Um grupo de cerca de 80 pessoas se reuniu na tarde deste domingo, em Caxias do Sul, para um ato de protesto contra a atual diretoria da Soama, ONG que atua na defesa dos animais, e a renovação do contrato da prefeitura com a entidade, sem promover eleição imediata para nova diretoria. Os manifestantes acusam os responsáveis pela Soama de maus-tratos e negligência, diante de recorrentes casos de animais doentes que têm surgido na chácara nos últimos meses. A caminhada iniciou por volta de 15h45min, saindo da praça Dante Alighieri e seguindo pela Júlio de Castilhos até a Praça do Trem, onde ocorria um evento de food trucks.
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O protesto foi pacífico e reuniu membros de entidades ligadas à defesa dos animais, além de populares que ficaram sabendo do ato através da divulgação pelo Facebook. Algumas pessoas levaram seus cães para a passeata. Uma das líderes do protesto é a bancária Audrei Siqueira, 37 anos, que há 12 anos é voluntária da Soama, mas desde junho está afastada da chácara, com acesso negado por ter se envolvido nas denúncias recentes.
– Desde que o contrato da prefeitura com a Soama estava para ser renovado, nós pedimos que fossem incluídas algumas cláusulas, como o afastamento do diretor-técnico e da atual diretoria, com licitação para escolha da nova direção, e a permanência dos funcionários, que são os responsáveis pelas denúncias de maus-tratos. Nosso protesto é contra a forma como foi feita a renovação, sem levar em conta a documentação entregue pelos vereadores, que alertava, entre diversos problemas, para o descaso da atual diretoria, que é conivente com o sofrimento que os animais têm passado – afirma Audrei.
De acordo com a também voluntária da Soama Cláudia Tormes, 29, que assumiu a frente da manifestação ao lado de Audrei, a única boa notícia para os animais com a renovação do contrato é a ampliação dos canis, que será feita a partir da próxima semana pela prefeitura. Contudo, ela destaca que os voluntários já tinham apresentado projeto semelhante à Secretaria do Meio Ambiente, que não envolveria gasto de dinheiro público.
– A gente não deixa de agradecer pela construção dos canis, pois os animais vão sair ganhando com isso. Mas trata-se de um projeto que os voluntários já tinham apresentado à prefeitura e se disponibilizado a fazer com dinheiro de doações, sem envolver verba pública. Mas o secretário (Adivandro Rech, do Meio Ambiente) negou e disse que a prefeitura iria fazer – pontua.
O contrato entre a prefeitura de Caxias e a Soama foi renovado por seis meses, para vigorar até fevereiro de 2017. O valor repassado mensalmente pelo poder público para manter os mais de mil animais na chácara, de R$ 58.820,06, será mantido. A parceria, porém, traz exigências por parte da prefeitura: a prestação de contas de todos os valores recebidos pela ONG e adequações no plano de trabalho, como alterações quanto aos critérios de adoções e presença de voluntários na entidade. Apenas no ano que vem deve ocorrer a licitação para que outros interessados em administrar a Soama possam oferecer proposta.
Contraponto
Em nota divulgada na página da Soama no Facebook, a diretoria rebateu as críticas que vem recebendo nos últimos meses. A nota destaca que órgãos como o Ministério Público e a Vigilância Ambiental estiveram na chácara e não constataram ocorrência de maus-tratos, e questiona o conhecimento técnico dos vereadores que vistoriaram a ONG e apontaram irregularidades. A diretoria também acusa o Movimento Gaúcho de Defesa Animal (MGDA), que entrou com ação civil pública contra a entidade, de cyberbulling, por usar a rede social para espalhar denúncias sem provas.
"Se toda as denúncias fossem verdadeiras, já que há tantas 'provas', a Soama já teria sido interditada, fechada e a diretoria afastada. Mas nada disso aconteceu. O processo na justiça de denúncia por maus-tratos do MGDA corre lentamente, mas a liminar de urgência pedindo afastamento imediato da atual diretoria foi indeferida duas vezes pelo mérito, nenhum juiz viu provas suficientes ou que justificassem o afastamento", diz um trecho da publicação.