Agricultores do interior de Caxias do Sul e de outros municípios da Serra estão assustados com a frequência de casos de abigeato (furto de gado). Somente no final de semana passado, ao menos três propriedades de Vila Seca foram alvos de criminosos. No total, sete animais foram furtados. Em Vacaria, conforme informações da Polícia Civil, uma média de nove ocorrências por mês são registradas na cidade. No interior de São Francisco de Paula, até julho deste ano, 30 casos foram denunciados à polícia.
Dados da Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Sul apontam que o crime de abigeato cresceu. De 2011 a 2014, o Estado teve, em média, cerca de sete mil ocorrências por ano. Em 2015, foram mais de nove mil casos.
– As propriedades mais prejudicadas são as que ficam próximas à beira de estradas, como a BR-116 e a BR-285, que facilita a fuga dos criminosos. A maioria dos furtos de gado acontecem no período da noite. Antes de efetivar a ação, os abigeatários (como são chamados quem pratica esse tipo de crime) investigam o local e, normalmente, possuem conhecimento no manejo dos animais – conta o delegado da região de Vacaria, Carlos Alberto Defaveri.
O comandante da Patrulha Ambiental (Patram), sargento Paulo César Rodrigues dos Santos, afirma que, na região de Caxias do Sul, propriedades próximas ao Apanhador e ao município de Décio Ramos são as preferidas dos ladrões.
– O abigeato é difícil de combater. Os locais escolhidos possuem mata para que os criminosos possam se esconder, pouca iluminação e lugares que facilitam a fuga. Apesar de realizarmos fiscalizações contínuas, é complicado identificá-los e, principalmente, prendê-los – explica Santos.
De acordo com o delegado Guilherme Gerhardt, do 3° Distrito Policial de Caxias, ainda é difícil comprovar o destino dos animais furtados, mas existem três caminhos mais evidentes.
– Os animais que são abatidos dentro das propriedades servem para o consumo próprio e também para abastecer pequenos comércios. Já quando o furto envolve vacas leiteiras e maior quantidade de animais, o destino é a venda ilegal. Os abigeatários deixam os animais em alguma outra propriedade até que possam transportá-los sem levantar suspeitas. Depois, são levados para municípios distantes. Já tivemos animais furtados em Caxias que foram transportados para Uruguaiana.
Em Vacaria, segundo o delegado Defaveri, os criminosos são audaciosos. Eles vendem a carne "de porta em porta".
– Eles separam 100 ou 200 quilos e passam vender em bairros da cidade. Se o abigeato cresceu, muito se deve pelo fato de ter consumidores que não verificam a procedência do alimento. É preciso denunciar e não contribuir com o crime.
"Estamos com medo. Ficamos a noite toda sem fechar os olhos"
Um prejuízo de R$ 20 mil e muita preocupação foi o saldo deixado por criminosos que furtaram cinco vacas holandesas e um touro devon de uma propriedade no interior de Vila Seca, distrito de Caxias do Sul. O crime aconteceu na madrugada da sexta-feira, 2 de setembro. Conforme relatos dos moradores, que preferem não se identificar, movimentações estranhas foram percebidas à noite: o cachorro latiu, mas ninguém desconfiou que este seria um indício de ladrões no sítio. O furto só foi percebido na manhã seguinte.
– A nossa vida depende do que produzimos no campo. Trabalhamos dia e noite para garantir o sustento da nossa família e, de uma hora para outra, levam o nosso ganha-pão. É claro que agora estamos mais atentos, mas até passar, isso nos deixa com medo. Dormir não está sendo fácil e qualquer barulho já chama a nossa atenção. Além de perdermos as nossas vacas leiteiras, ainda precisamos achar uma forma de cuidar dos bezerros, que não param de gritar. É uma situação muito difícil – desabafa a proprietária.
Na noite seguinte, outra propriedade foi atacada na mesma comunidade. Uma vaca foi furtada após criminosos cortarem a cerca. Segundo a proprietária Sueli Miguelina de Castilhos, 55 anos, a frequência dos furtos tem assustado.
– Aqui em casa estamos com medo. Ficamos à noite toda sem fechar os olhos. Há quatros anos eles (os abigeatários) carnearam um animal dentro do terreno. Deixaram só a carcaça. Agora, furtaram a vaca. Não sei como podemos nos proteger, parece que nada assusta os bandidos – conta ela.