A necessidade de implantar mudanças na gestão dos resíduos sólidos trouxe um novo panorama para o município de Canela. A partir disso, além de melhoria na triagem do lixo seletivo, a prefeitura também deve registrar uma economia que pode chegar a quase R$ 300 mil neste ano com o serviço. Segundo o secretário de Meio Ambiente e Urbanismo, Leandro Pereira Heidtman, o cenário é consequência de ações como a implantação da Cooperativa de Catadores de Materiais Reutilizáveis e Recicláveis da Região das Hortênsias (COOCAMARH), que substituiu a empresa que prestava o serviço na cidade.
Heidtman também destaca que houve reforço na fiscalização e uma melhora na comunicação com a população, com ações de conscientização sobre a separação do lixo entre seletivo e orgânico. Esse processo, como relembra o secretário, iniciou com a antiga prestadora do serviço, quando dados indicaram uma baixa taxa de seletividade, de apenas 5%. O índice é relativo à quantidade de lixo que chega separado corretamente na empresa. A partir disso, segundo o secretário, o prestador demonstrava desinteresse em renovar o contrato:
— Em função das manifestações de desinteresse da empresa, a gente viu as possibilidades que tínhamos. Tivemos que fazer uma intervenção na empresa porque não poderíamos deixar a comunidade desassistida de um serviço essencial. Essa intervenção seguiu todos os trâmites legais, com acompanhamento do Ministério Público.
A intervenção foi feita em janeiro deste ano e o serviço, com nova gestão, começou em março. Ao mesmo tempo, teve início a implantação da cooperativa, a fiscalização efetiva e a conscientização junto aos moradores na cidade da Região das Hortênsias. Em setembro, o índice de seletividade chegou a 23,6% após essa união de esforços.
— Ao longo dos meses, paulatinamente, foi crescendo a estrutura da cooperativa e o número de cooperados foi aumentando. Os índices de seletividade foram aumentando também, inclusive com a participação da sociedade na separação dos resíduos — celebra Heidtman.
Fiscalização pode gerar mais de R$ 2 milhões
Em 2024, a projeção é que a economia total com a gestão de resíduos sólidos possa chegar a quase R$ 2,7 milhões. Como explica o secretário, a maior parte do valor pode vir da fiscalização realizada pelo município. Até agosto, R$ 1,3 milhão foram economizados por conta de multas ou retenções com a antiga prestadora de serviço e auto de infração. A projeção é que esse valor passe de R$ 2 milhões até o fim do ano.
— Com a fiscalização, o que eles deixavam de prestar o serviço entrava na auditoria de denúncia e nós descontávamos o valor. Então grande parte desse valor é da fiscalização e gestão eficiente também da secretaria — explica.
Por exemplo, havia casos em que existia uma meta a ser cumprida, e se isso não ocorria, parte do valor a ser pago para a empresa era retido pelo município.
Economia e oportunidade
Dentro dos processos do serviço também há uma economia, como destaca o secretário. A primeira, já mencionada, é em relação ao serviço em si. Com a empresa que antes detinha o serviço de separação do lixo, o contrato girava em torno de R$ 1,1 milhão ao ano, enquanto com a cooperativa deve ficar na casa dos R$ 800 mil.
A otimização no serviço também gera reduções em outras partes da cadeia. Em Canela, cada etapa do trabalho com o lixo possui um contrato diferente. Por exemplo, a coleta de lixo é de uma empresa (a mesma que tinha o serviço de triagem), enquanto o transporte ao aterro sanitário é feito por outra prestadora de serviço e o aterro, que fica em São Leopoldo, tem administração própria.
Com isso, a melhora na separação dos resíduos sólidos gerou R$ 88 mil de economia com o transporte e o aterro até setembro. Até dezembro, a projeção é de redução de R$ 125 mil em gastos com os contratos, mantendo o índice de seletividade. O secretário relata que a tendência é que a economia aumente.
— Nós pagamos o transporte por tonelada. Então, se tu consegue criar e ter um índice de seletividade maior, tu transporta menos rejeito. Da mesma forma, esse rejeito que vai lá para o aterro, se tu tem um índice de seletividade maior, tu manda menos rejeito e tu paga menos lá no aterro também — detalha Heidtman.
Ao mesmo tempo, a implantação da cooperativa gerou maior rendimento aos 30 cooperados. Antes dela, estes trabalhadores estavam no Cadastro Único. Geralmente, os inscritos ganham até meio salário mínimo por pessoa ou a família tem renda mensal total de até três salários mínimos.
— Doze dos cooperados receberam no último mês em torno de R$ 5 mil. Então, é uma evolução social muito significativa — conta.
Com a economia total deste ano, a secretaria sugere investimentos para a cooperativa, como um caminhão e até uma aquisição de estrutura própria para funcionamento.
A tendência, conforme o secretário, é que ao final do atual contrato, que está sob intervenção, uma nova licitação seja aberta.
Os dados foram apresentados, no final de setembro, para os promotores de Gramado e Canela, vereadores e autoridades locais.
A reportagem buscou contato com a empresa que prestava o serviço anteriormente para declaração, mas não houve resposta.