A liberação gradual do trânsito na BR-470 entre Bento Gonçalves e Veranópolis desafogou o fluxo de duas rodovias alternativas à Serra das Antas. Os desvios feitos pela RS-448, entre Farroupilha e Nova Roma do Sul, e pela RS-437, entre Antônio Prado e Vila Flores, esgotaram a capacidade das estradas estaduais que também sofreram com deslizamentos. As alternativas têm trechos estreitos que permitem a passagem de apenas um veículo, além de serem esburacadas e com chão batido.
Com fluxo menor que no período de bloqueio total da rodovia federal, a RS-437 tem trecho mais crítico, mas recebe intervenções subsidiadas por associações e cooperativas.
A Associação Comercial, Cultural e Industrial de Veranópolis (Aciv) repassou R$ 55 mil para que a prefeitura de Vila Flores pudesse manter o trecho de calçamento e estrada de chão. O presidente da Aciv, Neivaldo Carvalho, entende que a ligação alternativa ainda é importante para a economia dos municípios que continuam sofrendo com os problemas de logística:
— Escoar a produção ficou mais caro e o maior impacto que a gente vê é na indústria. A recuperação é lenta, é um custo que, na verdade, entra para todo mundo. A cadeia produtiva sofre em toda a sua extensão. Recebemos R$ 50 mil do Sicoob e arrecadamos R$ 5 mil em um jantar beneficente, e tudo está sendo colocado para manter o desvio.
De acordo com o prefeito de Vila Flores, Evandro Brandalise, foram repassados ainda R$ 25 mil pela Embrapa para que a estrada pudesse ter viabilidade de fluxo. Os reparos são emergenciais, enquanto a pavimentação, confirmada pelo governo do Estado, não começa.
— Certeza a gente tem só quando começa, mas é uma estrada muito importante, quando não teve passagem nas Antas, trabalhamos em tempo recorde para abrir a passagem. Agora diminuiu o movimento, mas antes era uma loucura — diz.
Pavimentação aguardada
No final de julho, o governador Eduardo Leite apresentou um plano para acelerar a reconstrução de rodovias que foram atingidas pela chuva de maio. A pavimentação da RS-437 faz parte das 30 obras elencadas como prioridade pelo governo estadual, mas ainda não andou na totalidade.
— Um trecho de calçamento foi viabilizado em parceria com os moradores. O município licitou as pedras, cordão e pó de brita e o morador pagou a mão de obra, mas temos ao longo do trecho extensões de terra que se tornam muito caras. Estamos no aguardo do Estado — diz Brandalise.
Resgates são comuns na RS-437
O trecho íngreme após a ponte que permite passagem sobre o Rio das Antas é crítico para caminhões de grande porte. Por isso o trânsito é restrito para veículos com peso inferior a 25 toneladas.
O ex-secretário de Obras de Vila Flores e hoje caminhoneiro Volmir Guadagnin perdeu as contas de quantos veículos já viu atolar ou sair da pista, principalmente em dias de chuva, quando a estrada fica escorregadia.
— Tem que ter muito cuidado, principalmente em frente ao capitel de Santo Antônio, que é muito estreito. É uma rodovia movimentada que liga a Vacaria e sempre foi a estrada mais complicada do município. No inverno era o caos, sempre tinha que reservar máquina para tirar caminhão dela e liberar o trânsito.
Prazo de dois anos para liberação total da BR-470
Foram as drenagens realizadas no solo que permitiram o retorno da passagem de veículos pela BR-470. Retirada a umidade, os deslocamentos de terra estabilizaram e as obras de contenção do terreno puderam ser iniciadas pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit).
O ponto mais crítico é o km 189, a cerca de três quilômetros da Ponte Ernesto Dornelles, sobre o Rio das Antas, no limite entre Bento Gonçalves e Veranópolis. Nas próximas semanas, de acordo com o engenheiro superintendente do Dnit Adalberto Jurach, oito novos lotes de obras serão contratados para que os reparos sigam acontecendo.
— Agora é preciso deixar a rodovia em condições de suportar novos eventos de grande volume de chuva. Implantamos dispositivos de drenagem longitudinal e horizontal profundos para retirar a umidade. É um volume muito grande de trabalho, só naquele ponto mais crítico tivemos cinco ocorrências de deslizamento, sendo que duas invadiram a rodovia. Estimamos a entrega total em até dois anos.
O que diz o Daer
Responsável pela manutenção das rodovias estaduais que servem como alternativa à BR-470, o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer) informa que faz reforço com cascalho, compactação e laminagem nos trechos mais críticos da RS-437.
De acordo com a assessoria de imprensa, o alto volume do tráfego de veículos de carga prejudica o pavimento, que não possui estrutura para suportar o excesso de carga. Ainda segundo Daer, o projeto para a pavimentação do trecho está sendo elaborado.
Sobre a RS-448, estão sendo feitas intervenções nos pontos atingidos pelos deslizamentos. Os principais trabalhos são recuperação emergencial dos bordos da pista, reforço com rocha em pontos que cederam e recomposição emergencial do pavimento em pontos específicos.