Um dos santos mais populares e queridos da igreja católica, Santo Antônio ganhou a fama de casamenteiro. Não são raras as histórias de homens e mulheres que recorrem a ele para encontrar o amor e, quem sabe, subir ao altar. As preces ao religioso de origem portuguesa, cujo dia é comemorado nesta quinta-feira (13), vão de pedidos simples a simpatias mirabolantes: para abandonar a solteirice, há quem se disponha a mergulhar imagem em um copo d'água, enquanto outros a colocam de "castigo" embaixo da cama até conseguir um amado.
O fato é que não há milagres relacionados a casamentos nos documentos que embasaram a canonização dele, entretanto, algumas lendas contornam a vida do religioso, tornando-o um dos preferidos dos futuros apaixonados. Uma delas, narrada pelo jornalista Nivaldo Pereira em matéria do Pioneiro em 2022, lembra que Santo Antônio teria intercedido junto às autoridades da época para extinguir uma determinação que exigia dote para a realização de casamentos, beneficiando, desta forma, os casais mais pobres.
O padre Volmir Comparin, titular da Paróquia Santo Antônio de Bento Gonçalves, entende que as preces para arranjar casamento são parte de uma vontade de as pessoas de terem uma família e de serem felizes, portanto, está alinhada, também, com o desejo de Deus aos seres humanos.
Um coração bom deseja encontrar outro coração bom. E eu acredito que Santo Antônio quer fazer as pessoas se encontrarem
Para o padre, no entanto, é preciso que as pessoas busquem valores nos seus companheiros para que formem uma família onde haja ajuda, paz e união.
— Por isso é preciso encontrar a pessoa certa. Não adianta só dinheiro ou só beleza. As pessoas devem pedir a Santo Antônio a qualidade necessária para compreender, para perdoar, para ter a mútua ajuda — aconselha.
Com a ajudinha de Antônio
A fé em Santo Antônio sempre esteve presente na vida da secretária Adriane Cristina Biasoli, 41 anos, e do professor Onorato Jonas Fagherazzi, 42, moradores de Bento Gonçalves. A devoção no santo católico ultrapassou gerações na família de ambos e é tida como responsável por unir o casal que está junto há 17 anos.
É que em 2007, aos 25 anos, Onorato resolveu fazer uma promessa ao santo para conseguir uma namorada. Dentro da Igreja de Santo Antônio, em Bento Gonçalves, ele prometeu que se encontrasse um amor iria doar um anel de ouro à paróquia. O pedido se somou a outra simpatia feita pela avó dele, que não queria que nenhum dos netos ficasse solteiro.
— Eu fiz a promessa e no mês seguinte conheci a Adri. E aí entreguei meu anel de ouro ao pároco da igreja como um ato de caridade — conta Onorato.
O primeiro contato dos dois foi pelo antigo Orkut. Adriane lembra que Onorato a adicionou na rede de amigos e iniciou uma conversa. Ele insistia que a conhecia de algum lugar, mas ela negava. O rapaz, então, repassou o número de celular, mas Adriane ainda estava na defensiva. Dias depois, após conversar com a mãe, a jovem resolveu mandar uma mensagem de texto.
— Escrevi algo nesse sentido "Oi, tudo bem? Eu sou a Adriane. Você me chamou pelo Orkut". Logo ele respondeu e me ligou. Daí em diante começamos a falar pelo telefone. Eu contei que meus familiares eram da Linha Jansen, e ele disse que por parte da avó dele também eram da mesma localidade. Fui ganhando confiança para aceitar o convite de nos encontrarmos — relembra.
O primeiro encontro foi marcado: um cinema no feriado de Corpus Christi. Tudo se encaminhava para dar certo até que Onorato teve um contratempo ao adiantar a impressão de materiais para as aulas e se atrasou mais de uma hora.
— Eu pensei "ihh, tá me enrolando". Mas no final deu tudo certo, conversamos um pouco, tomamos um café e fomos assistir ao filme. Na semana seguinte, fomos passear na ExpoBento, mas ainda como amigos. O Onorato até comentou com a nona dele que achava que não ia dar em nada e tava quase desistindo. Ela disse para ele ir em frente e me chamar para sair de novo. No Dia de Santo Antônio nos encontramos novamente e ele até me deu um presente de Dia dos Namorados. A partir dali começamos a ficar juntos — conta.
O namoro durou nove anos e o casamento ocorreu no dia 30 de abril de 2016, na igreja de Santo Antônio. Adriane fez um buquê com pequenas imagens do santo e jogou para as convidadas. Ela garante, brincando, que todas "desencalharam". Dois anos depois, em abril de 2018, nasceu Ana Cristina, descrita como o " maior presente" da família.
Questionado se a promessa valeu a pena, Onorato diz, com sinceridade, enquanto sorri para a esposa:
— Claro que sim!
"O Santo Antônio é nosso alicerce"
Juntos há pouco mais de três anos e com planos de casamento, o casal de professores Leandro Moterle, 30, e Franciele Galafassi, 32, também cultiva a devoção por Santo Antônio. Ambos foram ensinados desde pequenos a orar e agradecer ao religioso e garantem que este apreço em comum ajuda a manter e fortalecer o relacionamento.
Leandro lembra que ouvia desde a infância a história dos bisavós que vieram de uma cidade próxima à Pádua, na Itália, onde Santo Antônio foi sepultado, após a morte em 13 de junho de 1231. Ao chegar ao Brasil, os imigrantes fundaram, no Norte do RS, uma comunidade com o nome do santo, como forma de homenagem e diante de da fé que mantinham por ele. Mais tarde, em 2007, o rapaz entrou para o Seminário dos Freis Capuchinhos, onde aprofundou seu apreço e conhecimento por Santo Antônio.
Franciele, por sua vez, nasceu e foi criada em uma comunidade do interior de Farroupilha que celebra o santo anualmente. Ela conta que, inclusive, já ajudou na organização do evento, ocupando, junto com amigos, a função de festeira.
— Conversando com o Lê, chegamos em um consenso que mesmo sendo criados em cidades diferentes, o Santo Antônio é nosso alicerce — diz a professora.
Os dois ressaltam que não chegaram a fazer promessas antes de se conhecer, mas que sempre pedem ao santo para abençoar e fortalecer o namoro. Orações e idas à missa também fazem parte da rotina do casal:
— Nós pedimos, mas também agradecemos a ele por tudo o que acontece em nossas vidas e como somos agraciados — acrescenta Leandro.
Bento tem programação festiva e religiosa nesta quinta-feira
Bento Gonçalves celebra, nesta quinta-feira (13), a 146ª Festa de Santo Antônio. Haverá missas ao longo do dia, almoço no salão paroquial e distribuição do famoso pãozinho — nesta edição, está prevista a entrega, a moradores e visitantes, de 48 mil unidades, feitas por 30 padarias e supermercados da cidade.
As missas serão celebradas às 7h, 8h30min, 10h, 15h e 18h no santuário, no Centro. Às 16h, está marcada a procissão com a imagem de Santo Antônio, nas ruas General Gomes Carneiro, Barão do Rio Branco e Cândido Costa, retornando pela Marechal Deodoro, até a igreja.
Ao meio-dia, no salão paroquial, será servido o almoço festivo, cujo ingresso custa R$ 80. Frades franciscanos estarão à disposição para bênçãos individuais e confissões.
Motoristas devem ficar atentos a bloqueio de ruas e do estacionamento do santuário. Em parceria com o estacionamento do Shopping Piazza Salton, serão disponibilizadas vagas ao valor de R$ 7 para as primeiras quatro horas e o R$ 2 a cada hora adicional.