CORREÇÃO: O nome da empresa que mantinha contratos com os trabalhadores baianos resgatados em operação contra trabalho análogo à escravidão em Bento Gonçalves é Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde Ltda, e não Fênix Serviços de Apoio Administrativo. A informação errada foi informada pelo advogado Rafael Dorneles da Silva, que se diz defensor da empresa investigada e ficou publicada do dia 26/02/2022 até 16h de 27/02/2022. O texto já foi corrigido.
Depois de dias de pesadelo em Bento Gonçalves, 194 dos 207 trabalhadores encontrados em condições de trabalho análogo à escravidão estão perto de voltar para casa. No início da tarde deste domingo (26), o grupo, que está retornando para Bahia, estava passando por Minas Gerais (MG). A viagem se iniciou na noite de sexta-feira (24) e a previsão é de que os homens cheguem ao destino na madrugada de segunda-feira (27).
— Só queremos ver nossa família — relata um dos trabalhadores que está voltando para casa.
Dentro do grupo de 207 trabalhadores resgatados, quatro baianos decidiram permanecer na Serra e outros nove resgatados são gaúchos. Os moradores do Estado também devem voltar para casa nesta semana, em direção aos municípios de Rio Grande, Montenegro, Portão e Carazinho.
Os 207 homens resgatados ficaram no Ginásio Municipal Darcy Pozza da manhã de quinta-feira (23) até a noite de sexta, após serem resgatados na pousada em que estavam morando. Antes de deixar o município, os trabalhadores receberam R$ 500 da Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde Ltda, empresa contratante, como parte do pagamento. A Fênix tem até esta segunda para quitar todas as verbas rescisórias.
De acordo com a Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos do Rio Grande do Sul, o governo da Bahia se comprometeu em esperar os trabalhadores com equipes da assistência social em cada município de chegada.
— Estão todos ansiosos para chegar e abraçar sua família — descreve o trabalhador, não identificado por questão de segurança, sobre o clima no grupo.
Relembre o caso
O caso dos trabalhadores em situação análoga à escravidão foi denunciado após seis homens conseguirem fugir do local onde eram mantidos e buscar contato com a Polícia Rodoviária Federal, que prestou auxílio e deu início à operação.
Um dos denunciantes já havia gravado vídeo com um celular e publicado em uma rede social reclamando das condições de trabalho. Ele relata que foi agredido pelos supostos empregadores por isso. O homem contou à polícia que aproveitou quando os agressores foram atender uma ligação e pulou de uma janela, correndo até um mato próximo do local onde estava. Ele e mais dois trabalhadores, que estavam com ele, aguardaram até as 3h da quarta-feira (22) para sair e pedir ajuda.
Ainda na quarta, uma operação conjunta de PRF, Polícia Federal (PF) e MTE flagrou 180 homens no alojamento, em situação precária de hospedagem, higiene e alimentação. À equipe, trabalhadores relataram que sofriam violência verbal, física, ameaças de morte e eram alimentados com comida estragada.
Após o primeiro flagrante, outros 27 homens foram resgatados, na quinta, e encaminhados ao ginásio.
O aliciador da mão de obra e administrador da empresa Fênix Serviços Administrativos e Apoio à Gestão de Saúde Ltda, Pedro Augusto Oliveira de Santana, chegou a ser preso ainda na quarta, mas foi liberado no dia seguinte após pagar fiança de R$ 39.060. Natural de Valente (BA), o empresário está sendo investigado. Ele trabalharia na região, com prestação de serviço, há pelo menos 10 anos, conforme o MTE.
Os homens resgatados atuavam, principalmente, na colheita da uva, em propriedades rurais do município. As três vinícolas — Aurora, Cooperativa Garibaldi e Salton —, citadas pelos trabalhadores e que contrataram o serviço terceirizado da prestadora, afirmaram em notas não ter conhecimento da situação em que os homens eram expostos até a operação, e que irão colaborar com a investigação.
As investigações seguem com o MTE, Ministério Público do Trabalho (MPT) e Polícia Federal (PF).