– Vocês não têm medo de estar aqui?
A pergunta da técnica de enfermagem Gabriele Zampieri Lufichoski, 30 anos, à reportagem do Pioneiro que acompanhou o trajeto do ônibus da Expresso Caxiense entre Caxias do Sul e Flores da Cunha, no início da noite de terça-feira, retrata bem o temor sentido por quem utiliza o transporte diariamente. Há uma semana, em uma sequência de três ataques, criminosos armados espalham pânico em arrastões praticados em linhas intermunicipais da região.
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A ação não é novidade: entre a última semana de julho e o início de agosto, ocorreram outros quatro casos semelhantes nessa linha e na que liga Caxias a Porto Alegre. Já os ataques, também seguem o mesmo estilo: três homens se passam por passageiros, sentam-se normalmente nos últimos bancos e, em determinado momento, anunciam o assalto. Armados com pistolas, bastão de choque e muito agressivos, eles obrigam as vítimas a entregar celulares e dinheiro. Enquanto dois criminosos recolhem os objetos, outro fica ameaçando o motorista.
Mesmo passageiros que não foram vítimas mas usam os coletivos entre Caxias e municípios como São Marcos, Flores da Cunha e Bento Gonçalves, o sentimento é de ameaça constante. A secretária executiva Natalina Flávia Francisconi, 44, mora em Flores da Cunha, mas durante a semana trabalha em Bento. Na terça-feira, ela estava apreensiva durante a viagem:
– É preocupante. A gente tenta se proteger como pode, mas desconfiamos até de quem senta ao nosso lado. Me sinto insegura demais – relata.
Nos cerca de 40 minutos de viagem, os passageiros ficam em alerta. A cada parada para pegar alguém na estrada, olhos se arregalam e esboçam tensão. Alguns passageiros optam por mudar atitudes para encarar o trajeto de maneira menos traumática.
– A gente sai cedo para trabalhar e não sabe se volta. A viagem ficou mais angustiante, mas tento pensar que vou chegar bem em casa. Ando com poucos objetos, não fico mais com celular na mão e estou sempre atento – conta o atendente de farmácia José Mello, 41, que diariamente utiliza o Caxiense para ir de Caxias até Flores.
Com um assento vago logo na entrada, atrás do motorista, Gabriele, a moça que questionou a reportagem, recusou-se a sentar ali. Ela se apega à fé para encarar o percurso de pouco mais de 20 quilômetros.
– Se sento ali posso virar uma refém. Antes de entrar, fiz o sinal da cruz e pedi proteção para chegar viva em casa.
Três arrastões em quatro dias
O último ataque contra ônibus intermunicipal na região aconteceu na noite de segunda-feira, na BR-116. Conforme testemunhas, pouco depois das 21h, os ladrões entraram no ônibus da Expresso São Marcos em uma parada após o posto da Polícia Rodoviária Federal (PRF), no bairro São Ciro. Aos gritos, roubaram dezenas de telefones celulares e dinheiro das vítimas. Próximo da encruzilhada do bairro Ana Rech, os ladrões desceram do coletivo e embarcaram em um carro que já os aguardava às margens da rodovia.
Na sexta-feira passada, dia 28, o alvo foi um veículo da empresa Ozelame, que seguia de Caxias para Carlos Barbosa pela RSC-453: o ataque ocorreu entre as paradas do MartCenter e da empresa Vidroforte, por volta das 20h45min. Depois do arrastão, os criminosos desembarcam nas proximidades do Viaduto Torto, trecho de grande movimento na rodovia.
Já o primeiro caso, vitimou passageiros da empresa Expresso Caxiense, na quarta-feira passada, dia 26, em horário semelhante. O coletivo estava na ERS-122, em direção a Flores da Cunha, quando os bandidos entraram no veículo, próximo à entrada da Linha 40. Depois de roubar os pertences das cerca de 40 pessoas que estavam no coletivo, desembarcaram e também fugiram em um carro que os aguardava.
Polícia intensifica fiscalização nas rodovias
A Brigada Militar de Caxias do Sul, com o apoio dos comandos rodoviários da região, afirma que tem intensificado as fiscalizações nas rodovias que concentram a maioria dos casos de arrastão em ônibus: RSC-453, ERS-122 e BR-116.
– Intensificamos o nosso trabalho no período da noite. É nossa missão proteger a população e faremos o que tiver ao nosso alcance para que isso aconteça – garante o chefe do Comando Regional de Polícia Ostensiva da Serra (CRPO/Serra), coronel Antônio Osmar da Silva, sem dar mais detalhes da ação policial.
Ele pede que as vítimas sempre registrem a ocorrência e, principalmente, em hipótese alguma, reajam ao assalto.
– A população precisa ficar tranquila, pois a polícia está ciente do que acontece. Preciso que confiem no nosso trabalho – avisa.
A Polícia Civil investiga os três arrastões e, conforme o titular da Delegacia de Furtos, Roubos e Capturas (Defrec) de Caxias do Sul, delegado Mário Mombach, a suspeita é de que os ataques sejam praticados por um único grupo, devido à semelhança no modo de atacar.
A Metroplan, empresa responsável por controlar e determinar o itinerário dos ônibus que fazem linhas intermunicipais, informou que sua função é apenas fiscalizar as empresas para saber estão cumprindo horários e que não se envolve em casos de segurança pública.
PONTOS MAIS VULNERÁVEIS NA REGIÃO
– Na BR-116, em direção a São Marcos: trecho após a Polícia Rodoviária Federal (PRF), no bairro São Ciro, até a encruzilhada do bairro Ana Rech.
– Na RSC-453, em direção a Farroupilha: trecho entre o Shopping Iguatemi e próximo ao bairro Forqueta.
– Na ERS-122, em direção a Flores da Cunha: pontos próximos aos bairros Santa Fé, Pedancino e Vila Maestra, além da entrada para a Linha 40.