A chuva intensa impediu a realização da tradicional procissão da Sexta-Feira Santa (7), em Caxias do Sul. Por volta de 15h, mesmo horário em que Jesus Cristo foi morto conforme a Bíblia, fiéis sentiram os primeiros pingos caírem do céu, na Catedral Diocesana, na Rua Sinimbu — que seria o ponto de partida do ato. Os religiosos e o bispo dom José Gislon, que acompanhavam a imagem do Cristo Morto, conseguiram apenas descer a escadaria, até que a chuva se intensificou e a caminhada teve que ser cancelada, apenas a alguns metros da Praça Dante Alighieri.
Centenas de fiéis dividiram o espaço da igreja para acompanhar uma oração e a mensagem do bispo, dando sequência à tradição que leva até a Páscoa. Conforme a assessoria da Diocese, mais de mil pessoas participaram da celebração.
Juntaram-se aos religiosos, o grupo que tinha deixado a Paróquia São Pelegrino com a imagem da cruz e conseguiu realizar o seu trajeto. Os fiéis que sairiam da Paróquia do Murialdo e da Paróquia Nossa Senhora de Lourdes ficaram em suas comunidades por conta da chuva. Os grupos trariam, respectivamente, o banner da Campanha da Fraternidade 2023, com a mensagem Fraternidade e Fome, e a imagem de Nossa Senhora das Dores.
— A mensagem da Páscoa deste ano é a solidariedade. A solidariedade porque nós partimos do princípio de que quando celebramos a Páscoa, celebramos o Tríduo Pascal, que nos fala da paixão, ressurreição e morte do Senhor. Essa morte de Cristo é uma entrega para gerar vida. Então, não teria sentido celebrarmos tudo isso e não olhar a realidade daqueles que estão ao nosso redor. E são tantos que estão passando fome também na nossa realidade de Caxias — declara o bispo.
Do lado de fora da Catedral, um grupo permaneceu em uma estrutura coberta para acompanhar a cerimônia. Alguns fiéis buscaram proteção em marquises, como o aposentado Claiton Tadeu Barbosa, 67 anos, que participa todos os anos da celebração da Sexta-Feira Santa, em costume que começou com a mãe dele.
— Sempre venho pela fé que tenho em Jesus... Poderia estar chovendo bem mais do que está, porque se for para ir em um campo de futebol, você vai e fica 90 minutos debaixo d'água por uma paixão por um time. Nenhum time de futebol para o mundo é tão importante quanto Jesus — reflete Barbosa.
Dentro da Catedral, fiéis balançavam lenços brancos, oravam e cantavam. A fé também move quem costuma participar de outra forma da cerimônia. É o caso do músico Michel Ferreira, 30, responsável por tocar o órgão da Catedral. O sentimento de ver a participação dos fiéis é recompensador após diversos ensaios e encontros para poder ajudar na celebração:
— Para mim, é alimentador. É a minha prioridade. Aqui sinto que estou fazendo algo de útil pelo mundo.