Como seria o futuro que imaginamos como ideal?
Se a resposta para esta pergunta é, por óbvio, individual, pelo menos algumas pistas para que cada pessoa encontrasse a sua foram oferecidas no segundo e último dia do simpósio organizado pela Fundação Marcopolo. Aberto ao público, o evento discutiu questões de inovação, tecnologia, inclusão e outros temas pertinentes à transformação social.
Pela manhã, a plateia que ainda ocupava pouco mais da metade dos assentos disponíveis assistiu a paineis que trouxeram o exemplo de Medellín, cidade colombiana que figurava entre as mais violentas do mundo até os anos 1990, e que em menos de 30 anos passou a figurar nas listas de cinco melhores destinos turísticos. Para falar sobre como se deu essa virada, foram convidados o antropólogo colombiano Santiago Uribe Rocha e o cientista político Jean-Edouard Tromme. Tromme, entre os aspectos que apontou em sua fala, destacou a importância de investimento em mobilidade urbana:
- Mais do que fazer um metrô ou qualquer obra de infraestrutura, mobilidade e garantir às pessoas estarem perto de onde elas possam encontrar oportunidades. Mobilidade fortalece o sentido de pertencimento, e isso facilita para que se possa sonhar e imaginar um futuro.
À tarde, diante de uma plateia que já lotava o teatro, o sub-comandante do 12º BPM, Wagner Carvalho; e o rapper Chiquinho Divilas, falaram sobre medidas de pacificação em áreas de conflito, cada um sob sua perspectiva: um trouxe o viés da farda e do estado, o outro o do microfone e da cultura.
- Oferecer oportunidades ao jovem que ainda vive em ambientes onde a violência está banalizada, é dar a ele não só a escolha entre um caminho bom e outro mau, mas sim vários bons caminhos. Para isso, é importante pensar cultura e educação como política pública _ disse Chiquinho, que ao final rimou ao ritmo das palmas do público.
Na sequência, um painel reuniu agentes culturais envolvidos em diferentes projetos que ocorre em Caxias do Sul, para aproveitar o espaço e dar mais visibilidade a suas iniciativas, além de promover uma troca de experiências e mostrar que a transformação já está em movimento, às vezes literalmente, como no caso do projeto Fluência Hip Hop, que tem no breaking dance uma de suas expressões. Também estiveram representados o Mosaico da Quebrada, Projeto Semente Conquista e Projeto Mão Amiga.
Coube ao jornalista Caco Barcellos, da Rede Globo, apresentar o último painel do evento, "Cidadania x Desigualdade: A Formação do Brasileiro do Futuro". O criador do programa Profissão: Repórter, com mais de 50 anos de experiência profissional, comentou que, embora estar na rua seja o primeiro degrau da reportagem, ele nunca quis sair deste degrau que o permite contar a história dos 99% de brasileiros que vivem com mais dificuldade do que o 1% mais privilegiado:
- A rua está esquecida. Num país de tantas diferenças como é o Brasil, é onde a multidão está que eu, como repórter, acho que preciso estar. Este é o primeiro critério quando minha equipe do Profissão Repórter escolhe a pauta dos programas.
Ao falar sobre as mazelas da desigualdade social, com a propriedade de quem já viajou pelo mundo a trabalho, e também como correspondente internacional, o jornalista também criticou o silêncio de quem não denuncia as desigualdades:
- Nada é mais radical do que ser apolítico. O silêncio é um ato radical.