Desde maio, moradores da Avenida Alexandre Rizzo e da Rua Nilceu de Melo Catarina convivem com as obras de revitalização do bairro Desvio Rizzo. O trabalho, contratado pela prefeitura de Caxias do Sul neste ano, tira do papel um projeto idealizado ainda em 2009 e apresentado em 2014 - reinvidicado também pela comunidade e que beneficia 100 mil habitantes. Nesse contexto, a população local convive entre a expectativa de ver as melhorias prontas e a angústia de que, quase cinco meses após o início, ainda há muitos bloqueios nas ruas, o que estaria atrapalhando negócios. Alguns comerciantes calculam redução de até 50% nas vendas com a dificuldade de acesso nestas vias.
A reportagem esteve no bairro na quinta-feira (28) e o relato mais frequente foi de que as obras são necessárias para o Desvio Rizzo. A observação que moradores e comerciantes fazem é que os pontos de bloqueio parecem aumentar com o avançar da obra, sem que trechos anteriores tenham sido liberados.
Em partes da Alexandre Rizzo e da Nilceu de Melo Catarina ainda há buracos abertos e barro. Conforme moradores, até duas semanas atrás não havia cascalho no trecho, o que dificultava ainda mais o acesso. No mesmo dia, as quadras das ruas Nilo José Côrte, Ernesto Bernardi e Vereador Otto Scheifler que cruzam com a Nilceu de Melo Catarina também estavam bloqueadas.
"Buracos só aumentam"
A comerciante Eliane Vettorazzi, 43 anos, dona de um mercado do bairro, destaca que há dificuldade para estacionamento em ruas próximas e o acesso a pé também é difícil. Ela estima que, em cinco meses de obra, tenha perdido até um trimestre de faturamento. A comerciante sugere que alguns acessos passem a ser liberados, mesmo que nos finais de semana, quando não há trabalho nos trechos.
— O cliente precisa estacionar do outro lado da rua. Neste momento, não estamos com barro na porta, mas 15 dias atrás estávamos . E aí o cliente tem que desembarcar, sujar os pés, às vezes tem criança e com as compras até o carro fica difícil — descreve Eliane, que diz entender a necessidade da obra.
A comerciante sente ainda que "os buracos só aumentam" com as obras, mas que poucos são fechados. Eliane relata que teve buracos em frente à porta do estabelecimento por quatro meses.
Outros comerciantes, que preferiram não se identificar, afirmam que "jamais vai ter melhora se não tiver essas mudanças", e, por isso, tentam aguentar os impactos até o fim das obras.
Comércio é o mais impactado
Na Rua Nilceu de Melo Catarina, o proprietário de uma gráfica, Elton Gausmann Filho, 44, sente que o comércio é o mais impactado na região. Filho também mora em uma das ruas em obras, mas entende que, como morador, consegue driblar as mudanças. O que preocupa é o movimento da rua. O comerciante calcula que perdeu 50% das vendas de pessoas que passavam em frente ao estabelecimento.
Filho sabe que as obras são importantes, mas acredita que algumas medidas podem auxiliar os comerciantes, como a colocação de cascalho enquanto não há asfalto e uma facilitação no acesso. O empresário também sente falta de uma comunicação mais próxima junto aos comerciantes locais, o que poderia auxiliar no trabalho desses negócios que dependem que clientes cheguem até eles.
— Eles não programaram a obra. Disseram: 'ah, vai ter uma obra'. Um ano e pouco depois, vieram no dia e começaram com as máquinas, fizeram buracos e começaram a arrancar toda a rua. Então, eles não programaram os comerciantes e os moradores. Até para ter acesso local é complicado — reclama o dono da gráfica.
Clima atrapalhou trabalhos no trecho
O engenheiro da Secretaria Municipal de Obras e Serviços Públicos (Smosp), Reinaldo Toscan Neto, explica que as obras neste trecho sofreram com a constante chuva que atingiu Caxias nas últimas semanas. Entre a Alexandre Rizzo e a Nilceu de Melo Catarina é necessário executar a base e a compactação, antes de iniciar a pavimentação. Mas, como alerta Neto, para isso é necessário tempo seco por alguns dias, até mesmo para secar a rua. Com isso, a equipe também conseguirá instalar material para impermeabilização.
Neto relata que a secretaria teve reunião com moradores da área em julho e que um prazo de 90 dias foi prometido para finalizar os trabalhos no trecho. A data seria no próximo dia 3. O engenheiro destaca que o possível está sendo feito para entregar neste prazo, mas que a equipe também preocupa-se com a qualidade da execução:
— Se não, não adianta. Daqui quatro ou cinco anos, o pessoal vai estar reclamando dos buracos lá na frente por causa de uma execução mal feita. Então, prezamos muito pela questão de fazer um serviço bem feito — ressalta o engenheiro.
Sobre os buracos que ainda não foram fechados na Alexandre Rizzo, Neto explica que o sistema de esgoto cloacal precisou de uma reparação após uma primeira vistoria, com auxílio do Serviço Autônomo Municipal de Água e Esgoto (Samae). Na próxima semana, a vistoria, por meio de vídeo na tubulação, será refeita. Com tudo aprovado, buracos poderão ser fechados.
O engenheiro pede ainda que a população atente-se ao cronograma semanal que é divulgado, onde são avisados sobre os bloqueios. Além do trecho conferido pela reportagem, outras ruas que recebem trabalhos rotineiramente são Cristiano Ramos de Oliveira, João Florian e José Cagliari. Assim, os trabalhos e os bloqueios podem ser modificados com o andamento das obras.
O planejamento, inclusive, é de liberar trechos conforme são finalizados. O cronograma anunciado é de 18 meses, prazo visado pelo município.
— Vamos sempre trabalhar com o prazo. Nós fazemos reuniões semanais com a empresa contratada para adequar o cronograma. Se perdemos tempo em uma semana, cobramos da empresa um aumento de frente de trabalho e aumento de equipe, para justamente continuarmos mantendo o cronograma dentro dos 18 meses — afirma Neto.