Encerra nesta semana a primeira fase do estudo que está mapeando as áreas de risco geológico de Bento Gonçalves. Na sexta-feira (8), os quatro técnicos do Serviço Brasileiro de Geologia (SBG) que atuam na cidade retornam para Porto Alegre, levando consigo informações iniciais sobre os impactos da chuva de maio. O estudo começou em 24 de outubro.
Por duas semanas, a equipe analisou áreas da zona urbana e interior que apresentavam risco de sofrer deslizamentos em novos episódios de chuva intensa. Além de documentar as áreas afetadas, a análise do SGB indicará ações preventivas que a prefeitura pode adotar.
— Em uma encosta com área de alto risco, por exemplo, a equipe vai dimensionar qual o tipo de obra de contenção é necessária e indicar o custo para realizá-la. Estamos começando esse mapeamento que vai percorrer todo o município. Até o fim de 2025 teremos um relatório com todas as áreas e medidas necessárias — explica o chefe do Departamento de Gestão Territorial do Serviço Geológico Brasileiro, Diogo Rodrigues.
O documento final irá embasar o Plano Municipal de Redução de Riscos (PMRR), projeto da Secretaria Nacional de Periferias do Ministério das Cidades, que auxilia municípios a planejarem ações que minimizem os impactos de eventos climáticos.
Além dessa vinda à Bento Gonçalves, outras três saídas à campo estão previstas para janeiro, fevereiro e maio do ano que vem, completando a coleta de informações em campo necessárias para elaborar o PMRR. No intervalo das visitas, os geólogos irão analisar os dados colhidos.
— Todas as informações coletadas são interpretadas no escritório. Essa ação é importante até para observar em quais áreas é preciso voltar, onde é necessário maior detalhamento. Então, é um trabalho contínuo: ida à campo, análise, descrição e relatório - detalha Rodrigues.
Como funciona o mapeamento
Antes de chegar a Bento Gonçalves, os geólogos elaboraram um inventário de informações sobre a cidade e a geografia do local. Com base nessas informações, foram identificadas áreas prioritárias para a investigação.
— Nessa primeira ida à campo, identificamos se o local é suscetível a deslizamentos, quedas de blocos, inundações, enxurradas, rolamentos. Observamos se há trincas no solo, árvores inclinadas, qualquer coisa que nos ajude a identificar se está ocorrendo alguma movimentação naquele terreno — explica o geólogo da SGB, Anselmo de Carvalho Pedrazzi.
A vulnerabilidade dos imóveis, tanto pelo material usado na construção, quanto pela localização, também é analisada pela equipe. Com todas as informações, os geólogos delimitam quais casas estão dentro de um setor de risco e classificam esse setor como risco médio, alto ou muito alto.
— O risco médio é mais para monitoramento. O risco alto normalmente precisa de algum tipo de intervenção. E o risco muito alto normalmente precisa de uma intervenção imediata. A gente vai nos lugares de visita, ver a conformidade do terreno, como estão as casas dentro, quais são os indícios de movimentação da área, delimitamos quais são as casas que estão ali, classificamos elas com base no risco e assim seguimos — detalha Pedrazzi.
Na primeira visita à cidade, o geólogo indica que o principal problema da área urbana de Bento Gonçalves é a queda de blocos e deslizamentos. Na área rural, são vistos sinais de enxurradas e desmoronamentos. Todas as análises são documentadas com fotos, medidas e avaliação dos locais visitados.
O que esperam os moradores
Entre os locais que os geólogos da SGB visitaram nas semanas em que estiveram em Bento Gonçalves está o bairro Municipal. O local, uma região montanhosa da cidade, foi um dos espaços urbanos atingidos por deslizamentos em maio.
O morador Rafael William Peronde relembra que os desmoronamentos quase atingiram a casa em que vive. Ele precisou deixar a moradia e acabou tendo móveis danificados pela água que invadiu a residência.
— Espero que esse estudo que estão fazendo ajude a melhorar a situação. Que com isso aquela terra que caiu atrás da minha casa, seja retirada e a gente não tenha mais riscos por aqui — desabafa.
O comerciante Nestor Nunes, proprietário de um bar no bairro, espera que o estudo que está sendo feito na cidade ajude a orientar os moradores sobre construções em áreas de risco.
— Acho que é muito importante para saber o que pode e o que não pode ser feito. Eles (os geólogos) vão explicar para as pessoas os riscos e eu espero que eles pensem antes de fazer aqueles puxadinhos. É uma questão para o futuro da gente — pontua.