O que desejam os moradores do Cruzeiro? Do que se orgulham as famílias de São Pelegrino? Como se organizam os líderes do Santa Fé? São muitas reinvindicações, sonhos e anseios entre as 479 mil pessoas que habitam os cerca de 230 bairros e loteamentos de Caxias do Sul. A vida nos bairros não é apenas uma luta por pavimentação de uma rua ou por uma linha de ônibus. As comunidades querem lazer, querem mostrar o que fazem de melhor, querem ser ouvidas.
Por esse motivo, o Pioneiro publicará a série Fala, bairro aos sábados. O objetivo é destacar quais são as prioridades de cada comunidade na saúde, na infraestrutura, no transporte, na segurança e na área social, entre outros. Moradores e lideranças vão compor um painel sobre cada localidade. A partir disso, será possível compreender que desafios o novo prefeito de Caxias terá pelos próximos quatro anos.
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A reportagem, porém, não se restringirá aos problemas: mostrará projetos que estão dando certo e que podem ser ampliados, contará histórias de personagens conhecidos e elencará ações positivas que a comunidade aprova e quer manter.
A série Fala, bairro publicará as matérias de forma intercalada de acordo com as quatro macrorregiões do município: Norte, Sul, Leste e Oeste, incluindo os distritos e zonas rurais. A cada semana, uma comunidade será escolhida para compor esse painel.
Nesta primeira reportagem, moradores do Serrano elencam a principal necessidade:
Serrano não quer ir ao Postão
Entre os moradores ouvidos pelo Pioneiro no Serrano, um dos maiores bairros de Caxias do Sul, um pedido é quase unânime: melhorias no atendimento na saúde pública. Apesar de UBS do bairro ser praticamente nova, os moradores reclamam da dificuldade em conseguir serviços básicos como simples consultas.
O posto na Rua Alcides Ramos tem 417 metros quadrados e foi inaugurado há cinco anos. Inicialmente, o espaço funcionava em parceria com a Universidade de Caxias do Sul (UCS): os médicos contratados pela UCS atendiam na chamada Unidade Escola de Saúde. A parceria foi encerrada na metade deste ano.
Os moradores não se queixam da estrutura do postinho, mas sim ao atendimento, ou a falta de dele, em alguns casos. A principal reclamação é a dificuldade de conseguir horário com pediatra e as poucas vagas disponibilizadas para clínico geral:
– Tu tem que vir às quatro da manhã para ter a vaga – revela a dona de casa Leila Brombatti, 50 anos.
– A saúde é o que precisa melhorar aqui no bairro. De tempo em tempo, faço exames de rotina, fiz um há uns 15 dias e ainda não veio o resultado. Me disseram que viria na sexta e não veio. Mandaram eu voltar na terça e foi a mesma coisa. Vou ter que marcar outra consulta pra falar com a médica de novo – reclama o aposentado Alencar da Silva Lessa, 74, residindo no bairro desde 1977.
Diante da dificuldade de atendimento no bairro, alguns moradores se obrigam a ir até o centro em busca de consultas no Pronto-Atendimento 24 Horas (Postão), o que dá uma distância de 12 quilômetros. Ao escolher esta opção, o morador esbarra em um novo empecilho: com o atendimento prioritário para casos de urgência, os pacientes passam o dia à espera da consulta e muitas vezes preferem voltar para casa sem o diagnóstico do médico.
– Pra conseguir uma consulta é muito demorado. Às vezes a gente se obriga a ir no Postão, mas lá é outro "chá de banco" – lamenta o aposentado Abrelino José da Silva, 72 anos.
Clube de mães orgulha a comunidade
As idades são variadas, mas o objetivo é um só: ter momentos de lazer e construir boas amizades. No combo, vem junto a preocupação social. Essa mistura de ações compõem o Clube de Mães Flor Serrano, do bairro Serrano. São mais de 90 mulheres cadastradas e outras 70 que acompanham os encontros com frequência. Uma vez por semana, a turma se reúne no piso inferior da Igreja Menino Deus e produz diversos tipos de artesanatos, que são vendidos com a verba revertida para o clube .
Além da diversão, há preocupação social. As mulheres são incentivadas a participar de projetos como o Prato Solidário, Sábado Solidário e ações próprias, como visitas aos doentes do bairro, doações de roupas e empréstimo de quatro cadeiras de rodas. A presidente de clube, Ivonete Maria Birch de Lima, 63 anos, considera os encontros como antidepressivos naturais:
– Eu participo há quatro anos e digo que o Clube de Mães renova a vida das mulheres. Antes, os encontros eram uma forma de lazer para pessoas que queriam sair de casa. Hoje, é quase como uma cura. A gente percebe a mudança só no brilho dos olhos delas – define Ivonete.
Qualquer moradora do bairro com mais de 18 anos pode participar das atividades. Basta comparecer a um dos encontros nas quarta-feiras e procurar a presidente do clube.
História
O Serrano começou a receber moradores na década de 1970. O nome surgiu a partir da vinda de famílias dos Campos de Cima da Serra.
Participe
Você quer mostrar o seu bairro neste espaço? A série Fala, Bairro é publicada aos finais de semana. Envie sua sugestão para o e-mail alana.fernandes@pioneiro.com ou pelo WhatsApp 99921.2228.
RAIO X
::População: 11.826 habitantes.*
::Região: Norte.
::Iluminação: regular.
::Educação pública: tem duas escolas próprias: a estadual Victório Webber e a de educação infantil Vovó Phelomena. Os jovens também são atendidos nas escolas municipais José Protázio Soares de Souza e Laurindo Luiz Formolo.
::Transporte: tem à disposição as linhas Serrano e Iracema.
::Lazer: há um campo de futebol e uma Academia da Melhor Idade. Porém, os moradores solicitam mais iluminação na área de lazer.
*Conforme levantamento do IBGE em 2010.