Uma parceria entre a Universidade do Vale do Itajaí (Univali), de Santa Catarina, e a Associação dos Pais e Amigos dos Deficientes Visuais (Apadev), de Caxias do Sul, permitirá que cinco cegos da cidade experimentem bengalas eletrônicas que vibram e apitam diante de obstáculos.
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Na segunda-feira, o professor Alejandro Garcia Ramirez, responsável pelo projeto pioneiro no Brasil, esteve na Apadev para explicar o funcionamento e entregar as bengalas aos beneficiados.
Com hastes dobráveis e funcionamento a bateria, que pode durar até um mês sem precisar recarregar, a bengala eletrônica é fácil de usar, conforme os cegos atendidos pela Apadev puderam experimentar com a supervisão da professora de Orientação e Mobilidade da associação, Daniela Spader. Só é preciso respeitar a forma de segurar, pois o sensor precisa estar voltado para a frente para captar obstáculos como lixeiras, galhos de árvore, placas ou orelhões.
Protótipo surgiu em 2006
Pesquisador das engenharias Mecânica e da Computação, Ramirez trabalha no projeto desde 2002, quando participou de um congresso de integração de cegos e percebeu que obstáculos acima da cintura, especialmente no cenário urbano, são uma das maiores dificuldades. O primeiro protótipo foi elaborado em 2006. Desde então, o professor tem experimentado parcerias com entidades de Santa Catarina, São Paulo e, agora, Caxias do Sul, que tem na Apedev uma referência internacional em relação ao trabalho em favor dos cegos.
De acordo com Ramirez, a bengala ainda carece do investimento de empresas interessadas em explorá-la comercialmente.
– A bengala está pronta desde 2010. De lá para cá, estamos reproduzindo em nível de pesquisa, que é a proposta da universidade. O número de usuários tem aumentado, mas ainda não é um processo produtivo de fato. Sabemos que é uma situação complicada no país, porque há incentivos federais para a compra, como dedução de impostos para deficientes, mas não para a produção – diz o pesquisador.
Ainda de acordo com Ramirez, no mercado uma bengala eletrônica custaria em torno de R$ 700. Produzida em menor escala e sem fins comerciais, o custo fica em torno de R$ 2 mil por unidade.
Como funciona:
- Por dentro da parte superior da bengala, um sistema de computador formado por motor, processador e sensor (semelhante ao sensor de estacionamento dos carros) detecta a presença de obstáculos a 1,5 metro de distância.
- Quando a barreira é detectada pelo sensor, à altura da ponta dos dedos, é emitido um apito, e ocorre uma vibração semelhante à dos celulares.
Novidade aprovada
Como parte do experimento, os cinco cegos de Caxias ganharam as bengalas. Contudo, irão repassar aos professores informações sobre possíveis problemas de adaptação, que irão chegar até o pesquisador. Um dos contemplados, André Boone, 23, morador de Nova Petrópolis, considera que, além de ser útil em caminhadas na rua, o sensor da bengala também ajudará a fazer com que ele não a perca tão facilmente.
– Às vezes eu vou ao banheiro e esqueço onde deixei a bengala. Deixando o sensor ligado, pelo sinal sonoro posso saber onde ela está – diz o jovem.
Para o aposentado Eneu de Oliveira, 52, o auxílio da tecnologia servirá principalmente para proteger os cegos dos mal-educados.
– Além das ruas terem muitas placas onde a gente pode bater e se machucar, às vezes a gente está atravessando a rua e os motoristas cortam a nossa frente. Todo dia é um perigo. Com essa bengala, é só acostumar que vai ser bem legal – destaca Eneu, que há cerca de um mês foi assaltado em uma parada de ônibus e teve roubada a sua bengala convencional e também os óculos escuros.