Dialogar. Acolher. Respeitar. Escutar. Ações simples, mas não tão praticadas por algumas pessoas. Simples e essenciais para qualquer relação. Seja ela profissional ou pessoal. Principalmente quando se trata da educação de crianças e jovens, futuros adultos e responsáveis por um mundo melhor. É focando na prática das ações citadas que a formação de círculos de paz, na Escola Estadual de Ensino Médio (EEEM) Evaristo de Antoni, no bairro São José, em Caxias do Sul, busca redefinir a comunidade escolar.
A necessidade de colocar o diálogo, o acolhimento, o respeito e a escuta em uma prática construtiva para toda a comunidade escolar surgiu na Comissão Interna de Prevenção a Acidentes e Violência Escolar (Cipave) da Evaristo. Por meio do presidente da Cipave da escola, Johnatan Rodrigues, a ideia foi externada para a 4ª Coordenadoria Regional de Educação (4ª CRE), em uma conversa com a assessora regional Marivane Carvalho, que também é facilitadora de círculos de construção de paz.
Esta formação na escola iniciou na última quarta-feira (14) e segue até esta sexta (16) quando, por três dias e meio, monitores, professores e equipe diretiva sairão capacitados para evitar conflitos no ambiente escolar. Já os alunos estão com aulas remotas. O círculo de construção de paz é uma das práticas da Justiça Restaurativa.
— A gente coloca os colegas de uma forma horizontal para que todo mundo possa vivenciar aquilo que eles vão poder aplicar depois com os alunos, com a comunidade escolar. Ela é vivencial. Tem uma parte teórica, mas praticamente toda ela é vivencial — explica Marivane.
Segundo a assessora, este é o primeiro trabalho realizado em uma escola estadual em todo o Rio Grande do Sul. A dinâmica serve para, além de saber como lidar com situações antes de virarem conflitos, um momento de autoconhecimento e autorreflexão, quando os envolvidos trocam, inclusive, experiências da vida pessoal.
— Trabalha a humanidade das pessoas, necessidades, sentimentos, contando histórias, revivendo momentos significativos da vida. Equilíbrio do físico, mental, espiritual. Não é uma terapia, mas tem benefício pedagógico e terapêutico — comenta o também facilitador e voluntário, Alceu Lima.
A Evaristo de Antoni, atualmente, tem 769 alunos. Além dos jovens, a comunidade também inclui todas as equipes que atuam com eles. E foi depois do fim das restrições da pandemia da covid-19 que diversas questões, em toda a comunidade, se atenuaram. Com isso, o trabalho já havia sido iniciado ainda no ano passado.
— No período de seis meses a gente desenvolveu formações com um grupo de professores, focado nas habilidades socioemocionais, para estar passando em sala de aula. A nossa escola se organizou dentro da demanda que existia e a gente organizou práticas para todo mundo realizar em um dia específico da semana — diz Johnatan Rodrigues.
O professor de Filosofia da instituição, Fernando Lopes, acredita que o fato de a Evaristo de Antoni ficar mais próxima da periferia de Caxias também contribui para a maior necessidade da formação dos círculos da paz.
— Nós, professores, também temos que estar bem para passar isso (empatia). Então, a formação toda veio a calhar, justamente, por essa realidade — opina Lopes.
Quem também participou da formação foi a diretora da escola, Ingrid Piccini, que afirmou que, desde que os alunos voltaram às atividades presenciais, problemas de vulnerabilidade social, fobias, depressão e rejeição às aulas surgiram.
— Tudo isso teve um grande impacto na educação. Essa formação vem nos nortear no que a gente já está fazendo, que é mediar conflitos entre turmas, ouvir os alunos, mas saber como administrar, com qual objetivo, com algo que a gente possa ajudar de uma melhor forma, porque é isso que a gente precisa — define a diretora.