A implantação do Sistema Integrado de Mobilidade (SIM Caxias) completa hoje três semanas. Embora muitos usuários do transporte coletivo em Caxias do Sul reconheçam que a novidade trouxe benefícios, muitos descobriram dificuldades extras a partir do início da operação, no dia 16 de abril.
Entre eles estão a mudança nas paradas das ruas Pinheiro Machado e Sinimbu, onde os pontos de espera da linha Troncal são intercalados com os de linhas Alimentadoras. Com essa alteração nos itinerários, passageiros estão tendo de caminhar mais para chegar às paradas ou aos seus destinos. Atrasos e ônibus cheios também permanecem na lista de melhorias cobradas pela população.
A agente administrativa Vanessa Zanardi Borges Munari tem dificuldade para caminhar por ter sofrido uma paralisia cerebral. Moradora do bairro Cruzeiro, durante 10 anos ela utilizou o transporte coletivo para se deslocar até a prefeitura, onde trabalha. Com o SIM, ao invés de descer na Rua Os 18 do Forte e caminhar cerca de uma quadra até o trabalho, ela agora precisaria desembarcar na Pinheiro Machado, na altura da Andrade Neves, ou nas paradas do Ópera e caminhar cerca de seis quadras.
– Já era complicado andar da Os Dezoito do Forte até a prefeitura. Quem fez isso esqueceu que tem pessoas com dificuldades em andar, seja deficiente ou idoso. Querem que venhamos trabalhar apenas de carro? – questiona a mulher, que precisou trocar o transporte coletivo pelo veículo particular.
Passageiros também relatam maior tempo de viagem para chegar ao Centro em linhas como Bela Vista e Cruzeiro. A fotógrafa Chayenne Tessari, por exemplo, conta que agora leva mais tempo e precisa caminhar mais para chegar ao trabalho.
– Moro no bairro Bela Vista e trabalho no Centro. Eu levava 10 minutos para chegar ao trabalho, agora demoro muito mais. Além disso, antes eu descia na rua Os 18 do Forte, agora tenho que descer na Pinheiro e andar o dobro de quadras – reclama, acrescentando ter passado a usar a lotação (azulzinho) que, segundo ela, é mais rápida, confortável, mais barata e para mais próximo ao local de trabalho.
A viagem também ficou mais demorada para a comerciária Cristina Rodrigues, 46, que mora no bairro Cruzeiro. Ela conta que levava no máximo 25 minutos para sair da parada da Praça da Bandeira e seguir até a terceira parada do bairro. Após o SIM, a mesma viagem leva, em média, 50 minutos.
– Passam uns três ônibus quase juntos, demoram demais e, quando chegam na estação, é uma loucura. Os ônibus dos bairros saem lotados – afirma.
Menos opções, maior tempo de espera e mais insegurança
Thais Camargo, 27, é analista de negócios e trabalha próximo à Casa de Pedra. Ela vai de van até o Centro, onde embarca em um ônibus para ir para casa, por volta das 22h. Antes do início do SIM Caxias, ela tinha a opção de pegar as linhas Castelo, Ana Rech/Salgado Filho ou Serrano.
Assim, não era necessário aguardar tanto tempo na parada. Agora, o Ana Rech só para no ponto da Catedral, junto com as linhas Troncais, e o Castelo no Eberle, uma quadra adiante, na parada das linhas alimentadoras, o que faz com que ela precise optar por uma das linhas e torcer para que o ônibus passe logo.
– Durante o dia é tranquilo, às vezes precisa caminhar um pouco mais para ir até a parada, mas não é um problema. O difícil é à noite, pois não é seguro ficar sozinha esperando na parada tão tarde. Acredito que após certo horário, os ônibus poderiam parar em todas as paradas, isso ajudaria muito – sugere.
Em situação semelhante, está a secretária executiva Bruna Pistore, 24, que depende do transporte coletivo para ir ao trabalho. Antes do SIM, a linha Tijuca/Nossa Senhora da Paz passava em frente à casa dela, no bairro Cinquentenário. Além dessa linha, ela tinha a possibilidade de pegar os ônibus Forqueta, Desvio Rizzo, e Santa Tereza, que paravam em uma rua paralela à dela.
Como terceira opção, tinha ainda o ônibus Cinquentenário ou as Coletoras Norte e Sul, que passavam na Avenida Júlio. Após a implantação do SIM, a linha Tijuca passa apenas três vezes ao dia na rua onde Bruna mora, e em horários que não atendem à demanda dela. Forqueta, Desvio Rizzo e Santa Tereza não circulam mais no Centro (só vão até à EPI) e a linha Cinquentenário teve o itinerário alterado.
– Para ir até o trabalho, eu espero o Cinquentenário na Júlio, mas o problema maior é que ficou mais perigoso para voltar para casa, pois já é noite. O ônibus da linha Troncal não para na parada que seria mais próxima à minha casa, preciso andar quatro quadras para chegar em casa e passar pelo viaduto da Júlio, que é um local extremamente perigoso. Minha única alternativa tem sido esperar uma coletora Norte ou Sul, que nunca têm horários fixos e me deixam esperando em torno de 40 minutos na parada do centro – reclama.
Bruna diz ter entrado em contato com a Secretaria de Trânsito para questionar sobre a mudança na linha Tijuca, e teria recebido a resposta de que deveria buscar outras linhas e caminhar mais.
– Querem obrigar as pessoas a utilizar transporte público dificultando inclusive pra quem utiliza carro, mas isso não vai funcionar, só faz com que as pessoas queiram comprar seus carros próprios, como é meu caso. Ao menos ficarei presa no trânsito, mas com segurança dentro de um carro e não na parada, como é a nova proposta do Prefeito – desabafa a jovem.