A duplicação da RS-122 e a construção de passarelas são ações previstas até 2026 para minimizar o grande número de acidentes em um dos caminhos mais perigosos de Caxias do Sul: o trecho urbano da Rota do Sol. São quase 20 quilômetros marcados pela alta taxa de mortes nas últimas décadas, cenário que vai do viaduto torto, no bairro Desvio Rizzo, ao bairro Jardim das Hortênsias, no noroeste da cidade.
As melhorias estão no pacote de obras da concessionária responsável pelos pedágios na Serra e vêm na esteira de diversas reivindicações da comunidade. Apesar de alentador, não serão obras tão abrangentes, pois o trecho urbano da Rota do Sol engloba do km 69 ao 80 da RS-122 e do km 141 ao km 148 da RS-453. Na prática, a empresa só é responsável pela RS-122. A parte da RS-453 é de responsabilidade do governo do Estado e não há nada previsto até o momento em termos de duplicações, construção de rotatórias e passarelas.
A expectativa em torno de intervenções de impacto é elevada. Após um período relativamente mais calmo durante as restrições da pandemia, os acidentes voltaram a crescer neste ano. São cinco óbitos e um total de 74 acidentes, segundo o comando Rodoviário da Brigada Militar (CRBM). A quantidade de vidas perdidas em 2023 representa 17,2% do total de acidentes fatais até o momento em Caxias, que teve 29 mortes em diversos pontos do município de 13 de janeiro a 31 de julho deste ano. É o pior número desde 2019 (confira quadro abaixo).
O caso mais recente foi a morte de Tatiane Maciel Lopes, 36 anos, em colisão entre carro onde ela estava e um caminhão no dia 31 de julho de 2023,. O acidente aconteceu no km 72 da RS-122, na altura do bairro São Giácomo. Nessa região, a comunidade pede há anos um controlador de velocidade. Tatiane era passageira de um Ford Fiesta e estava acompanhada do marido, que conduzia o carro. Ele e o condutor do caminhão tiveram ferimentos leves.
Imprudência na RS-122
Além da movimentação e da falta de sinalização ou de dispositivos de segurança aos motoristas, também há imprudência na RS-122. Em poucos minutos na quinta-feira passada, dia 10, a reportagem flagrou uma série de manobras arriscadas e proibidas como conversão em local proibido.
Próximo a uma empresa de autopeças de caminhão, os motoristas que transitam pela RS-122, na Rota do Sol, em direção ao viaduto torto, param no acostamento no acesso ao loteamento Cidade Industrial. Não há rotatória, o que leva os condutores a se arriscar para atravessar a rodovia e acessar a Rua Gerson Andreis, que leva ao bairro Cidade Nova. A manobra no sentido contrário, ou seja, para sair co Cidade Nova é igualmente perigosa.
Morador do bairro Diamantino, Luciano Frumi, 38, é vendedor em uma empresa de autopeças para caminhão. Em três anos, ele já presenciou mais de 10 acidentes no acesso ao bairro Cidade Nova ou loteamento Cidade Industrial.
— O pessoal é muito imprudente para atravessar a rodovia em momentos movimentados. É bem preocupante, e às vezes temos que fazer manobras, e ir mais para frente por causa do campo de visão. Uma sinaleira ou lombada eletrônica resolveria bastante. Eu acredito que isso já ajudaria a diminuir os acidentes porque a velocidade ocasiona um grande número de colisões — sugere ele.
Os pedestres enfrentam ainda mais dificuldades para cruzar a via. Teresa Veiga Rodrigues, 30, esperava no acesso ao Cidade Industrial para ir até a Rua Gerson Andreis, do outro lado da pista.
— Já morei no Cidade Industrial e sempre foi complicado para atravessar.É bem perigoso para atravessar, e tem que cuidar muito. Acabei dando uma corrida para chegar desse lado — afirmou ela, ofegante.
Rodovia é perigosa
Outro ponto onde são registradas ocorrências é próximo a ponte seca, na altura do bairro Reolon. Em 12 de fevereiro deste ano, seis pessoas ficaram feridas em um acidente no km 74 da RS-122. Já em cima da ponte, a reportagem flagrou uma ultrapassagem perigosa de um motociclista.
No trevo de acesso a Monte Bérico, também conhecido por uma série de acidentes com mortes, há um conjunto de semáforos, mas mesmo com a sinalização é complexo transitar devido ao grande número de caminhões.
No viaduto sobre a Rua Ludovico Cavinato, próximo ao Cemitério Nossa Senhora da Saúde, no bairro Nossa Senhora da Saúde, onde os motoristas podem acessar os Pavilhões da Festa da Uva, também há problemas, pois falta rotatória para condutores cruzarem a estrada em segurança. Uma câmera de monitoramento flagrou o momento do acidente que resultou na morte Daiane Karine de Almeida, 36. Ela perdeu a vida no dia 31 de maio na colisão entre um Siena e uma caminhonete.
As imagens mostraram o Siena aguardando na alça lateral do entroncamento da rodovia para cruzar a rodovia em direção à Rua Ludovico Cavinato. Segundos depois, quando o carro passava pela pista principal, ocorreu a colisão com a S10, que seguia no sentido Farroupilha-Litoral.
Perto do Porto Seco, no bairro Pôr do Sol, o perigo no trânsito também é constante. Ali também é possível observar imprudências de motoristas.
Acidentes e mortes na RS-453
No viaduto sob a RS-122, a Rota do Sol passa a ser trecho da RS-453. As condições de segurança não mudam muito. Próximo à Codeca, foi construída em 2019 uma rótula que contribuiu para a redução de acidentes. Mais adiante, os pedestres contam com uma passarela, a única no caminho de cerca de 20 quilômetros do trecho urbano da Rota. Um pouco mais para frente, antes do Viaduto Santa Fé, o trânsito é disciplinado pelo redutor de velocidade. Os equipamentos preventivos param por aí.
No acesso a Rua Atílio Andreazza, que leva ao Jardim Botânico, também há movimentação intensa, mas risco de travessia tanto para pedestres quanto para motoristas. Luciano Padilha Teres, 36, trabalha em uma banca na RS-453, próximo a esse entroncamento.
— Trabalho há poucos meses aqui porque sou de São Francisco de Paula e mesmo assim já vi vários acidentes. Era bom colocar um quebra-molas ou uma sinaleira para os motoristas reduzirem a velocidade e para as pessoas atravessarem a estrada.
Bem perto dali, um memorial, com uma placa, duas cruzes e flores, marca o ponto onde um homem e uma mulher perderam a vida. Na homenagem, consta a mensagem: "O que Deus uniu o homem não separa"
Outro ponto crítico é o acesso ao bairro Serrano via Travessão Leopoldina, que é considerado um trechos mais perigosos da rodovia. O quilômetro 145 da RS-453 é um dos gargalos históricos onde são registrados colisões com frequência, inclusive, com morte. É comum marcas de acidentes naquele trecho. No acostamento, há calotas e pedaços de carro. No caso mais recente naquele trecho, Zelito Velho, 49 anos, perdeu a vida após uma colisão entre uma motocicleta e uma caminhonete Toro, em 17 de julho. Velho pilotava uma moto XRE 300. Ele morreu a caminho do hospital.
Daer busca solução com a prefeitura para acesso ao bairro Serrano
Passado um ano e quatro meses desde as tratativas entre o município e o Daer, os projetos para reduzir o número de acidentes ainda aguardam por um desfecho. O movimento no local aumentou consideravelmente depois que o acesso pelo Travessão Leopoldina foi pavimentado. O resultado é uma espera de até 20 minutos em horários de pico para realizar conversões à esquerda e transpor de uma via para outra.
Em 21 de julho, moradores do bairro Serrano e motoristas de vans protestaram na saída do Travessão Leopoldina. Com caminhão de som e faixas, pediam melhorias no trecho para evitar acidentes. A reivindicação é que seja feito um refúgio, ou outra sinalização, para a entrada e saída do Travessão Leopoldina.
Em nota o Daer afirma que: " se reuniu com a prefeitura de Caxias do Sul para articular uma solução conjunta a fim de melhorar a rodovia e minimizar conflitos do tráfego da Rota do Sol com os acessos locais, que acabam provocando acidentes. A ideia é que se evolua nas discussões, buscando definir alternativas para a execução dos serviços e obras necessárias".
Operação para conter acidentes
O patrulhamento no trecho urbano da Rota do Sol é de responsabilidade do Comando Rodoviário da Brigada Militar. Já a infraestrutura, sinalização e obras cabem a órgãos diferentes. Quem responde pela RS-122 é a Concessionária da Serra Gaúcha (CSG) e pela RS-453 é o Departamento Autônomo de Estradas de Rodagem (Daer).
De acordo com o comandante do 3º Batalhão Rodoviário da Brigada Militar (BRBM), responsável pela Serra, Diego Caetano, foi constatado que no trecho da RS-122, do km 69 até o km 80, e to Km 141 ao Km 146 da RS-453, houve aumento de acidentes de trânsito com lesão corporal em 2023.
— Para tentar conter esse avanço nos índices, implementamos a operação Inverno na Serra, desde o mês junho, com aumento de efetivo de policiais em locais, com maior incidência. Eles atuam em dias e horários de maior probabilidade de acidentes para modificar o comportamento dos motoristas e garantir a segurança viária —ressalta o comandante.
Ele cita também a instabilidade do clima em junho e julho, o que aumentou a preocupação do comando:
— Nós vivemos um período com grande preocupação e muitos dos nossos esforços de policiamento foram para evitar acidentes de trânsito com mortes. Desde então, a gente verificou a redução de acidentes com morte e conseguimos verificar também uma queda no número de acidentes com lesão corporal, que pela gravidade, a gente se preocupa muito com a pessoa que fica lesionada porque essa pessoa pode perder a vida no hospital devido a gravidade.
Caetano ressalta que a falta de atenção, o excesso de velocidade e a conversão em local proibido são atitudes dos motoristas que mais provocam acidentes.
— A gente procura avaliar as causas prováveis dos acidentes e, na nossa estatística, o que vai até ao encontro dos que os Atlas de Transportes Rodoviários indicam, é a falta de respeito à sinalização, conversão em locais proibidos, falta de respeito as placas e excesso de velocidade. Esses são os maiores causadores de acidentes, não só na região de Caxias, mas no Brasil inteiro. É o que o Atlas vêm nos indicando há anos.
Concessionária pretende duplicar trecho da RS-122 e implantar passarelas
A Caminhos da Serra Gaúcha (CSG) é responsável pelo trecho do Km 69 ao km 80 da RS-122. A empresa tem um programa de trabalho pré-definido e estabelecido pelo contrato de concessão vigente, cuja operação se iniciou no dia 1º de fevereiro deste ano.
Segundo o gerente de Engenharia da CSG, Márcio Schaper, o setor conhecido como “Contorno de Caxias”, que vai do km 69 ao km 80 da RS-122, contará com as seguintes obras para melhorar o nível de serviço e a segurança viária:
- Duplicação da rodovia.
- Implantação de vias laterais entre os km 76,5 e km 77,26 e entre os km 78,2 e km 78,3.
- Implantação de três passarelas, garantindo a segurança de pedestres e usuários.
- Execução de seis interseções, permitindo tanto a entrada quanto a saída da rodovia de forma mais segura.
Em nota, a conessionária afirma que há um prazo definido pelo contrato de concessão, em que as obras indicadas anteriormente deverão ser entregues até o ano 3, ou seja, em janeiro de 2026. Ainda conforme o gerente de engenharia, foi realizado um estudo sobre o trecho:
"Especificamente, para a RS 122, os pontos críticos com maiores impactos de acidentes foram os km 26, km 44 ao km 48, km 58 ao km 64 e km 69 ao km 70, que apresentaram mais de três vezes a média de acidentes da rodovia", aponta o documento.