"Você não pode ajudar todo mundo, mas todo mundo pode ajudar alguém". A frase de autor desconhecido inspirou o empresário César Bettiol, 57 anos, a reproduzir na frente da sua loja de suprimentos de escritório, em Caxias do Sul, uma iniciativa já conhecida, principalmente na chegada do inverno. Com objetivo de concentrar doações e oferecer os donativos a quem passa e precisa, os chamados varais solidários costumam aparecer em praças, paradas de ônibus e em frente a escolas. O conceito é simples, se precisar leve, se estiver sobrando deixe.
No entanto, a ação demanda engajamento da comunidade para que o varal, ou a estante no caso em questão, tenha suas roupas, calçados e alimentos repostos. E é o que ocorre há quatro meses no bairro São José. Posicionada na Rua Frei Pacífico, na esquina com a Rua Fortunato Mosele, a estante é diariamente alimentada pela comunidade e se tornou um ponto de encontro onde a solidariedade é posta em prática.
A insistência do clima frio, que não se despede da Serra mesmo com a chegada da primavera, e a crescente população em situação de rua, são os motivos encontrados por Bettiol para que não haja um dia sequer sem que a estante seja procurada por quem precisa de agasalhos.
— Começamos em junho com calçados e roupas de crianças, mas já teve lençol, cobertores e até utensílios para casa. Quando alguém deixou uma boa quantidade biscoitos, nos chamou a atenção que eles não foram recolhidos todos de uma vez, mas aos poucos e por mais de uma pessoa — contou o empresário que acompanha o movimento da estante de dentro do escritório e com frequência responde perguntas sobre a iniciativa.
Segundo ele, são diversas pessoas que pedem licença para registrar a ação e até replicar a ideia em suas empresas. O interesse da comunidade, aliás, é uma das surpresas geradas pela Estante Solidária aos seus idealizadores. O que começou de forma despretensiosa e poderia até acabar, devido à falta de donativos e à procura pelas doações, se mantém vivo com a ajuda de quem alimenta a iniciativa e o bom senso de quem recolhe.
— Me surpreende como as pessoas pegam só o que realmente precisam. E se ainda não conhecem, procuram se informar se é isso mesmo. Nos pedem se podem realmente recolher o que a prateleira (estante) tem a oferecer naquele dia — contou Bettiol, que todas as manhãs desloca a estante de dentro da loja para a calçada.