Em forma de protesto, funcionários do setor de raio-x do aeroporto Hugo Cantergiani, em Caxias do Sul, realizaram uma operação padrão que atrasou o embarque de um voo na manhã desta terça-feira (4). O motivo são pendências em pagamentos dos salários, principalmente de uma empresa responsável pelo serviço que faliu em junho.
O voo da Latam para Guarulhos, que deveria ter decolado às 10h10min, partiu apenas às 11h03min. O atraso ocorreu porque a sala de embarque, que costuma ser aberta às 8h, foi liberada apenas às 9h35min, cinco minutos após o pouso da aeronave. Isso retardou todos os procedimentos pré-decolagem. Além disso, a inspeção de bagagens e dos passageiros ocorreu de forma mais lenta.
Adriana Camatti, 49 anos, que trabalha como diretora administrativo-financeira, tinha reunião marcada em São Paulo para as 14h, mas precisou remarcar para as 16h.
— Cheguei às 9h10min e a fila já estava formada, mas o embarque não estava aberto ainda — observou enquanto aguardava na fila.
Os funcionários têm valores a receber referente aos meses de abril, maio e junho. São, ao todo, cerca de R$ 10 mil para cada um dos 17 trabalhadores do setor, entre salários, benefícios e rescisão. O valor deveria ter sido pago pela empresa Bravsec, que operava o serviço desde o fim de 2018, mas decretou falência, rescindindo o contrato com o Estado em 16 de junho. Desde então, o Departamento Aeroportuário do Estado (DAP), disse que pagaria ao menos parte dos valores devidos, mas o dinheiro ainda não foi liberado.
Para manter o serviço, que também inclui controle de acesso de funcionários, tripulação e veículos, o DAP contratou de forma emergencial a empresa CM3 Atividades Auxiliares de Transporte Aéreo, que absorveu os funcionários de Caxias. A terceirizada assumiu a operação há três meses, mas até agora não recebeu nenhum repasse mensal de R$ 88 mil por parte do DAP. O motivo são os trâmites para formalização do contrato, que ainda estavam em andamento. Os salários têm sido garantidos com recursos próprios da empresa, mas os funcionários dizem que já há sinais de atrasos em benefícios.
— É a única maneira que temos de protestar — diz um dos funcionários ouvidos pela reportagem, que não quis se identificar.
O diretor do aeroporto, Maurício D'Ávila, tem intermediado a situação junto ao DAP e levou a situação ao conhecimento da administração municipal de Caxias. Conforme ele, o DAP disse ter liberado na segunda-feira (3) os valores à CM3, mas até a hora do voo o pagamento não havia sido confirmado. Sobre as pendências da Bravsec, o acordo, segundo ele, é para pagar diretamente aos funcionários sem passar pela empresa. Os recursos, ainda de acordo com D'Ávila, já estão na Secretaria da Fazenda do Estado.
— É um pagamento que pode sair a qualquer momento — afirma.
Se a regularização do pagamento não ocorrer até sexta-feira (7), os funcionários devem seguir com a manifestação no aeroporto Hugo Cantergiani. Para esta terça devem ocorrer atrasos nos voos que saem de Caxias às 14h55min pra Campinas (SP) e às 17h25min pra Guarulhos (SP).
Empresa deu prazo ao Estado
O diretor executivo da CM3, Claudio Alves, diz que as tratativas tem evoluído junto ao DAP e que em nenhum momento a empresa deixou de ser recebida pela direção do órgão. No entanto, a companhia está próxima do limite para suportar as despesas sem os repasses. Por isso, a terceirizada formalizou um prazo até a próxima sexta-feira (7) para que as duas notas pendentes sejam quitadas. Caso contrário, o contrato será rescindido. O contrato foi formalizado na última sexta-feira (30).
— Temos um limite. Não podemos sacrificar outros contratos em nome de um contrato que não é pago — afirma.
O DAP disse que o pagamento à CM3 já foi liberado pelo setor responsável e pode ser regularizado ainda nesta terça-feira. O órgão justificou que o atraso ocorreu em função da substituição da Bravsec. Sobre as pendências da empresa falida, o órgão estadual disse que se comprometeu a pagar apenas os salários atrasados e que os recursos serão liberados em breve, após a conclusão de trâmites internos.