Para evitar a cheia de rios e arroios e desacelerar a velocidade de escoamento da água da chuva na bacia hidrográfica, Caxias do Sul conta com seis tanques de retenção, também conhecidos como piscinões. Eles ficam localizados nos bairros Pio X, São José, Fátima, Pôr do Sol e nos pavilhões da Festa da Uva. O que talvez muitos não saibam é que existe também uma rede tanques em áreas privadas, como loteamentos e prédios, que ajudam a compor a rede de manejo das águas na cidade.
Juntos, os reservatórios são capazes de "segurar" 66,1 milhões de litros de água, o equivalente a 26,44 piscinas olímpicas, simultaneamente. Além dos seis piscinões públicos, são 21 reservatórios menores em loteamentos e 75 junto a construções, totalizando 102. Há ainda duas bacias de retenção do Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae) no bairro Serrano.
A contribuição dos tanques privados ocorre desde 2014, quando o Código Municipal de Edificações passou a exigir os dispositivos em loteamentos e em construções com mais de 800 metros quadrados. Há cerca de um mês, uma atualização do Código de Edificações ampliou a determinação para imóveis de 500 metros quadrados ou mais.
De acordo com o secretário de Obras e Serviços Públicos, Norberto Soletti, o tamanho de cada tanque é proporcional à área do loteamento ou do prédio. A ideia é que ele colete a água do telhado e também de pátios do imóvel.
— Normalmente se coloca no subsolo, mas pode ser onde o empreendedor quiser. Quem está construindo esses tanques também pode fazer o reaproveitamento da água, com duas saídas ou até mesmo sistemas de comportas. Isso é de extrema importância — explica.
Uma rede de tanques de retenção é uma das ações que integram o conceito de "cidades esponja". A ideia consiste em um conjunto de medidas a serem adotadas para permitir mais absorção da água pelo solo, além de diminuir a vazão e o volume dos rios. No caso dos piscinões, a água que chega em grandes quantidades durante chuvas volumosas, fica represada e é liberada de forma controlada nos arroios, reduzindo o risco de transbordamento.
— É difícil de mensurar, mas (se não tivéssemos os tanques) talvez fossemos ver o maior desastre de enchente em Caxias (nas chuvas das últimas semanas). Tivemos estragos pontuais, mas sem isso poderíamos ter estragos muito maiores e até com perdas de vidas. Tivemos mais de 800 milímetros de chuva em 10 dias, nenhuma cidade está preparada pra isso — avalia.
Mais seis tanques previstos
Para os próximos meses, o município planeja a construção de mais quatro tanques de retenção públicos. Eles já possuem projeto e financiamento contratado junto ao Banco Regional de Desenvolvimento do Extremo Sul (BRDE). Até agora, o município aguardava o aval do governo federal para o financiamento, o que ocorreu no início deste mês.
Dos quatro reservatórios, dois vão ficar na Rua Rogério Armando Issler, no bairro Nossa Senhora das Graças. Eles irão reter águas que correm para o Arroio Pinhal e passam por Galópolis, uma região ainda descoberta por sistemas de controle de vazão.
(Se não tivéssemos os tanques) talvez fossemos ver o maior desastre de enchente em Caxias
NORBERTO SOLETTI
Secretário de Obras de Caxias, sobre a chuva das últimas semanas
As contribuições do Arroio Pinhal também devem ser retidas por outros dois tanques a serem construídos na Rua Padre Antônio Vieira, no bairro Cristo Redentor. Os dispositivos têm o objetivo de evitar alagamentos na Vila Ipiranga, mas também reduzem o volume de água que chega a Galópolis. O projeto foi apresentado à comunidade na última terça-feira (21) e ainda é necessário captar recursos para a construção.
— Com certeza vai ajudar bastante a região de Galópolis — aponta Soletti.
Além dos piscinões de Nossa Senhora das Graças, o financiamento já contratado também inclui um reservatório na Rua Presidente João Goulart, no bairro De Lazzer e outro no Travessão Solferino, no Petrópolis.
Ao todo foram contratados R$ 23,74 milhões, que se somam a R$ 1,25 milhão de contrapartida do município.
Plano de gestão de águas
Parte do valor do financiamento também será utilizado para a contratação do Plano Diretor de Manejo de Águas Pluviais. O estudo é uma espécie de raio-x de todo o sistema de drenagem e das bacias hidrográficas da cidade para planejar as ações de destinação da água da chuva. A partir do levantamento, que leva em consideração inclusive fatores como uso do solo e meio ambiente, será possível prever as melhores medidas para prevenir alagamentos.
— Esse plano vai auxiliar muito não apenas nosso corpo técnico, mas toda a sociedade, já que também vai guiar a construção de tanques nas edificações — afirma Soletti.
Tanto a construção dos quatro piscinões incluídos no financiamento, quanto a contratação do plano dependem apenas de licitação.
Tanques públicos
- Tanque do bairro São José: fica na rua Ricieri Picoli e foi construído em 2012, capacidade de armazenar 27 milhões de litros de água. É o maior reservatório de água pluvial da cidade. Recebe água dos bairros Jardim América, Interlagos, Fátima, Sagrada Família, Presidente Vargas, De Lazzer, Saint-Etienne e Século XX, prevenindo alagamentos no São José, Santa Catarina, Tijuca e Reolon.
- Tanque do bairro Pôr do Sol: foi construído em 2013 e fica na Rua Venâncio Antônio Guaresi, com capacidade para armazenar 2,3 milhões de litros de água. O reservatório é coberto por concreto e a superfície é utilizada como área de lazer. Recebe água do próprio bairro e de parte do Pioneiro, prevenindo alagamentos no Pôr do Sol, parte do Pioneiro e São José.
- Dois tanques do Parque da Festa da Uva: construídos em 2014 dentro do parque, têm capacidade para armazenar 500 mil litros de água. Capta água do próprio parque, diminuindo a vazão de água que escoa para o bairro São José.
- Tanque do Fátima Baixo: fica na Av. Dr. Mário Lopes e foi construído em 2016. Consegue armazenar 20 milhões de litros de água. Recebe água do Fátima, Nossa Senhora do Rosário, Parque Oásis e Centenário, prevenindo alagamentos no Fátima Baixo e São José.
- Tanque do bairro Pio X: construído em 2016, consegue armazenar 4 milhões de litros de água. O tanque tem a função de conter as águas da chuva captadas de parte dos bairros Centro, Madureira, Exposição, Nossa Senhora de Lourdes, Jardelino Ramos e Jardim América, para evitar alagamentos nas regiões mais planas, como São José, Pio X e Santa Catarina.
- Bacia de retenção do Samae: localizada no bairro Serrano, a bacia foi ampliada em 2015 e consegue armazenar 4,83 milhões de litros de água. Coleta água do Serrano e parte do Jardim Eldorado, prevenindo alagamentos na parte baixa do Serrano.