Manter criminosos na cadeia com leis mais rigorosas, unificar a Polícia Civil e a Brigada Militar e estimular pesquisas científicas sobre a violência para buscar soluções foram alguns dos temas debatidos no Painel Segurança Já da RBS Caxias, transmitido ao vivo pela Rádio Gaúcha Serra na tarde de sexta-feira.
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Mediado pelos jornalistas Diego Mandarino, Jean Prado e Adriano Duarte, a mesa teve a participação do chefe do Comando Regional de Policiamento Ostensivo da Serra (CRPO/Serra), coronel Antônio Osmar da Silva, do delegado Marcelo Grolli, adjunto da Delegacia Regional de Polícia Civil, do juiz João Paulo Bernstein, da 4ª Vara Criminal, e do professor Charles Kieling, historiador formado pela Universidade de Caxias do Sul (UCS) e especializado em Ciências Sociais na área de segurança pública pela Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul (PUCRS).
A discussão se faz necessária. Números da Secretaria de Segurança Pública apontam um crescimento da violência em diversas cidades da Serra. Somente em Caxias do Sul, a cada 40 minutos, em média, um crime é registrado pela polícia. São assassinatos, assaltos no comércio, a pedestre, roubos de veículos e furtos variados. Somente no primeiro semestre deste ano, foram seis mil delitos. O tamanho da violência também pode ser medido pelo histórico dos últimos anos: 55 mil casos de violência entre os anos de 2011 e 2015. Ou seja, a cidade registra 33 casos todos os dias. É quase três vezes mais do que se registrava na década passada, quando 13 casos eram comunicados diariamente à polícia.
Confira algumas opiniões das autoridades convidadas:
Sobre os números da violência
– Nós trabalhamos na dinâmica da criminalidade e não comemoramos baixas de índices, pois trabalhamos, sobretudo, com vidas. Os números estão aí, então, cabe a nós utilizar a dinâmica e tomarmos providências, como já estamos fazendo, para garantir segurança e preservar a ordem pública.
Coronel Antônio Osmar da Silva
– As estatísticas estão aí. A situação é grave, mas não é de agora. Temos que ter um pensamento em garantir segurança sempre, mas é preciso mudar o sistema. Quando se fala em Segurança Já, temos que avaliar algumas questões. Hoje, nós trabalhamos com 800 homens a menos do que em 1985. Enfrentamos a questão salarial, com policiais desmotivados. E, temos um ponto que considero muito importante: onde vamos colocar os presos? De nada adiantaria termos um bom efetivo policial se não temos onde colocar o apenado. É preciso encontrar alternativas para mudar esta situação.
Delegado Marcelo Grolli
– Nós precisamos refletir os últimos anos. Temos números do Conselho Nacional que apontam que nos últimos 10 anos a população carcerária aumentou muito. As instituições não estão paradas. O judiciário esta prendendo. Mas, o atual cenário da segurança, criou esse colapso. Esse aumento de prisões conflita com o aumento da criminalidade. Mais que dobramos o número de prisões. Se prendemos mais, o correto seria diminuir a criminalidade. Porém não é isso que os números apontam. O sistema carcerário precisa mudar. Tem mudar as condições dos presídios. Tem que ter qualidade. O aumento da criminalidade é reflexo sobre a má qualidade do sistema carcerário. Nós prendemos muito, mas prendemos mal. Prendemos várias vezes a mesma pessoa. O semiaberto hoje é como se o preso estivesse em liberdade. Ele está na sociedade e não há nenhuma fiscalização efetiva. Nós todos estamos abaixo de um império das leis.
Juiz João Paulo Bernstein
– O Brasil precisa de mais ciência. Temos que trabalhar as variáveis e os métodos. Isso não está sendo feito. Quais são as causas que dinamizam a segurança?Não existe um órgão que dignifique os estudos sobre segurança. No Brasil ainda não temos essa cultura de abordar a ciência, de refletir. Cabe ainda pensar: quais o métodos que iremos aplicar para fazermos um diagnóstico. Qual variável será competente para aquele determinado órgão de segurança.
Professor Charles Kieling
Policiamento
– É óbvio que se tivermos mais efetivo, vamos ter mais presos. Mas, é preciso saber que se o crime migra de um lugar para outro, o empenho policial também irá migrar. A população tem toda a razão em cobrar e nós estamos fazendo o nosso trabalho.
Coronel Osmar
Unificação das polícias
– Uma ideia seria a unificação das nossas instituições. Polícia Civil e Brigada Militar são duas instituições que querem a mesma coisa e precisam trabalhar juntas. Hoje, por exemplo, a BM produz muito material que a Civil não tem. Uma deveria contribuir com a outra.
Delegado Grolli
– Para se ter uma polícia única é preciso combater o corporativismo. No momento, a unificação esta fora do nosso alcance, pois sempre baterá no corporativismo. O que defendo é um ciclo de polícia para as instituições.
Coronel Osmar