A Polícia Civil de Veranópolis apura as circunstâncias da morte de Vilma Girotto Carbonera, 78 anos. Ela foi atacada no pescoço pelo cão da família, um pitbull, na casa onde morava no bairro Renovação. O cão foi adotado há cerca de um ano pelo filho da vítima, que também morava na residência. Atualmente, o pitbull tem dois anos. O ataque aconteceu por volta de 12h40min de terça-feira (14), quando Vilma alimentava o cão. A mulher chegou a ser socorrida e a receber atendimento médico, mas não resistiu aos ferimentos. O corpo da vítima passou por necropsia e o delegado Tiago Baldin aguarda pelo resultado do exame para ter a causa da morte apurada pelo legista. Ele também está à espera do prontuário completo do atendimento médico prestado à vítima.
Os familiares já foram ouvidos pela polícia e, nesta quarta-feira (15), o delegado irá pegar o depoimento de vizinhos, que socorreram Vilma no momento do ataque. De acordo com a polícia, a responsabilização, em casos como esse, só é possível se ficar comprovado que alguém atiçou o animal com a finalidade de atacar a vítima ou em caso de omissão ou descuido na guarda do cão. Baldin afirma que, até o momento, nada indica um homicídio, ainda que culposo (quando não há intenção de matar).
— Não tem nenhum indício que tenha ocorrido uma omissão. Vamos apurar os fatos, mas no primeiro momento temos uma tragédia familiar. Nesse caso, era um cão bem tratado e da família, mas não sabemos se a vítima fez algum movimento brusco com o qual ele não estava acostumado, porque além dela ninguém presenciou o ataque. Tem que ter muito cuidado — alerta o delegado Tiago Baldin.
Ainda conforme ele, com base em relatos iniciais, o cão era bem tratado:
— Ela morava com um dos seus filhos, na faixa dos 40 anos, que adotou esse cão há cerca de um ano. Em princípio, ele era bem tratado. Ficava em um pátio, preso a uma espia (cabo) comprida e tinha bastante espaço para transitar. E não era maltratado. A vítima alimentava o cão três vezes ao dia, de manhã, depois do almoço da família e durante a noite.
As informações apontam ainda que ele era um animal carinhoso, sendo que as crianças da família também interagiam com ele. O delegado ressalta ainda que, apesar de ser um pitbull, ele não tinha as orelhas e o rabo cortados, prática adotada por grande parte dos proprietários de cães dessa raça. Conforme Baldin, na terça, o filho foi descansar depois do almoço e acabou acordado com os gritos da vítima e dos vizinhos.
— Ele ouviu os gritos e os vizinhos tentando acudir, porque o animal já tinha pulado no pescoço da senhora. Em determinado momento, conseguiram desvencilhar o cachorro dela.
Os bombeiros militares de Veranópolis foram acionados e se deslocaram até a casa onde a idosa morava, na Rua José Abruzi. Ao chegar ao local, os profissionais se depararam com a mulher com um ferimento no pescoço. Ela foi encaminhada ao Hospital Comunitário São Pelegrino Lazziozi. Segundo os bombeiros, ela passou por procedimento de reanimação, mas não resistiu. O sepultamento de Vilma ocorreu às 10h30min desta quarta-feira (15), no Cemitério Municipal de Veranópolis. Ela deixa dois filhos, nora e netos.
Já o cão seguia na casa da família até a noite de terça-feira. Como os familiares da vítima estavam muito abalados e manisfestaram à polícia a vontade de não manter o cachorro na moradia, foram orientados a entrar em contato com uma ONG de proteção animal que atua em Veranópolis para doar o animal.
É necessário educar e entender comportamento dos cães
O american pit bull terrier, popularmente conhecido como pitbull, é uma raça criada para produzir cães mais ágeis e resistentes. Ele é fruto do cruzamento das raças bulldog e terrier. Naturalmente, os pitbulls não costumam ser agressivos com as pessoas ou com outros animais. O que ocorre é que, devido à força física e ao porte, os cães têm grande potencial de machucar as pessoas em caso de ataque. Por isso, é essencial que sejam bem controlados e educados, especialmente se começarem a demonstrar algum tipo de agressividade.
Especialista em psicologia canina, Rudinho Bombassaro acredita, após analisar a foto do cão, que ele não é puro, mas, sim, um mestiço de pitbull. Ele ressalta que raças de cães como pitbull, pastor alemão, rottweiler, fila brasileiro, dogue alemão, pastor belga, dogo argentino e doberman possuem um DNA poderoso de segurança e proteção e um instinto de caça muito alto. Isso porque foram criados para a guarda. No caso do pitbull, ele tem maior pressão na mordida.
Ele explica que sempre que atende cães com dificuldades de comportamento, principalmente dominância, reatividade, agressividade, sempre pergunta ao tutor se ele pratica, no mínimo, três pilares de cães equilibrados, educados e obedientes, da forma correta. No caso desse cão, devido ao porte e energia, o primeiro pilar é o exercício.
— Era um cão que que estava em uma corrente e, muitas vezes, ele tem acesso limitado para tudo. Cada vez que ele esticar a corrente por uma situação que ele interprete ser de caça, como por exemplo quando tenta atacar um carteiro, essa corrente estica e dá um tranco no pescoço dele. Mesmo que ele não pegue a pessoa, na cabeça do cachorro ele já fez aquele ato. A pergunta é: quantas vezes esse cão esticou a corrente tentando atacar um humano, um gato ou um outro cachorro? O cão foi amadurecendo, tomando trancos negativos no pescoço, e o pescoço do cão é uma parte muito emocional.
Para ele, essas correções negativas e a falta de exercício levam ao acúmulo de energia e à frustração, e faz com que o cão tenha uma sensação de território muito forte na cabeça dele, pela delimitação da corrente. A restrição, segundo ele, era aquele espaço, que fazia com que ele não conseguisse chegar a lugar nenhum, mas que ele interpretava como uma defesa do território. O especialista menciona ainda a autopreservação e questiona como ele era alimentado:
— Talvez, ela tenha invadido o espaço dele e ele conseguiu alcançá-la. O humano só interpreta que o cão vai morder depois que ele rosna, mas, para mim, o rosnado é a penúltima expressão do cão antes da mordida. Antes disso, ele dá vários indícios de que um acidente vai acontecer. Esse cães mestiços, de raças poderosas, entram numa zona vermelha e acontecem esses acidentes tristes.
Ele acrescenta que a culpa não é do cachorro porque todos nascem bons, sejam eles mestiços, de raça, ou sem raça definida, e que os acidentes acontecem por falta de conhecimento. Por isso, é preciso que os tutores não deixem os cães chegarem a esse nível de reatividade e agressividade.
Já o vice-presidente do Kennel Clube de Caxias do Sul e Coordenador do Conselho Nacional de Adestramento da CBKC, o adestrador César Augusto Beux, ressalta que todos os dias pessoas são atacadas por cães, mas o caso não vem a conhecimento público porque não são cães tão potentes como o pitbull. Para o especialista, que é adestrador do Centro de Adestramento Canino Vale da Neblina, o grande erro das pessoas está em pensar que amor e carinho bastam:
— Os tutores precisam entender sobre leitura de expressão corporal dos cães. O corpo do cachorro nos fala muito sobre o estado físico e mental dele, se ele está confortável ou não, se tem a chance de nos atacar ou não. E é importante que a gente conheça cada cão e saiba o quanto aquele cão é possessivo sobre algum objeto ou se ele se torna agressivo sobre um recurso de sobrevivência, como a comida — alerta ele.
Ele aponta ainda que é preciso respeitar e entender as necessidades da espécie. Beux ressalta que, talvez, esse cão estivesse há algum tempo alertando a vítima através da expressão corporal sobre algo que não estava de acordo. Ele diz ainda que o ideal não é que os cães fiquem amarrados a uma corrente, e, sim, que sejam educados para poder ter um espaço para ficarem livres.
— Muitas vezes, a culpa não está relacionada ao cão, mas ao ser humano, por pensar que não precisa de ajuda e orientação. Tem que educar o cão para que ele tenha o seu espaço, seus horários e não necessite ficar preso a uma corrente. Não que esse tenha sido o fato. Estou falando pela questão de bem estar do cão. Às vezes, os cães acabam mordendo o proprietário devido a uma frustração. Lidar com o estresse é algo que tem que ser ensinado ao cão.
Alertas
- Ficar atento ao comportamento do cão.
- Educar o cão para que ele tenha espaço e rotina.
- Ao comprar ou adotar um cão, é preciso ver também se ele é compatível com o estilo de vida dos adotantes.
- Manter o cão preso não é o ideal, já que isso eleva o nível de estresse, já que ele precisa de exercícios para não acumular energia.
- Estar atento às necessidades de cada espécie e linguagem corporal do cão.
- Não humanizar os cães. Pois isso é maus tratos não respeitar a espécie, além de provocar reações indesejadas
- Para que o cão conviva bem com a família e as pessoas, buscar educar seu cão junto a um profissional de adestramento.