O Restaurante Popular de Caxias do Sul, que disponibiliza almoço por R$ 1 a pessoas em situação de vulnerabilidade, está servindo refeições em novo endereço. A partir desta segunda-feira (5), o serviço passou a ser realizado na sede da União das Associações de Bairro (UAB), na Avenida Independência, 2510, bairro Panazzolo - atrás do Fórum.
Desde que reabriu para a comunidade, em março de 2021, sob gestão da Associação Mão Amiga, 70 pessoas por dia, em média, eram servidas na sede, que tem capacidade para até 200 refeições simultâneas e que foi preparada especialmente para o projeto, na Rua Sinimbu, 96, bairro Nossa Senhora de Lourdes. Com a mudança, as marmitas continuam sendo preparadas no restaurante, sendo transportadas até a UAB, onde são servidas das 11h às 12h.
A mudança de endereço foi determinada pelo Poder Público, atendendo à demanda de comerciantes do entorno do restaurante, que estavam insatisfeitos com a circulação de usuários do serviço. Segundo o prefeito Adiló Didomenico, a reclamação se referia aos carrinhos que eram estacionados em frente às portas de lojas durante o período da refeição.
— O movimento de veículos e ônibus é intenso e este pessoal normalmente está no seu ganha-pão, com carrinho, e não têm como abandonar longe e ir almoçar. Tem um volume de lojas com portas pra rua, e os carrinhos acabavam sendo estacionados nas portas das lojas. Não podemos permitir que este tipo de trabalho que é feito com muito amor pelo Mão Amiga adquira antipatia da comunidade. Temos que ter este cuidado e aqui achamos que também é um bom lugar, limpo, organizado, seguro, onde podem vir com seu carrinho, deixar no espaço de estacionamento e que não deixa de ser um espaço central — afirmou o prefeito, que acompanhou presencialmente o primeiro dia do serviço em novo endereço.
Uma comerciante, que preferiu não se identificar, relatou que, além dos carrinhos, a circulação dos usuários do serviço também vinha gerando insegurança. Ela disse que chegou a registrar boletim de ocorrência na Polícia Civil por conta de uma briga que adentrou o estacionamento de sua loja e relata queda de faturamento desde a implantação do serviço, por conta de usuários que, segundo a proprietária, sentavam em frente às vitrines para ficarem consumindo bebidas alcoólicas antes de almoçarem no Restaurante Popular.
O frei Jaime Bettega, que integra o projeto Mão Amiga, diz que a mudança não era uma vontade da entidade, inclusive pelos investimentos realizados para adequação do espaço ao atendimento. Segundo ele, o local será ocupado por cursos do centro de formação que já funciona no prédio:
— Tivemos alguns desafetos, no sentido de violência, mas entendíamos que poderíamos ter ficado. Fizemos várias tentativas até que a UAB abriu este espaço onde pessoas em situação de rua podem receber o almoço e sentar, com dignidade, fica um lugar próprio e adequado, também, embora a gente lamente porque aquele lugar tinha ficado realmente muito bonito. Queremos que a permanência aqui seja por muito tempo e que a gente não esqueça essa missão de dar comida a quem tem fome. E que a gente tenha paciência, porque se eles não receberam afeto ao longo da vida, talvez agora tenham dificuldade de serem bons e afáveis na convivência humana. Não sei como nós seríamos se tivéssemos fome e tivéssemos que ir atrás de comida todos os dias na lixeira ou algum outro lugar. O que não cabe a nós é julgar. Caxias tem uma bondade imensa mas, às vezes, a gente ajuda e não quer que os olhos alcancem aqueles que estão desprovidos da dignidade.
A cozinha do Restaurante Popular prepara, diariamente, um total de 1.280 refeições, que também são destinadas a pontos de distribuição nos bairros Esplanada, Cânyon, Reolon, Campos da Serra e Charqueadas.
Sempre que fica sem trabalho, o autônomo Hilário da Silva Oliveira, 62, que mora no bairro Planalto, acaba recorrendo ao almoço do Restaurante Popular. Para ele, a mudança de endereço não gerou impactos:
— Pra mim não muda muito, porque venho uma vez ou outra, quando tô pela região do Centro — declarou.
Nesta segunda-feira, ao chegar na sede da Sinimbu, ele e outros usuários foram orientados a buscar a refeição na UAB, onde o serviço deverá funcionar de forma permanente. Segundo o presidente da associação, Valdir Walter, o atendimento inicialmente disponibilizado no Ponto de Cultura Casa das Etnias será transferido para uma sala que fica em outra parte da sede. O movimento deverá ocorrer nas próximas semanas, assim que forem concluídas as obras de recuperação do telhado.
— São pessoas iguais a nós, pessoas normais, e temos que acolher porque sabemos das grandes dificuldades que enfrentam e se não fizermos isso é mais um povo que infelizmente vai ficar abandonado. A UAB sempre foi acolhedora e sempre lutará pela dignidade de todo mundo. Essas pessoas tiveram algum problema na vida e não é por isso que vamos abandoná-las — disse o presidente da UAB.
Representantes da prefeitura, UAB e Mão Amiga participaram de um ato realizado pouco depois das 11h desta segunda-feira, oficializando o novo endereço, onde a moeda do Mão Amiga — comercializada em diversos pontos da cidade para doação a pessoas em situação de vulnerabilidade — continua sendo aceita. O primeiro dia de almoço no local também contou com a apresentação voluntária do saxofonista Paulo Cesar Johann.