Morreu nesta quarta-feira (29) Idiati Macan Mondin, que ficou conhecida por alimentar diariamente os pombos na Praça Dante Alighieri, em Caxias do Sul. Ela tinha 86 anos. Nascida em 29 de setembro de 1935, Idiati tinha há anos a rotina de ir à praça para alimentar e dar água às aves, duas vezes na semana.
Defensora ferrenha dos animais, chegava a distribuir 15 sacos de 25 quilos de comida. Certa ocasião, denunciou a morte de diversos pombos no local à prefeitura. Mais tarde, se descobriu que as aves haviam sido envenenadas, mas nunca se chegou à autoria do crime ambiental.
A aposentada foi cremada no Memorial Crematório São José, no final da tarde. Uma despedida com cerimônia ocorreu no mesmo local. As causas da morte não foram divulgadas.
Grande amor e dedicação pelas pombas
A reportagem esteve na tarde desta quarta-feira na Praça Dante Alighieri, onde dona Idiati passou parte da vida, para conversar com frequentadores do local. Quem passava por ali e ouvia o assunto da conversa, parava e questionava "vocês estão falando da senhora dos pombos?". Personagem marcante em Caxias do Sul, a aposentada deixará saudade a quem acompanhava a rotina de alimentação por anos, segundo a funcionária da Codeca, Vera Lucia Velho, 60 anos.
Vera trabalhava no turno da noite e, há um ano, foi transferida para o dia, na limpeza da Dante Alighieri. Logo, o diálogo com dona Idiati iniciou, quando muito foi compartilhado o amor e a dedicação que a senhora tinha pelas pombas.
— A gente sentiu falta dela. Fazia dias que a gente não via mais ela. Sempre alguém perguntava e a gente não sabia nem o que dizer. A gente sentiu (falta), as pombas sentiram também. Ela viveu uma vida para as pombas — disse Vera, ao saber pela reportagem do falecimento da aposentada.
Com sol ou chuva, dona Idiati ia até a Praça para alimentar as aves. Muitas vezes, sem roupa o suficiente para se proteger do frio caxiense, o que pode ter piorado o estado de saúde, conforme acredita a funcionária da Codeca. Inclusive, em 2013, uma lei proibindo a criação, manutenção e a alimentação de pombos domésticos em vias, praças, prédios e locais de acesso público na zona urbana de Caxias foi criada, visando evitar a prática. Entretanto, a legislação nunca conseguiu parar a aposentada, que em certa ocasião, disse à Vera estar cumprindo uma promessa.
— Ela vinha até mais que duas vezes (ao dia). Ela vinha às vezes duas vezes na manhã e duas à tarde. Aquele cantinho ali (apontando para o local) era o local exato. Ela vinha ali, despejando quilos de milho. Quando chegava, as pombas já vinham descendo, conheciam ela, sabiam que era comida. Quando ela encontrava alguma pomba doente, levava para casa para tratar — conta Vera.
À espera pelo sinal vermelho
Taxista na Praça Dante Alighieri há 32 anos, Claudir Silveira, 55 anos, encontrava muito dona Idiati na esquina da Rua Marquês do Herval com Avenida Júlio de Castilhos. Inclusive, sabia que a aposentada estava chegando, pois as pombas já começavam a se movimentar. Nestas horas, ele sabia: Idiati estaria no meio da quadra, atenta à sinaleira. Se estivesse para fechar para os pedestres, era hora de diminuir o passo, para que as pombas não ficassem em cima da faixa, correndo o risco de serem atropeladas.
— Ela ficava meio para trás ali (aponta para o meio da quadra), e só chegava perto da esquina quando o sinal estava para abrir — afirma Silveira.