Passados quase três meses, ainda há famílias fora de casa em Caxias do Sul, devido às avarias que as residências sofreram após a forte chuva de maio. São 35 moradias interditadas oficialmente, segundo o secretário de Habitação, Volmir Moschen, mas o número pode ser maior. A Secretaria Municipal da Habitação (SMH) ainda faz o levantando das áreas de risco e estima que cerca de 70 casas, em diversas regiões da cidade e interior, vão precisar ser demolidas. As famílias atingidas estão cadastradas na prefeitura, recebendo recursos financeiros para o sustento mensal. As regiões com maior registro de atendimentos são Galópolis, Vila Cristina e Vila OIiva.
É o caso da moradora de Galópolis Darla Gerusa Lisboa Pereira, 53 anos, e do marido Ari Roberto Piccoli, 66. O casal morava na Rua Leonardo Pistorello há 15 anos, mas a residência deles fica próximo a um morro que tem risco de desmoronar.
— Essa casa está na família do meu marido há mais de 50 anos, eu e ele morávamos em cima e meu cunhado na parte de baixo. É uma casa de dois pisos, ela não desmoronou, mas a rua que dá acesso à casa teve uma grande rachadura, então tem risco — conta ela.
Darla está fora de casa desde 4 de maio, quando a família foi acordada por volta de 1h30min com luzes, gritos e sirenes. Eles foram informados que o barranco abaixo da casa tinha perigo de desmoronar e precisavam sair. A moradora deixou a casa ainda de pijama e conseguiu levar apenas um dos três cachorros da família. Ela recorda que, com ajuda da equipe de resgate, chegou até o estacionamento de um supermercado e, de lá, foi levada para casa de amigos. A família foi acolhida por 15 dias. Neste período, ia na casa interditada buscar pertences.
— A gente podia ir quando tinha sol e sempre acompanhados do Exército. Tínhamos só 10 minutos para pegar algo e sair. Nossa casa está em pé, perdemos só alimentos e poucos pertences. Os dois cachorros mais ferozes retiramos de lá e uma ONG os acolheu.
Após o período inicial, Darla conta que houve reuniões com a Defesa Civil para explicar aos moradores os riscos de voltar para casa, além de cadastrá-los para receberem benefícios financeiros da prefeitura. Ela e o marido alugaram uma kitnet em Galópolis, a poucos quilômetros da casa, que visitam com frequência para limpeza, mas onde não podem voltar a morar.
— Ainda não dá para colocar máquinas nem equipe para trabalhar na área de risco (em vermelho, no mapa abaixo), pois o solo está encharcado e tem um bolsão de água abaixo do material onde foi construída a estrada. Esse material precisa ser retirado, mas ainda não é possível por causa do risco. Compreendemos, entendemos, mas continuamos aflitos, sem saber quando poderemos voltar em segurança para casa.
Darla e Ari não desejam se mudar de Galópolis e pretendem aguardar a definição da prefeitura para tomar uma decisão. Mas já sabem que vão priorizar a segurança para definir onde morar.
Levantamentos
Ainda em Galópolis, conforme o secretário Moschen, nove casas foram levadas pelo desmoronamento ou interditadas. Esses moradores já foram informados oficialmente que não poderão voltar para as moradias. Essas casas ficavam próximo ao km 161 da BR-116, onde pessoas morreram soterradas. Famílias foram cadastradas para receber o aluguel social e estão em fase de entrega de documentação. Outra parte dos moradores segue em casas de parentes e recebe, via Fundação de Assistência Social (FAS), o recurso para o sustento mensal. Segundo a FAS, por meio do Programa de Renda Emergencial (PRE), 27 famílias estão recebendo meio salário mínimo e outras 447 famílias recebendo um salário mínimo.
— A partir de agosto, assim que tiver o cadastramento feito, as famílias vão receber R$ 804 para pagar aluguel. Já estamos dando encaminhamento para que essas pessoas possam, por meio da Caixa, comprar uma casa nova em outra área. Haverá condições especiais para compra de imóveis de até R$ 200 mil — explica Moschen.
Conforme o secretário, a Caixa já tem o cadastro de 180 imóveis particulares que estão disponíveis para compra. A prefeitura reforça que não irá comprar e nem construir casas para essas famílias, mas dará o suporte pelo tempo necessário, além de orientar que não voltem para as antigas moradias. A aquisição de uma nova casa e a demolição da antiga será custeada pelo proprietário.
Dois laudos vão apontar as condições de Galópolis. Um deles foi produzido pela Universidade do Vale do Taquari (Univates), em contratação feita em parceria com governo do Estado, com base no mapeamento de conjuntos (pedaços de áreas afetadas) e também na lista de demandas solicitada pelos moradores para a Defesa Civil de Caxias. Esse laudo foi entregue ao secretário no dia 24 em reunião na Capital e, agora, passa por análise da prefeitura. No documento constam informações necessárias para subsidiar o município na montagem dos planos de trabalho e na solicitação de recursos visando a reconstrução.
Outro laudo, da mesma área, deve ser entregue até o final do ano. Este é um estudo geológico e geotécnico aprofundado para analisar as condições do bairro. Segundo Moschen, esse segundo laudo será feito por uma empresa que ainda deve ser contratada e apontará as medidas a serem tomadas para evitar novos desmoronamentos e construções em locais de risco.