Segundo a Inspetoria de Defesa Agropecuária, Caxias do Sul conta com um rebanho bovino de aproximadamente 42,5 mil cabeças, distribuídas em cerca de 5 mil propriedades. Boa parte destes agricultores não têm segurança privada ou equipamentos que possam coibir a ação dos bandidos.
– É obrigação do Estado dar segurança, mas é preciso ter uma contrapartida dos proprietários. Muitos casos de abigeato não se têm provas para que possamos investigar. É preciso realizar uma fiscalização mais efetiva nas estradas, ter uma lei mais severa para quem comete o abigeato e mais investimento em segurança preventiva, também por parte dos proprietários. Só assim, talvez, conseguiríamos coibir a prática do crime – afirma o delegado Guilherme Gerhardt.
A fiscalização esbarra na burocracia enfrentada para realizar as prisões em flagrante. A Patram, por exemplo, atua na região de São Francisco de Paula, mas é obrigada a levar suspeitos para o município de Taquara.
– Nós fazemos patrulhamentos, mas como os criminosos atuam durante a madrugada, fica muito difícil realizarmos alguma prisão. Costumamos ter mais sucesso é na realização de barreiras na estrada. Porém, enfrentamos uma grande dificuldade na apresentação do flagrante. Por exemplo, se conseguimos prender algum criminoso, temos que apresentar ele na delegacia de Taquara_ distante cerca de 120 km. A corporação perde horas fazendo esse trajeto e é totalmente inviável. Isso nos desmotiva – lamenta o sargento Paulo César Rodrigues dos Santos.
O QUE DIZ A LEI
Em agosto, foi aprovado o projeto que torna mais grave a pena em casos de abigeato. Antes, o crime era considerado furto simples (um ano de prisão). Agora, quem for condenado pelo furto de gado pode ter pena que varia de dois a cinco anos de detenção. Com a mudança, a punição não atinge apenas quem furta o animal, mas também quem comercializa as carnes do abate.
Entretanto, o delegado de Caxias do Sul acredita que pouco irá mudar.
– A pena mínima mudou de um para dois anos de prisão. Como raramente se tem provas do crime, é difícil manter o criminoso na cadeia. A investigação também é prejudicada por falta de denúncias e, até mesmo, do registro de ocorrência. As vítimas têm medo e acabam não registrando, mas isso faz com que o crime seja transformado em algo sem importância diante da Justiça – afirma Guilherme Gerhardt.
Utilizar arma fora da propriedade é crime
Moradores de áreas rurais convivem diariamente com a insegurança. Para proteger as propriedades, já que são desprovidos de uma segurança efetiva por parte do Estado, muitos fazem o uso de armas de fogo. No meio rural, o porte de armas só é liberado para maiores de 25 anos que comprovem a necessidade de proteção a subsistência alimentar familiar, mediante atestado de bons antecedentes e comprovante de domicílio. O uso fora da área da propriedade é crime.
Segundo a delegada de São Francisco de Paula, Fernanda Aranha, utilizar uma arma de fogo pode ser muito mais perigoso do que se pensa.
– Os criminosos nunca agem sozinhos. São sempre quatro ou mais. Enquanto uns realizam o furto ou carneiam o animal, outros ficam de olho em qualquer movimentação. Eles não têm nada para perder e daí, pode ser mais perigoso _ alerta ela.
O comandante da Patram, sargento Paulo César Rodrigues dos Santos, reforça a orientação. Para ele, agir impulsionado pela emoção, poder se transformar em tragédia.
– Manusear uma arma não é tão fácil como muitos pensam, ainda mais se ela for utilizada como forma de proteção. Por isso, recomendamos a utilização apenas se a pessoa tiver condições psicológicas e físicas de se proteger mediante o uso da arma.
Denúncias por WhatsApp
Para tentar coibir o abigeato, a Polícia Civil de São Francisco de Paula, uma das regiões mais afetadas por este tipo de crime, disponibilizou um telefone celular para receber denúncias anônimas. Qualquer informação pode ser repassada para pelo aplicativo WhatsApp, através do número 54 9712.6397.
PREVINA-SE
- Confira os rebanhos e cercas periodicamente, para apurar se não há ação de abigeatários.- Deixe o gado em invernadas próximas à sede da propriedade.
- Ter cães ajuda a identificar a presença de estranhos.
- Quando for viajar, deixe alguém de confiança cuidando da propriedade.
- Antes de admitir um funcionários, colha o máximo de informações possível.
- Detectando a falta de animais, confira se há cercas caídas e se os animais não estão nas propriedades vizinhas.
- Desconfie se pessoas desconhecidas circularem a pé nos arredores da propriedade. Você deve ficar atento também à presença de cavaleiros em lugares desertos, principalmente à noite.
- Fique atento a caminhões, carros, motos e bicicletas transitando em ritmo lento em áreas onde há registro de abigeato.
- Constatando o furto de gado, procure imediatamente a polícia e forneça todos os detalhes do gado: idade dos animais, raça, pelagem. É por meio do boletim de ocorrência que a polícia poderá mapear as regiões e saber a dimensão do abigeato.
- Só compre gado com nota fiscal e Guia de Trânsito Animal (GTA).
- Não empreste os talões de produtores para terceiros fazerem movimentações de gado.
- Desconfie se o preço do gado estiver abaixo do mercado, mesmo com nota fiscal e GTA.