Já iniciando o trabalho com um corte de R$ 39,6 milhões no orçamento para este ano (que caiu de R$ 150,83 milhões para R$ 111,19 milhões), o secretário de Obras e Serviços Públicos, engenheiro mecânico Leandro Pavan, 39 anos, diz que está arrumando a casa e atendendo prioritariamente às urgências da pasta.
Com um currículo recheado, que inclui mestrado e doutorado na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS) e cerca de 20 anos de experiência na Marcopolo,ele aceitou o desafio do prefeito Daniel Guerra (PRB) de tornar a administração pública o mais semelhante possível às empresas privadas.
– Ele quer que as secretarias sejam autossustentáveis, com indicadores de eficiência nos setores. Aceitei o desafio porque era a oportunidade de fazer algo a mais pela sociedade e porque as ideias do plano de governo fecham quase 100% com a minha ideia de sociedade e de administração – justifica ele, que é natural de Bento Gonçalves mais vive em Caxias do Sul desde a adolescência.
Entre as medidas tomadas por Pavan estão a eliminação de CCs e o corte de horas-extras, consideradas essenciais em outras administrações para dar conta da demanda. Ele também evitou prometer obras para o futuro, justificando o orçamento restrito e a dificuldade de obter recursos do governo federal.
– Esse corte deve tornar tudo muito mais puxado para todos e talvez em alguns pontos, como na iluminação pública, que tem vários pedidos em defasagem, pode demorar um pouco mais, mas é um período de testes – argumenta.
Ainda obre o fato de não ter experiência pública, Pavan também argumenta que ter conhecimento na área irá ajudar a tomar decisões corretas à frente da pasta:
– Muita gente critica o fato de "só ter currículo", mas sempre aprendi na prática e depois na teoria. Me ajudou a fixar o conhecimento. Dia desses, visitei uma usina de britagem e pude discutir o funcionamento do britador com o mecânico-chefe. E ele ficou apavorado, disse "ué, o secretário entende de máquinas?" Mas é o certo. Como é que ele vai balizar valores cobrados, os contratos, se não sabe do que está falando? É gratificante porque estou conseguindo ajudar e vendo que a ideia que o prefeito plantou é válida.
Como desafio pessoal, Pavan diz que quer deixar um exemplo.
– Quero mostrar que quando as pessoas plantam boas sementes, não há como não deixar um resultado ótimo – acredita.
O QUE DIZ O SECRETÁRIO SOBRE....
...a situação da secretaria
Imaginava que estivesse bem pior. Quando cheguei, fiquei feliz, tinhas muitas máquinas novas, poucas velhas, mas com um planejamento para trocar, que vou ter de implementar. Também contamos com servidores muito qualificados, corpo técnico de primeira linha, facilita bastante, tem uma estrutura completa. Tem alguns pingos nos "is" para colocar, mas no geral encontrei a máquina andando bem e quero deixá-la melhor ainda.
...os pingos nos "is"
Primeiro, com relação à folha de pagamento. Fizemos reduções de 60% dos CCs (cargos de confiança). Hoje, a secretaria tem 430 servidores, sendo que CCs são apenas quatro. Além disso, havia vários servidores com veículos locados (o servidor recebe para utilizar o seu próprio carro) e entendemos que era um gasto desnecessário, sendo que o município tem uma frota grande e ociosa. Como todos os veículos são gerenciados pela secretaria de Obras e Serviços Públicos, fizemos um levantamento dos rastreadores, que mostraram que havia veículos que faziam uma quilometragem baixíssima. Então como é que você explica carros que não andam, se depreciando, e servidores com veículos locados? Havia casos em que chegavam a ganhar R$ 24 mil por ano para usar o próprio veículo. Tudo isso foi cortado. Montamos uma central de veículos e agora bem poucas pessoas têm uso exclusivo do veículo. A grande maioria da frota da secretaria é compartilhada entre todos. Antes não, cada um tinha o seu carro, que usava para fazer vistoria, acompanhar trabalhos, fazer inspeções. Hoje, até o meu veículo, em caso de urgência, pode ser compartilhado entre todos os outros servidores também.
...o Alô, Caxias
Contabilizamos cerca de 5 mil pedidos em aberto herdados da administração anterior. O que decidi: vamos dar uma parada no primeiro semestre com obras novas para fazer todos essas trabalhos. Tapa buraco, poste que está caindo, redes pluviais entupidas, pontos de lâmpadas queimadas... Neste período, vamos trabalhar basicamente em manutenções e tentar reduzir esses pedidos que estão em aberto.
...a manutenção das ruas
Se mantém basicamente a mesma forma de trabalho. Porém, em algumas situações, é possível melhorar, principalmente naqueles remendos que pegavam quase a rua inteira. A gente está vendo para fazer secionado, faz a rua inteira mesmo. Já arranca e faz novo, faz um pedaço inteiro da rua. Senão, remenda de um lado e descasca do outro e assim vai. Tem limite para remendo de rua. Quando é feito um conserto e ele não tem a durabilidade adequada, que se espera, para a secretaria é pior porque em breve vai ter de ir lá de novo refazer o trabalho. Dos 5 mil pedidos que estão pendentes no Alô, Caxias, a grande maioria é de arrumação de ruas. Casos urgentes, de buracos grandes, que podem colocar em risco motociclistas, ciclistas e até mesmo romper um pneu, por exemplo, a gente faz na semana ou mesmo no dia. O procedimento é assim: primeiro vai um técnico, verifica o que precisa, os materiais, as máquinas e depois vai a equipe. Esta nunca vai direto ao local sem saber o que vai encontrar. Às vezes é um buraco por cima, mas quando vê, tem uma galeria inteira desmoronada por baixo e tem de interditar a rua por uma semana às vezes. Temos todo um planejamento por trás.
...a iluminação pública
Dentro do orçamento, estamos colocando nos loteamentos novos essas lâmpadas que economizam energia. As que são trocadas, usamos no interior ou lugares onde não têm iluminação. Elas voltam aqui, os circuitos são revisados, e é reutilizado. No Centro, principalmente, usaremos essas econômicas, que também iluminam mais.
Não há uma região prioritária em Caxias do Sul para receber reforço de iluminação. Percebemos, no entanto, que há uma demanda grande por iluminação pública em áreas próximas de loteamentos irregulares, onde a lei nos proíbe de fazer melhorias como patrolamento, cascalhamento de ruas, iluminação e obras de drenagem. É difícil explicar ao moradores essa questão. Hoje (dia 13), por exemplo, recebi representantes da região de Altos de Galópolis. Mostramos a eles os caminhos para se regularizar, para que depois possamos atendê-los.
...a infraestrutura no interior
Em Linha Sebastopol, há necessidade de uma obra grande, que vamos fazer esse ano (em outubro, um deslizamento de terra levou metade da pista e deixou um buraco com mais de 10 metros de profundidade na Estrada da Produção, que liga o distrito a Santa Lúcia do Piaí). A secretaria produz por conta própria artefatos de cimento para esses consertos. Já produzimos metade das barreiras de contenção necessárias. Quando começar, teremos de fechar a estrada por cerca de um mês. Como o nosso orçamento é pequeno, tudo o que vai ser feito, tem de ser bem feito, porque tem de durar. É o caso da obra em Sebastopol. Tem lugares que vai ficar um barreira de seis, sete metros. É um trecho arenoso, tem de buscar fundação na rocha. Estimamos que o fim de março seja uma época boa para começar, depois que terminar a safra da uva, pois tem muitos produtores e há variedades que são colhidas até o final de fevereiro. Outra questão apontada pelas comunidades do interior é que não se fazia a manutenção correta em todos os trechos da estrada, não chegava no fim da estrada. Agora vamos fazer ao contrário. O conserto começa no fim para o centro da cidade. Antes, se arrumava, arrumava a estrada e chegava a noite, a máquinas iam embora e não se voltava para terminar o fim da estrada. Agora, estabelecemos, sempre que possível que comece a arrumar pelo fim e venha arrumando em direção à sede. O maquinário para o trabalho é suficiente. Todas as subprefeituras têm, no mínimo, 10 máquinas entre patrolas e caminhões, por exemplo. E se necessário, a secretária ajuda com reforço.
...as subprefeituras
São 11 subprefeituras, sendo uma no centro administrativo, que abrange localidades mais próximas, como Nossa Senhora da Saúde, por exemplo. Já temos interinos para todas elas. Fizemos uma pré-seleção com base em currículo e entrevistas na comunidade. Todos assumiram esses locais como interinos, que podem vir a ser oficiais ou não. Agora, eles estão passando por uma segunda revalidação junto à sociedade pois tiveram tempo de fazer seu trabalho e de se apresentar. Ainda não está definido se todos ficarão. Uma boa parte deve ficar. Não é um pré-requisito viver na comunidade. Há alguns locais, inclusive, que se prefere alguém de fora, para não haver privilégios, em função de rixas, para não beneficiar um local ou outro. Até todos serem nomeados, os nomes não podem ser divulgados. Neste mês ainda estará tudo definido.
...as horas-extras dos servidores
A meta de governo é reduzir ao máximo as horas extras. Durante a semana, elas já foram reduzidas pela metade em toda a secretaria já a partir de janeiro. A grande maioria dos servidores entendeu que essas medidas foram tomadas em função da situação econômica difícil. Tentamos explicar que tudo isso é por um objetivo maior, que é conseguir pagar os salários em dia. Houve alguns que não entenderam, mas dois ou três dias depois veio um retorno positivo, nos disseram "até que não tá tão ruim assim, até que tá funcionando" e aí começaram a nos ajudar. Quando as pessoas veem que dá certo, elas se comovem e vão também para aquele caminho. Mas é preciso incentivar. Quando as pessoas já estão acostumadas com uma coisa, leva tempo para assimilar a mudança, há uma resistência em mudar. E no caso das horas extras, muita gente já assimilava aquele valor às suas contas mensais, então faz falta realmente. Por isso que não pode ser cortado a zero de uma hora para outra.
Também optamos por manter, no fim de semana, o sistema de sobreaviso. O gerente do setor escolhe algumas pessoas para ficar de plantão no domingo. Elas ficam em casa, recebendo, mas à disposição para atuar em qualquer problema, um inundação, uma árvore que cair na estrada... Ficam de sobreaviso o operador, motoristas, mecânicos, uma estrutura completa para atender a população caso necessário. Isso custa caro para o município, mas é necessário porque corre-se o risco de não achar ninguém quando precisar. Já se cogitou cortar, mas é um serviço essencial.
...as futuras obras
Não há projetos específicos para os próximos meses, não podemos comprometer nada até não existir verba. No entanto, há diversos projetos prontos, para abertura de ruas, pontes, mais de 10 piscinões (hoje, há estruturas, que funcionam como tanques de contenção, nos bairros São José, Pôr-do-Sol, Fátima Baixo e na área central, próximo ao INSS) e até de um túnel de escoamento (para drenagem da água das chuvas), um projeto de R$ 10 ou R$ 15 milhões, e que precisaria de recursos federais para sair do papel.
Ficaram muitas demandas do Orçamento Comunitário, mas não há verba para execução. Na próxima semana, haverá reuniões para reavaliar essas obras. Hoje, não há planejamento claro sobre ele. Estamos nos focando para atender as urgências agora. Com relação aos alagamentos, sabemos que a cidade é um organismo vivo e cada vez mais as áreas são cobertas com calçamento, asfalto, então aumenta a impermeabilidade do solo e a chuva causará cada vez mais impacto. Uma obra de drenagem que neste ano dá conta, no ano que vem pode não dar. Daremos prioridade às obras de manutenção preventiva, como o aumento de galerias, para ampliar antes que uma enxurrada venha e estoure tudo. Manutenção não é só arrumar onde quebrou o asfalto, onde estourou um cano de água. Tem pontos da cidade que já estão no limite, como o Pio X, por exemplo, onde há lugares que a água não chegava e que voltou a alcançar.