Com baldes nas mãos, as roupas sujas de lama e um chapéu na cabeça para se proteger do sol, uma moradora de Linha Alcântara, no interior de Bento Gonçalves, dava início, neste domingo (19), à limpeza de sua casa, invadida pelas águas do Rio das Antas. A mulher de 55 anos conversou com a reportagem, mas não quis ser identificada. Ela contou que subiu em um barranco que fica do outro lado da residência onde mora, para se salvar da enchente.
— Desde a última enchente, eu não confiava mais no lugar onde moro. Depois que acontece uma vez, pode acontecer outras vezes. Perdi tudo naquela enchente e não queria ter mais nada dentro de casa, queria a casa vazia porque não queria mais sofrer por perder tudo de novo. O rádio daquela vez eu lavei, lavei bem lavadinho e, depois de uns dias, ele secou e voltou a funcionar. Fiquei feliz — conta.
Logo que as águas do rio começaram a subir, no sábado (18), ela teve a ideia de retirar os poucos móveis que tem em casa e colocá-los no barranco do outro lado da rua. Com medo de que a casa fosse levada, ela fez um abrigo de lona, que ainda estava suja com a lama da enchente que atingiu a região no mês de setembro.
— Peguei uma lona grande, fiz um acampamento no barranco e esperei o rio baixar. Fui levando algumas coisas ali para cima, eu tinha três cadeiras e um colchão, fiz um fogareiro e passei a noite ali em cima. Depois de levar o que pude, estava muito cansada e dormi — lembra a moradora.
Para ela, a surpresa maior quando acordou foi ter visto a própria casa em pé. Desde a enchente de setembro ela acreditava que a moradia de tijolos poderia ser levada pela correnteza a qualquer momento. Dando sequência à limpeza, pediu licença à reportagem para seguir lavando as roupas, móveis e utensílios, que ficaram cheios de lama.
De acordo com o prefeito de Bento Gonçalves, Diogo Siqueira, com a chuva prevista para continuar ainda nesta semana, a orientação para os moradores é que não permaneçam em áreas de risco e busquem locais seguros como abrigo.