresária, se quiser ser política. Ela quer ser ativa, quer ter voz – entende.
Grupo prega enfrentamento
Para a Marcha Mundial de Mulheres, a onda de empoderamento que ganha as ruas e as redes sociais é importante, mas não suficiente para garantir igualdade de gênero. O grupo defende o enfrentamento à estrutura da sociedade, que, segundo as integrantes, gera efeitos negativos na vida das mulheres, como a Reforma da Previdência.
– As primeiras a serem prejudicadas são as mulheres, as primeiras a serem demitidas. O feminismo que a Marcha tenta imprimir não está dissociado do fator econômico. Estudos mostram que as mulheres trabalham horas a mais que os homens. O trabalho de casa é invisível por não ter valor mercantil. É um feminismo que faz o alerta da exploração do trabalho da mulher – defende Fabíola Papini, liderança da Marcha em Caxias.
Elas não se "kahlam"
Sucesso nas redes sociais, o coletivo Não Me Kahlo – em alusão a uma das principais referências feministas, a pintora mexicana Frida Kahlo – é um dos tantos grupos que atua na luta contra o machismo. Formado por cinco mulheres do Rio de Janeiro e São Paulo, o coletivo trabalha com divulgação de informações e realização de palestras. A escolha por Facebook, Twitter, Youtube e Instagram, além do site, tem motivo.
– A rede social te deixa confortável na sua casa, de não receber aquele retorno imediato de cara a cara, que é bem mais agressivo. Eu estava lendo que durante o Carnaval, a OAB no Rio de Janeiro estava fazendo campanha de conscientização do assédio e teve que retirar as meninas que estavam entregando adesivos e panfletos porque elas foram muito assediadas e até jogaram bebida na cara delas. Então, na rede social, a gente não está protegida de assédio verbal, mas sim dessa violência física, que acredito que seja mais grave – diz Bruna Rangel, uma das idealizadoras do coletivo.