O 32º Encontro de Jovens Pesquisadores da Universidade de Caxias do Sul (UCS) e a 14ª Mostra Acadêmica de Inovação e Tecnologia, que terminam nesta quinta-feira (29), incentivam o desenvolvimento de estudantes envolvidos em atividades de iniciação científica e tecnológica. Os eventos, que ocorrem de forma simultânea, reuniram nesta edição 170 apresentações de pesquisas feitas em áreas de ciências da vida, exatas, humanas e sociais.
Para incentivar o desenvolvimento dos estudantes, os resultados das pesquisas são apresentados e debatidos entre corpo docente, alunos e orientadores, a fim de aprimorar as ideias levantadas. Entre as pesquisas exibidas este ano estão desde as que estão na etapa de terem sido colocadas no papel para debate até as que estão em níveis avançados e sendo testadas no mercado.
Uma delas é a da estudante Maria Eduarda Finger Toigo, 22 anos, debatida e desenvolvida com o professor Carlos Alberto Costa no curso de Engenharia de Controle e Automação da UCS. O projeto, que começou a ser pensado há cerca de dois anos, é uma órtese para pacientes em leitos de Unidade de Terapia Intensiva (UTI).
A iniciativa foi elaborada como uma forma de equilibrar a pressão corporal para que pessoas internadas, que ficam muito tempo na mesma posição, não desenvolvam lesões ou úlceras de pressão. A pesquisa foi apresentada com a temática Fabricação de dispositivo de adequação para redistribuição de pressão em pacientes de UTI.
— Os leitos de UTI estão sempre lotados de pessoas acamadas, que ficam um longo período de tempo em uma mesma posição. E nem sempre elas são trocadas de posição ou movimentadas com regularidade. Isso faz com que tenham que se recuperar de enfermidades que fizeram elas serem acamadas inicialmente e, depois, precisam também se recuperar de úlceras de pressão, feridas que vão se formando durante a internação — explica Maria.
A partir desse problema, professor e aluna desenvolveram o dispositivo, que inicialmente era feito de espuma, mas, em razão de fatores como a higienização, foi repensado e atualmente ganha forma por meio de uma impressora 3D.
Para o desenvolvimento, um tapete de pressão é utilizado para mapear os pontos em que o corpo do paciente está com pressão em excesso, como o calcanhar ou o sacro. O dispositivo é colocado em alguns pontos para que a pressão fique equilibrada.
— Nosso projeto tem essa importância de remediar essa formação e auxiliar para que a pressão do corpo seja melhor distribuída, para que essa pessoa não tenha feridas e possa se recuperar da melhor forma possível. É um projeto em que o paciente não vai precisar ficar mais exposto a um ambiente hospitalar além do tempo necessário — diz a estudante.
A ideia desenvolvida na UCS será apresentada em setembro, no Congresso Brasileiro de Engenharia Biomédica, em Ribeirão Preto (SP). Atualmente, o projeto está sendo testado no Hospital Geral (HG) e a intenção é de que seja aprimorado para que, futuramente, ganhe espaço no mercado.
Além de pesquisas que já estão sendo implementados ou em fase de testes, o 32º Encontro de Jovens Pesquisadores da UCS também é espaço para que ideias que estão no papel ganhem força para que sejam aprimoradas.
Entre eles está o da estudante de Direito da UCS Luize Mores Bergozza, 19. Sempre envolvida no universo de ciência e meio ambiente, a jovem percebeu durante o período de chuva, que assolou o Rio Grande do Sul em maio deste ano, a falta de informações sobre moradias em áreas de risco.
A partir disso, teve a ideia de buscar formas de utilizar a inteligência artificial a favor de pessoas que têm dificuldade em acessar informações corretas e alertas emitidos por órgãos oficiais, além de informações sobre os direitos como cidadãos em casos de desastres naturais. O projeto de Luize foi apresentado com o tema Desastres Ambientais: o direito da informação e a contribuição da Inteligência Artificial.
— Tiveram muitas pesquisas e deu para perceber que muitas pessoas não sabiam o que fazer nesses casos, não sabiam quais os direitos delas, por exemplo. Perguntei para conhecidos se sabiam que estavam em áreas de risco, tanto para alagamento quanto para deslizamento, e muitos falaram que não — conta Luize.
Com a pesquisa de campo, Luize percebeu dificuldades para acessar esse tipo de informação com relação às áreas que podem ser atingidas pelos desastres naturais causados pela chuva, por exemplo. A partir disso, surgiu a ideia de unificá-las sobre os locais, além dos direitos sobre o que fazer antes e depois de casos como o que ocorreu em maio.
— Muitas pessoas, apesar do conhecimento básico, consideram o direito difícil de se entender ou de ir atrás. Então, surgiu a ideia de utilizar a inteligência artificial para suprir essa escassez. Com o tempo, dá para pensar em um aplicativo utilizando o próprio chatbot, que é o que a inteligência artificial fornece. De repente, parcerias com instituições de ciência, que nos forneçam dados. Ela consegue identificar uma área, por exemplo, de risco de desmoronamento ou que não é para construção, porque muitas vezes vendem terrenos e as pessoas não fazem nem ideia desses riscos — explica a estudante.
O objetivo é que o aplicativo unifique informações referentes aos direitos das pessoas, nos casos de perdas causadas em desastres naturais, além de informações e alertas relacionados às áreas em que estão inseridas e o que fazer para que não corram risco. Caso a ideia ganhe formato, também está nos planos fazer o uso de uma linguagem de fácil compreensão, principalmente em razão de pessoas que podem ter dificuldade em utilizar a internet.
O evento de apresentação e debate das ideias premia os 15 trabalhos de destaque pensados em cada área da ciência. A iniciativa de iniciação científica e tecnológica está articulada às atividades de pesquisa, inovação e desenvolvimento tecnológico. Desta forma, o evento anual favorece a participação dos acadêmicos em atividades que estimulam a pensar criticamente e a exercitarem as próprias capacidades criadoras e inovadoras ainda durante a graduação.