Com casos clínicos cada vez mais graves, que levam os pacientes a precisar de internação, e a superlotação dos hospitais Pompéia e Geral, o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu) chegou próximo de ficar inviabilizado em Caxias do Sul. Em mais de uma ocasião, nos últimos dias, todas as ambulâncias que atendem aos casos de urgência e emergência na cidade tiveram que ficar paradas nas instituições de saúde à espera de um leito para os pacientes. A situação foi determinante para que a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) suspendesse as cirurgias eletivas, consideradas não urgentes, pelo prazo de 15 dias.
A secretária Daniele Meneguzzi afirma que nenhum paciente ficou sem atendimento mas, para garantir a continuidade do serviço prestado pelo Samu, a suspensão dos procedimentos foi necessária. Antes mesmo da determinação, o Hospital Geral já havia comunicado ao município a necessidade de suspender os procedimentos em razão da superlotação na instituição hospitalar. Até o momento não há um levantamento do número de quantos procedimentos serão suspensos na cidade.
Em entrevista ao Gaúcha Hoje, na Gaúcha Serra, na manhã desta sexta-feira (9), Daniele afirmou que a suspensão foi necessária como uma medida extrema em função da alta lotação nas emergências dos dois hospitais, que têm capacidade para atender as doenças mais complexas:
— O que estava acontecendo é que a gravidade dos pacientes que estão sendo atendidos pelos nossos serviços de urgência e emergência está muita alta. Isso tem mantido os serviços lotados, sem capacidade para receber novos pacientes graves, e traz impacto e reflexo nas unidades de pronto-atendimento (UPAs) — destaca Daniele.
A suspensão pretende garantir leitos a pacientes graves e que demandem serviços de urgência. De acordo com a secretária, a situação ocorre pela alta demanda de casos clínicos que exigem acompanhamento de alta complexidade, principalmente nas áreas de cardiologia, oncologia, vascular, neurologia e nefrologia.
O diretor técnico do Hospital Geral, Alexandre Avino, destaca que as enfermarias do HG estão sempre 100% ocupadas. Em 2 de junho, 22 pessoas ocupavam a emergência, que tem capacidade para 12 pacientes.
— Nossa emergência este ano, por 35 vezes atingiu superlotação. Em todos esses episódios a Secretaria de Saúde foi comunicada, o Samu foi comunicado, o Conselho Regional de Medicina também foi comunicado. Agora, com essa demanda aumentada, a nossa situação é mais difícil ainda. No dia 2 de junho fomos obrigados a disparar uma série de medidas e, nesse momento, interrompemos as internações eletivas. Essa situação se tornou tão grave que agora a própria secretaria tomou a frente e interrompeu as cirurgias — explica o diretor.
A superintendente do Hospital Pompéia, Lara Vieira, também ressaltou que nos últimos 15 dias houve um aumento significativo no número de atendimentos de pacientes da chamada vaga zero, quando as instituições têm de receber pacientes mesmo sem condições porque não há outro serviço para o encaminhamento. Ela afirma que, no caso do Pompéia, o maior impacto será na traumato-ortopedia e na neurocirurgia. No entanto, ainda não há um levantamento do número de procedimentos suspensos desde a última quarta-feira (7).
— As eletivas nas quais os pacientes estão mais tempo em fila ou que são mais graves nas especialidades como oncologia e cirurgia cardíaca serão realizadas. Ainda não temos esse quantitativo porque estamos entrando em contato com os pacientes para fazer o cancelamento. Algumas ficam na dependência do caso clínico do paciente e vamos precisar realizá-las. Em média, eu posso dizer que realizamos de 25 a 30 cirurgias por dia entre todas as especialidades que atendemos pelo SUS — destaca Lara.
Ambulâncias paradas foram determinantes para a suspensão das cirurgias eletivas
"O nosso serviço de urgência, o Samu, estava à beira de ser inviabilizado porque quando o serviço presta os atendimentos, ele se depara com pacientes graves, como, por exemplo, vítimas de acidentes de trânsito, que precisam de atendimento imediato em hospitais. Então, o Samu atendia esses pacientes, chegava nas emergências dos hospitais e não encontrava leitos disponíveis para deixá-los. E o que que acontecia? Não havendo leito, a maca precisava ser retida. Ou seja, a ambulância ficava parada na porta do hospital por indisponibilidade de atendimento. Quando a gente tem uma maca parada em um hospital, a ambulância para de circular porque a equipe que está com aquele paciente é responsável até que a instituição hospitalar assuma o caso. Chegamos ao extremo de ficar com todas as ambulâncias do Samu paradas nas emergências. O que isso quer dizer? Que se houvesse um acidente grave, um paciente infartando em casa, com uma queda, inconsciente, ele não poderia ser atendido porque não havia ambulância disponível. Isso é extremamente grave e preocupante e aconteceu mais de uma vez nesses últimos dias. Por isso a necessidade de adoção de medidas como essa, que não são boas, mas é preciso para que se pense naquilo que é mais grave" - Daniele Meneguzzi, secretária municipal da Saúde.
Hospital Geral suspendeu procedimento ainda em 2 de junho
" A nossa emergência está sem capacidade de girar pacientes para as enfermarias porque as enfermarias estão lotadas e as UTIs estão lotadas. Dessa forma, tivemos que migrar pacientes de acordo com o nosso plano de capacidade para a sala de recuperação e sala de recuperação do setor de hemodinâmica. Então, pacientes foram internados não em leitos de enfermaria, mas em leitos de recuperação. Esse tipo de situação é uma tragédia para a instituição, é ruim para os pacientes e temos que tomar algumas medidas. Estávamos nos preparando para sair dessa situação quando veio a solicitação da Secretaria de Saúde para interromper os procedimentos eletivos" - Alexandre Avino, diretor técnico do Hospital Geral.
Volume de pacientes no Pompéia aumentou significativamente nos últimos 15 dias
"É importante considerar que existem somente dois hospitais de portas abertas na cidade. E estamos falando de uma população que nos últimos 20 anos quase dobrou de tamanho. É uma coisa bem importante a ser considerada, a reestruturação que se faz necessária para o acesso desses pacientes. Nos últimos 15 dias, de fato, o volume de atendimento aumentou. E não necessariamente todos os pacientes que estão hoje nas nossas emergências deveriam estar, porque a emergência do hospital deve atender um nível terciário de atenção, que são pacientes mais complexos, que precisam da retaguarda de uma estrutura hospitalar para a resolutividade dos seus casos. Nem sempre é esse paciente que nos procura sobre demanda espontânea. E a estrutura das UPAs ou de UBSs não conseguem dar resolutividade aos casos ou também estão sobrelotadas" - Lara Vieira, superintendente do Hospital Pompéia.