Por volta das 21h30min, Ilka Inês Pegoraro Pereira, 64 anos, vai até o quarto onde dorme com o esposo e conecta-se à máquina de diálise peritoneal para começar o seu tratamento diário, que ocorre durante 11 horas seguidas. No início da doença renal crônica, descoberta há cinco anos, Ilka realizava hemodiálise, mas acabou sentindo-se com sua autonomia limitada uma vez que passou a depender de pessoas para tarefas rotineiras e deslocamentos. Em 2022 recebeu a alternativa de tentar a diálise peritoneal e, desde então, retomou funcionalidade e autonomia. O procedimento é uma das modalidades de Terapia Renal Substitutiva, segundo o Ministério da Saúde (MS), e é destaque entre as alternativas de cuidados com o órgão, celebrado nesta quinta-feira (14), no Dia Mundial do Rim.
De acordo com o MS, além da diálise peritoneal, outras duas alternativas de Terapia Renal Substitutiva são a hemodiálise e o transplante renal. Segundo explica Jorge Alberto Menegasso Vieira, médico nefrologista, professor e mestre em Medicina e Ciências da Saúde, os procedimentos dialíticos são prescritos sempre com o objetivo de fornecer uma melhor qualidade de vida e funcionalidade para pacientes renais.
— Na diálise peritoneal o paciente acaba tendo a oportunidade de realizar no seu domicílio a terapia. A partir de avaliações clínicas, define-se duas opções de diálise peritoneal: manual ou automatizada com uma máquina chamada cicladora. Na dialise peritoneal manual o paciente, geralmente, realiza quatro trocas diárias de bolsas de diálise através de um cateter no abdome ao longo do seu dia. Já na diálise com cicladora, o paciente conecta-se a ela, no turno da noite, a máquina realiza sua infusão e drenagem da solução de diálise, o paciente acorda na manhã seguinte e volta para sua rotina habitual. A modalidade peritoneal diferencia-se da hemodiálise, dentre outros fatores, pela ausência da necessidade de deslocamento do paciente até um serviço de hemodiálise, protocolarmente, três vezes por semana. Sabe-se que ainda há uma cultura de que o início da terapia dialítica se comparava com uma redução da expectativa de vida do paciente. O fato é que a indicação dessas terapias deve almejar, sempre, o aumento da expectativa e qualidade de vida. Nossos esforços científicos estão focados cada vez mais em tentar tornar a experiência do paciente dialítico o mais próximo possível da sua funcionalidade e com uma adequada qualidade de vida mesmo durante a terapia — explica o médico.
Para Ilka, que conviveu ao longo da vida com cálculo renal e acabou desenvolvendo a doença renal crônica, a terapia que faz atualmente permite que tenha uma qualidade de vida que não esperava ter novamente. De acordo com ela, as 11 horas que passa conectada à máquina durante a noite passam enquanto ela dorme ou se dedica às técnicas de crochê e tricô.
— Tenho meu esposo e meus filhos maravilhosos, que sempre me ajudaram, mas hoje faço tudo sozinha porque eu quero, me sinto bem e é importante para a gente. Sempre fui uma pessoa independente e de repente depender de tudo e de todos é ruim. Então, eu consegui me reerguer e isso para mim é uma vitória, por isso não me queixo do meu renal. Fui avisada ao longo da vida e não levava a sério o que o médico dizia, sempre tive cálculo renal e não levava em consideração as recomendações médicas. Tive crises renais e a consequência é essa. Às vezes me culpo não de pensar "porque está acontecendo isso comigo", mas porque eu podia ter me cuidado mais e porque o rim é uma doença muito silenciosa. A hora que tu sente é porque a coisa está feia — diz a mulher.
Prevenção
De acordo com o médico, entre as ações focadas para o Dia Mundial do Rim está o incentivo à prevenção. Exames como creatinina sérica, cistatina C e proteinúria contribuem com a saúde do órgão. Além disso, cuidados básicos e importantes no cotidiano também estão aliados diretamente ao bom funcionamento dos rins
— É preciso lembrar do cuidado com a saúde renal. Fazer atividade física com, no mínimo, 150 minutos por semana, ter uma boa hidratação diária de água, controlar o consumo de ultraprocessados, sal, evitar a obesidade e o diabetes. Sabemos que hipertensão e diabetes são as principais doenças que levam o paciente a desenvolver a doença renal crônica e uma população saudável tende a ter menor chance de desenvolver uma doença renal. Cuidar também com a automedicação, estamos atentos aos excessos de suplementações e hormônios e isso, sem um acompanhamento médico rotineiro, acaba gerando impacto na saúde renal também — pontua Jorge Alberto
Dia Mundial do Rim
Com o objetivo de incentivar os cuidados necessários com o órgão e a prevenção, o Dia Mundial do Rim terá uma ação de exames gratuitos de creatinina promovida pela Associação dos Pacientes Renais Crônicos RimViver e pelo Colégio São José. O evento começa a partir das 11h desta quinta-feira, na Rua Os 18 do Forte, entre as ruas Dr. Montaury e Visconde de Pelotas.
Conforme a RimViver, a ação prevê a conscientização sobre a importância de cuidar da saúde dos rins por meio do diagnóstico e tratamento da doença renal crônica. No jardim do Hospital Pompeia, haverá uma ação de conscientização, das 8h às 16h.