A crise econômica não poupou o Ensino Superior brasileiro. Um indicativo disso foi o resultado do Censo da Educação Superior, divulgado na manhã de ontem. Segundo esse estudo, a queda no ingresso de novos alunos nas faculdades do país no ano passado foi de 6,1%, em relação a 2014. Trata-se da queda mais acentuada de um ano para o seguinte desde 2009 (11% a menos do que o ano anterior.) Considerando apenas a rede privada, esse número é ainda mais preocupante: 6,9%. Em Caxias do Sul, as principais instituições confirmam a dificuldade em atrair novos estudantes. Quem não teve queda no ingresso, teve crescimento menor do que em períodos anteriores.
Na Uniftec Centro Universitário, houve redução de 9,68% no número de matrículas entre todo 2015 e 2016 em Caxias do Sul, envolvendo tanto ingresso de novos estudantes quanto o de alunos antigos. A queda é um pouco mais acentuada do que a registrada em todas as unidades do grupo espalhadas pelo estado, que é de 8,66%. De acordo com o diretor corporativo da Uniftec, Altair Ruzzarin, esse resultado tem a ver com o perfil do estudante de Caxias do Sul, que normalmente paga os estudos com o próprio trabalho _ e por isso tem sido diretamente afetado pela crise.
_ Nosso estudante muitas vezes tem outras despesas como financiamento de um carro ou de uma casa, por exemplo, que são despesas que ele não tem como interromper e retomar mais adiante. A faculdade permite que ele tranque a matrícula e volte quando a situação melhorar _ considera o diretor.
No Centro Universitário da Serra Gaúcha (FSG), o vice-reitor Fábio Dall Alba destaca que a oferta de novos cursos no último ano favoreceu para que a instituição registrasse crescimento no ingresso de novos alunos, embora de forma mais acanhada do que nos últimos anos. Dall Alba reconhece a dificuldade para captar alunos.
_ É o reflexo de um cenário econômico desfavorável. As pessoas são aprovadas no vestibular, chegam com vontade de estudar, e depois não conseguem fazer a matrícula por falta de recursos ou dificuldade em conseguir um financiamento. Mas para 2017, projetando que a economia irá melhorar, temos expectativa de crescer mais _ avalia Dall Alba.
Procurada pela reportagem do Pioneiro, a Universidade de Caxias do Sul (UCS) não se manifestou.
Atraso no repasse do Fies também atrapalha
Além da difícil tarefa de manter o quadro de alunos, as universidades também têm lidado com os frequentes atrasos no repasse dos recursos do Fundo de Financiamento Estudantil (Fies) pelo governo federal. As instituições estão sem receber essa verba desde julho, o que em todo o país representa uma dívida superior a R$ 1 bilhão. Se o pagamento não for efetuado, os alunos beneficiados podem ter a abertura de matrícula para o próximo semestre cancelada, como já antecipou o Consórcio das Universidades Comunitárias Gaúchas (Comung). No Rio Grande do Sul, 45 mil alunos recebem o Fies.
Entre as instituições que responderam à consulta do Pioneiro, a Ftec tem 20% de seus estudantes atendidos pelo programa federal. Na FSG, o percentual não é revelado. Ambas assumem a posição de que o atraso é incômodo, porém não compromete as operações.