As paredes de estilo manchesteriano e janelas empoeiradas com vidros quebrados pelo tempo anunciam com o barulho fino das telhas soltas o vazio presente nos 53 mil metros quadrados da Metalúrgica Abramo Eberle S/A, a Maesa, em Caxias do Sul. A fábrica, inaugurada em 1948 e tombada como patrimônio público, histórico e cultural foi "abraçada" neste domingo (12) por moradores e apoiadores de que o local se torne um espaço cultural no município.
Máquinas enferrujadas e restos do que um dia foi uma fábrica trazem ao imaginário as possíveis histórias vividas no local. Em coro, o grupo de mãos dadas ao longo da rua Plácido de Castro anunciava que "a Maesa é nossa" e pedie que o espaço seja devolvido para o uso público.
— A Maesa foi um atrativo na época para que o pessoal de fora viesse trabalhar aqui em Caxias. Ela é uma das principais empresas que colaborou para o crescimento desta cidade e é justo que esse espaço seja usado para a comunidade, para quem está aqui e precisa de cultura — conta a diretora da União das Associações de Bairros (UAB) e da Associação dos Amigos da Maesa, Carla Pacheco.
A ideia defendida é que o espaço seja totalmente cultural e que um mercado público seja feito nas dependências do prédio. Conforme os organizadores da Amaesa, a iniciativa prevê a construção de palcos para dança, música e teatro e um centro de eventos.
— Queremos usas esse espaço para trazer grandes eventos voltados para o turismo. A ideia é trazer um turismo de negócios e reunir exposições com a história daqui, histórias da Festa da Uva, histórias do que é Caxias e o que já foi. Essa talvez seja a única oportunidade que a gente tenha de entrar na rota turística da Serra gaúcha — afirma Rúbia Frizzo, ex-secretaria de Cultura do município, arquiteta e diretora da Amaesa.
Com um projeto da iniciativa privada para a construção de dois hotéis em uma parte do espaço, o grupo defende que moradores ganhariam muito mais com uma iniciativa cultural, que consideram precária na cidade, "mais do mesmo". Em todo o quarteirão que a Maesa ocupa, um lago e uma praça revitalizados poderiam ainda cativar caxienses para passeios e momentos de lazer em família.
— Esse é um prédio histórico que deu vida a esta cidade e nosso dever é preservar muito bem preservado. Isso é patrimônio histórico que tá aqui e deve ter essa preservação, porque uma cidade sem história, não é uma cidade — afirma Valdir Walter, presidente da UAB.
A iniciativa de tornar o local voltado totalmente para o setor cultural de Caxias é apoiada por comerciantes e microempreendedores que trabalham com artesanato e produtos feitos a mão. Os profissionais costumam exibir os produtos feitos em feiras que ocorrem pontualmente na cidade.
Conforme os organizadores, se o local for destinado à iniciativa cultural, feirantes de todo município terão espaço para expor e, economicamente, Caxias do Sul terá um novo incentivo.
Para as expositoras Rutiane Novais, que trabalha com plantas feitas com técnica japonesa, e Sandra Trindade, que faz laços e acessórios infantis, a iniciativa contribuiria para maior visibilidade aos feirantes.
— É muito importante reunir as pessoas numa ação desta, porque a gente quer cultura mesmo, que incentive as pessoas a verem nossos produtos. Não queremos shoppings, queremos uma coisa cultural mesmo para o pessoal ter um local para visitar, passear, conhecer e consumir, tudo dentro do nicho cultural — pontuam.
Ao longo deste domingo, de acordo com o presidente da Amaesa, Paulo Sausen, os visitantes que participem da ação de "abraço" poderão conhecer as dependências da fábrica e ouvir, por meio de um vídeo exibido em um dos ambientes da fábrica, a história do local e de trabalhadores que fizeram parte da empresa.