Em menos de um mês, Caxias do Sul ganhará um centro de coleta e armazenamento de células-tronco. A iniciativa é da UCS, que já soma 15 anos de pesquisa sobre o tema. O objetivo do centro, que será inaugurado no dia 4 de julho, é ser o propulsor no armazenamento e uso da terapia celular para o tratamento de doenças na região.
As células-tronco têm o potencial de renovar tecidos danificados e podem auxiliar no tratamento de doenças como câncer, lesão da medula espinhal, doenças genéticas, Acidente Vascular Cerebral (AVC), mal de Parkinson, mal de Alzheimer, além de doenças degenerativas de músculos e cartilagens e cardíacas.
Conforme o vice-reitor da universidade, Asdrubal Falavigna, o centro irá fazer a coleta de qualquer pessoa interessada para uso posterior no tratamento de alguma doença ou para regeneração de algum tecido. Ele explica que a retirada poderá ser feita tanto do palato (mucosa) quanto do tecido subcutâneo do abdome — fica a critério do paciente. As células podem ser mantidas ao longo de toda a vida da pessoa e retiradas quando existir a necessidade de reutilização.
— A retirada é uma intervenção simples. É uma anestesia local simples. É um procedimento de 20 minutos, muito mais simples que uma anestesia para a retirada de uma cárie. É um procedimento bastante tranquilo e indolor — acrescenta.
O centro ficará dividido em dois blocos do campus-sede. A coleta de células do palato será feita no Centro Odontológico, no Bloco S, e a coleta do subcutâneo no Centro Clínico, no Bloco 15. A partir da inauguração do centro, interessados já poderão procurar o serviço, que terá custo de R$ 6 mil para a coleta e R$ 890 por ano para o armazenamento — valor a partir do segundo ano para a manutenção do armazenamento. O processo precisará ser agendado e irá envolver, antes da coleta, pré-cadastro, assinatura de contrato e exame clínico.
Aplicação
A segunda fase do projeto prevê a abertura de um laboratório de terapia celular humana para utilização das células armazenadas no centro de coleta. O espaço irá permitir o isolamento, multiplicação e indução celular. Ele está em fase de planejamento e a expectativa do vice-reitor é que possa ser inaugurado em novembro.
— A pessoa teve um AVC e quer fazer a recolocação de células na área do cérebro afetado: é para isso que teremos esse laboratório — exemplifica.
A intenção da UCS é estimular o desenvolvimento de terapias avançadas com células-tronco com protocolos acessíveis. A universidade também espera contar com os governos para a oferta do serviço.
Uso do grafeno
Reconhecida nos últimos anos pelas pesquisas com grafeno e a inauguração do UCS Graphene, em 2020, a universidade trabalha para aplicar o material nos estudos com células-tronco. Conforme Asdrubal Falavigna, que é também neurocirurgião, alguns testes já foram feitos e outros ainda serão realizados para encontrar o grau de pureza necessário do grafeno para manter as células viáveis:
— O grafeno deve estar numa constituição química adequada para que as células se mantenham vivas, ativas. Eu imagino que em torno de 30 dias a gente já tenha algo escrito sobre.
De acordo com o vice-reitor, a capacidade de transmissão e estimulação elétrica e condutividade do grafeno é muito grande, o que pode estimular as células a crescerem. Por isso, o uso do material nas pesquisas com célula-tronco.
— Onde coloco essa célula junto com o grafeno tenho um efeito sinérgico. Principalmente para tecido nervoso, ele tem uma sinergia muito boa, porque as células vão ser constantemente estimuladas a se manterem em crescimento e com conexões elétricas ativas. Essa combinação é extremamente promissora — diz.
Inauguração
A cerimônia de inauguração será no dia 4 de julho, às 14h, no Salão de Atos do Bloco A. Haverá palestras sobre células-tronco e medicina regenerativa. Mais informações sobre o centro pelos telefones (54) 3218-2514 e (54) 99652-7273 (WhatsApp) e e-mail clinicaodontologica@ucs.br
O QUE SÃO CÉLULAS-TRONCO
- As células-tronco são tipos de células que podem se diferenciar em células com funções muito especializadas, constituindo diferentes tipos de tecidos do corpo. Em termos práticos, são células que têm o potencial de recompor tecidos danificados e, assim, auxiliar no tratamento de doenças.
- Elas surgem no ser humano, ainda na fase embrionária. Após o nascimento, alguns órgãos ainda mantêm dentro de si uma pequena porção de células-tronco, que são responsáveis pela renovação constante desse órgão específico. Essas células conseguem se reproduzir, duplicando-se, gerando duas células com iguais características e diferenciar-se, ou seja, transformar-se em diversas outras células de seus respectivos tecidos e órgãos.
- Conforme o vice-reitor, as células podem ser retiradas e armazenadas para, quando necessário, serem utilizadas na promoção do diagnóstico, testagem de drogas ou para ser realizado um tratamento efetivo, preciso e personalizado de doenças futuras. As células-tronco têm papel crucial na reparação programada de funções perdidas, segundo Falavigna.