Uma mudança que era para ter sido discutida com a comunidade já está sendo executada nos bairros sem aviso prévio. Paradas de ônibus estão sendo retiradas com a prerrogativa de reduzir o tempo de viagem dos coletivos e tornar o sistema mais eficiente. Esse tipo de medida já ocorria antes, mas ganhou impulso a partir da implantação do SIM Caxias há pouco mais de um mês. Moradores, no entanto, não estão aprovando as mudanças, já que precisam caminhar mais para poder ter acesso ao transporte coletivo. Presidentes de bairros reclamam da falta de debate e moradores destacam o outro dilema da retirada dos pontos de embarque e desembarque: a falta de segurança.
No final de março, o Pioneiro publicou uma reportagem sobre a intenção da prefeitura e da Visate de reduzir paradas e itinerários nos bairros. Na oportunidade, o caso foi tratado como uma discussão a ser aberta com a comunidade. O secretário municipal de Trânsito, Transportes e Mobilidade, Manoel Marrachinho, afirmou que a mudança não seria uma ação a curto prazo. Embora não tenha havido grandes alterações em relação aos itinerários, a remoção das paradas ocorre trazendo transtornos.
O diretor de Transportes da secretaria, Gervásio Longui, confirma a retirada mas não informa o número total de remoções. Segundo ele, são 4 mil pontos de ônibus nos bairros, o que tornaria o sistema mais lento. Foram readequados pontos de comunidades do Leste e Oeste atendidas pelo SIM onde houve alteração no itinerário e o ônibus deixou de passar. Em outros casos, a decisão foi tomada por meio de uma avaliação que apontou pontos muito próximos, distantes cerca de 50 metros.
_ O ideal seria cerca de 300 metros entre uma parada e outra. Nem sempre é possível, já que Caxias é uma cidade com relevo muito acidentado, por isso precisamos ter mais cuidado. Mas se existem muitas paradas, o ônibus não anda _ afirma Longui.
A reportagem apurou que foram alterados paradas nas comunidades União, Cidade Industrial, Jardim da Lagoa e Fátima, Vila Leon, Belvedere e Rubiano. A única mudança que estaria concluída é a do Jardim da Lagoa. Pontos de outras linhas ainda podem sofrer mais alterações.
Sobre a participação das comunidades, Longui afirma que foram realizados encontros em alguns bairros, mas a espera para convocar assembleias e a tomada de decisões leva muito tempo.
_ Procuramos fazer o mais transparente possível, mas é uma questão difícil, pois lida com a cultura das pessoas, que estão acostumadas a pegar ônibus naquele local há anos. Se formos perguntar se a comunidade quer tirar a parada, não tiraríamos nenhuma _ conclui o diretor.
Distância e falta de segurança
Citada pelos líderes comunitários, a falta de segurança é uma das principais preocupações em relação a paradas mais distantes.
– Temos um problema grave de segurança pública, mas não há como resolvê-lo com o transporte público – afirma Longui.
No Cidade Industrial, a linha seguia por dois sentidos dentro do bairro. Com as alterações após a implantação do SIM, o ônibus passou a circular apenas em um sentido. Com isso, as paradas que ficaram em desuso foram removidas.
– A parada da Rua José Constante Lazzari estava podre e disseram que fariam a substituição, mas isso não aconteceu. Ela fica a cerca de 50 metros de outra parada, então entendemos que deve ter a readequação das distâncias, mas não a retirada. Agora ficou 300 metros longe uma da outra. Ficou ruim para uma parte dos moradores, tem muitos jovens que estudam à noite e não se sentem seguros de ter que percorrer este trajeto a pé – explica o presidente do bairro, Hugo Trindade da Silva.
A situação é semelhante para os moradores do loteamento Rubiano, próximo ao bairro Bela Vista. Conforme a presidente do bairro, Ana Maria Caberlon Gateli, há cerca de um mês foram retiradas duas paradas na Avenida França, próximo à esquina da Rua Celeste Camilo, que ficavam mais acessíveis aos moradores das três ruas que compõem o loteamento.
– Essas paradas são estratégicas para nós, pois muitas pessoas utilizam. São três ruas, mas bastante extensas, tem pessoas que precisam caminhar até oito quadras para chegar a uma parada. Imagina em dia de chuva a situação das mães com criança no colo – exemplifica Ana, que participou de uma reunião com representantes da Secretaria de Trânsito na terça-feira, e foi solicitado um prazo de 30 dias aos moradores para que seja feita a avaliação do itinerário.
EXEMPLOS
Bairro União: uma parada retirada
_ Nesta semana a prefeitura retirou uma parada na Rua Josephino Moreira, na descida de um morro. A parada da subida já havia sido retirada há anos porque os ônibus tinham dificuldade para arrancar. No entanto, a remoção no sentido contrário deixou dúvidas entre os moradores, especialmente entre os que precisam subir o morro a pé. Ficou complicado pois tem muitas pessoas que pegam ônibus ali. Agora é preciso caminhar cerca de 500 metros para chegar a outra parada. A comunidade sugeriu colocar em outro local, mas disseram que iriam analisar e não tivemos retorno.
(José Laerte Nunes de Lima, presidente do bairro)
Loteamento Vila Leon: quatro paradas retiradas (duas foram recolocadas após apelo da comunidade)
_ Antes tínhamos a opção de utilizar as linhas dos ônibus Vila Leon e Cruzeiro. Deixaram somente o trajeto do Leon/Cruzeiro e assim já ficou um pessoal desassistido. Além disso, foram retiradas as paradas da Rua Marselia (recolocada nessa semana em um ponto próximo, na Rua Guilherme Franzoi), da Rua Rosana Prezzi Battisti, da Av. França e também uma na esquina das ruas Luiz Pasteur e Carlos Borges (recolocada no mesmo local). Ficou mais longe, principalmente para quem mora no Recanto dos Pássaros, são cerca de 60 pessoas, já foi feito até um abaixo-assinado. A prefeitura justificou que as paradas eram muito próximas e que o ônibus demoraria mais, mas acho que deveriam ter conversado com os moradores antes de fazer as alterações. Na terça participamos de uma reunião e eles vão avaliar a recolocação de mais uma das paradas.
(Dalva Pereira, presidente do bairro)
Loteamento Belvedere: Uma parada retirada e alteração de itinerário
_ Retiraram a parada de um lado da rua de entrada do bairro há cerca de um ano. Ficamos quatro meses sem ônibus dentro do bairro. A outra parada fica na rua de trás, mas para chegar lá é preciso caminhar cerca de 800 metros. Os moradores estão revoltados. Foi protocolado um pedido na prefeitura para que coloquem de volta, mas até agora não tivemos retorno. Também houve alteração no itinerário, era uma linha que existia há cerca de 20 anos, ligaram o nosso ônibus ao do Campos da Serra. Agora, na Rua Porto Belo, por exemplo, não tem mais ônibus e são cerca de três paradas em desuso, cobertas de mato.
(Alaor Correa Barbosa, presidente do bairro)
Bairro Fátima: Duas paradas retiradas há 8 meses e alteração da linha
Foram retiradas duas paradas e uma delas já foi recolocada. Mudaram a linha para atender a Escola Técnica, que é uma necessidade nossa, mas esqueceram dos moradores que utilizam o ônibus há anos. Gostaríamos que essas coisas fossem feitas por meio do diálogo. A outra parada que não conseguimos de volta fica na Rua João Meneguzzi, mas continuamos buscando a reposição. É um ponto importante porque um canto do bairro ficou desatendido, alguns moradores precisam caminhar cerca de cinco quadras a mais para chegar a uma parada.
(Jucemar Alves, presidente do bairro)