— Cheguei completamente destruído, desacreditado. Vim aqui para realmente buscar uma mudança, para conseguir ser um pai melhor, uma pessoa melhor, sair da margem da sociedade e continuar sendo uma pessoa íntegra, com caráter bom.
A história e o relato de Carlos*, 35 anos, se assemelham à de milhares de pessoas que passaram pela Pastoral de Apoio ao Toxicômano Nova Aurora (Patna) nos últimos 30 anos. A instituição caxiense alcança as três décadas de trajetória neste mês de dezembro graças ao empenho de voluntários e ao desejo de mudança de dependentes químicos que buscam acolhimento e tratamento. Uma celebração eucarística de Ação de Graças, na Igreja Cristo Redentor, comemora o aniversário às 19h30min desta quinta-feira (14).
Carlos chegou na Patna em março e segue em tratamento na comunidade terapêutica, um dos principais serviços da instituição localizado no interior da cidade. Pai de um menino de 10 anos, órfão de mãe, ele diz que se não fosse o acolhimento recebido talvez "não estaria aqui". A entrada para o vício ocorreu ainda na adolescência, aos 12 anos, e abriu caminho para substâncias como crack, cocaína e maconha.
— Se não fosse aqui, eu não teria achado um caminho seguir, uma maneira de lidar com os meus problemas, comigo mesmo na verdade — ressalta.
Ao longo destes 30 anos de existência, a Patna soma cerca de 7,4 mil atendimentos. A estrutura é composta por uma sede, na Rua Pinheiro Machado, onde ocorrem reuniões para os familiares dos acolhidos e assistência para a comunidade, e a chamada fazenda, onde o dependente químico passa por um tratamento multidisciplinar. Atualmente, o maior desafio é o financeiro, diante de constantes atrasos em repasses estaduais e federais.
*Carlos é o nome fictício para preservar a identidade do homem acolhido pela Patna.
Apoio da família é fundamental
O tratamento na fazenda pode durar entre nove e 12 meses. São três etapas: adaptação, desintoxicação e reinserção social. São 42 vagas, todas destinadas ao público masculino. A equipe é composta de psicólogos, monitores, assistente social e voluntários.
Não são raros, entretanto, os casos de saída, recaída e retorno ao tratamento. Por isso, o presidente da Patna, Darci Junior Nunes, reforça a importância da família para o processo e ressalta que não há uma cura para a dependência, apenas recuperação.
— O adicto vai terminar esse tratamento e vai voltar para onde? Para a família, para a sociedade. Por isso, que temos que trabalhar com os familiares. Porque se tiver a mesma situação, o mesmo cenário, pelo qual ele se internou, é uma questão de tempo para recair. Portanto, uma das exigências é que a família faça um acompanhamento uma vez por semana, na sede, com grupos de entreajuda — sinaliza Nunes.
Nos encontros, os familiares trabalham com uma metodologia voltada à responsabilidade, ao reconhecimento dos limites, à disciplina e ao amor. Ao todo, são 12 princípios.
— É um montante para, lá na frente, na saída, o acolhido ter uma base sadia para retorno e continuidade da recuperação — finaliza Nunes.
"Fui recebido com todo o amor e respeito", diz acolhido pela instituição
Osladir Rodrigues, 42 anos, seguiu o mesmo caminho que muitos que chegam na Patna. O consumo de bebida alcoólica iniciou cedo, virou um vício e abriu as portas para outras drogas.
— Eu me tornei escravo do álcool. A minha vida se tornou um inferno, me tornei agressivo, uma pessoa insuportável — relembra.
A alternativa para a dificuldade de convívio foi a permanência nas ruas. Mas as coisas começaram a ganhar outro sentido em janeiro deste ano, quando ele foi apresentado ao trabalho da Patna.
— Quando cheguei aqui eu fui recebido com todo o amor, todo carinho e respeito. Comecei a me reconhecer e aceitei a minha doença. Não foi me pedido nada em troca apenas o meu querer — diz Rodrigues.
Hoje, com o tratamento bem adiantado e apoio da família, ele conta que se sente feliz e que recuperou tudo o que perdeu nos últimos anos. Rodrigues alterna a convivência na fazenda, com a casa do pai, em Farroupilha. Ele realiza uma espécie de estágio na comunidade terapêutica.
— Para mim, esse lugar é uma bênção de Deus. Não penso em me desconectar. Estou muito feliz — afirma.
Saiba mais
- A Patna nasceu no dia 7 de dezembro de 1993, graças ao empenho e dedicação de voluntárias como Sandra Gazzola, Maria de Lurdes Fontana Grison, a Lurdinha, e Lóris Magalhães.
- A primeira sede foi uma sala cedida na frente do Colégio São Carlos. Tempos depois, o grupo alugou uma casa na Rua Cremona e, por fim, conquistou o prédio atual na Rua Pinheiro Machado.
- O serviço na fazenda funciona 24 horas por dia, de domingo a domingo, em uma estrutura de cerca de dois hectares composta por casa de acolhimento, cozinha, casa administrativa, academia, quadra de esporte, oratório, estufa, entre outros.
- Assim como no início do serviço, a Patna trava uma luta diária para manter as finanças e os atendimentos. O orçamento necessário para manter a estrutura no Centro e no interior custa cerca de R$ 45 mil a R$ 50 mil mensais. Há repasses estaduais e federais, entretanto, há atrasos, conforme o presidente da instituição, por isso a importância da ajuda da comunidade para manter os serviços.
- A entidade também tem um bazar na Rua Pinheiro Machado, número 1.141, na área central, que abre de segunda a quinta-feira, das 13h30min às 17h30min.
Como ajudar
Você pode ser um voluntário ou doar dinheiro:
- Para ser voluntário, preencha um cadastro no site patna.com.br e aguarde retorno.
- Para doar qualquer valor, faça um depósito no banco Banrisul, agência 0606, conta 06.001303.3-7 e coloque como favorecido o CNPJ 00065945/0001-91. É possível fazer doação por meio do site da Patna ou por Pix. O Pix é o CNPJ.