O alto índice de casos de doenças respiratórias em Caxias do Sul não tem impactado apenas a rede de saúde do município, mas reflete também nas escolas da cidade. A reportagem buscou dados sobre o número de professores afastados no município. No entanto, a Secretaria Municipal de Educação (Smed) informou que não há levantamento segmentado por categoria de profissionais afastados. A Secretaria Municipal de Saúde (SMS) também informou que não possuía esse recorte.
O Pioneiro contatou as 83 escolas municipais. Destas, 43 atenderam e as demais estavam com as equipes ocupadas ou com problemas no telefone. Em 15 dessas 43 escolas há professores ou funcionários afastados por doenças respiratórias, totalizando 23 pessoas até o final da manhã desta segunda-feira (6). São casos de covid-19 e Influenza (H1N1, H3N2 e gripe comum). Não há relatos de turmas ou escolas fechadas, mas o afastamento dos profissionais impacta o dia a dia das escolas e até mesmo a retomada do aprendizado. Como nem todos repassaram as informações, esse número pode ser ainda maior.
Para se ter uma ideia, em maio, dessas 43 escolas, 34 tiveram professores afastados, sendo mais de dois ao mesmo tempo, totalizando 84 profissionais afastados. Em uma delas havia sete professores fora das atividades ao mesmo tempo e, em outra, seis. As equipes diretivas, que preferem não se identificar, demonstram preocupação com o aumento de casos, especialmente pelo impacto provocado nos alunos, que também têm faltado mais às aulas em função das doenças. A presidente da comissão de diretores, Ângela Honorato, diretora da Escola Municipal de Ensino Fundamental Afonso Secco, na Parada Cristal, na região de Ana Rech, solicitou à reportagem que buscasse os dados com Smed, Vigilância Sanitária e Biometria do município.
— O relato que eu tenho das escolas é que está muito difícil trabalhar com as equipes reduzidas em função dos muitos afastamentos, não só pela covid-19, mas por Influenza e síndrome gripal também. Não temos relatos de turmas ou escolas que tenham parado em função disso. Seguimos trabalhando e dando conta quando os colegas se afastam e dando o melhor possível diante desse quadro reduzido — destaca Ângela.
Cenário na rede municipal
Na Escola Padre Antônio Vieira, no bairro São José, há cinco professores afastados. O retorno deles está previsto para até esta terça-feira (6). A diretora Judith Elisa Paim ressalta que nas duas últimas semanas houve casos de famílias com Influenza, covid-19 e alunos com asma e bronquite.
— Percebemos mais casos, especialmente nessa última semana. Temos cinco professores afastados que retornam. Nem quando retomamos as aulas havia um cenário assim na escola e noto que começou quando foi facultativo o uso da máscara. Nunca tinha sido assim. Logo que voltamos, ficamos quase dois meses sem nenhum caso. A gente recomenda e tem pedido aos alunos que usem a máscara. Ela não é mais obrigatória, mas pedimos que usem. O professor gripado vem de máscara e fica na escola, mas temos a orientação que alunos com sintomas não venham porque ficam em um grupo maior — ressalta Judith.
Na Escola Municipal Angelina Sassi Comandulli, no bairro Santa Fé, o Conselho de Classe precisou ser reagendado porque quatro professores estavam afastados ao mesmo tempo por doenças respiratórias. Os afastamentos são necessários até que seja feito o teste e saia o resultado para saber se o profissional está infecatado com coronavírus ou Influenza, e quando pode retornar.
— Entre os alunos, no dia 18 de maio tínhamos turmas com 10 alunos em casa. Mandamos em média umas oito crianças que chegam com dor de garganta, dor de cabeça ou febre para casa. As faltas, tanto da equipe, quanto dos estudantes, comprometem o aprendizado pedagógico — acredita a vice-diretora do turno da manhã, Daiane Marcolin.
Em outra escola da Zona Norte, na Presidente Tancredo de Almeida Neves, o diretor Vagner Peruzzo avalia que 2022 é um ano atípico em relação à quantidade de estudantes afastados por gripe ou outras doenças respiratórias.
— As faltas se dão por dois motivos. Temos atestados por conta dos resfriados e gripe. Outro fator são as condições climáticas associadas aos meses de distanciamento da presencialidade (adaptação à escola, às relações ou necessidade de sair da zona de conforto).
Preocupação com o ensino
Das 43 escolas que atenderam a reportagem, apenas quatro consideram o cenário semelhante ao de outros anos. As demais mostram preocupação com os dificuldades para manter as atividades quando o quadro não está completo, e também com o reflexo que provoca nos estudantes, especialmente nos pequenos, que estão na séries iniciais e em processo de alfabetização.
— Agora está tranquilo mas, em maio, tivemos afastamento por covid-19 e sintomas gripais e chegamos a ter quatro ou cinco afastados ao mesmo tempo. Foram dias complicados porque os profissionais de apoio também foram afastados, o que reflete em toda a escola. Entre os alunos também percebemos um percentual maior de faltas para essa época porque são muitos casos — afirma uma diretora, que prefere não se identificar.
Outra diretora, que também tem a identidade preservada, ressalta que o colégio teve quatro professores afastados em maio, sendo dois ao mesmo tempo.
— É um horror porque há dias em que temos que deslocar até a direção para estar em sala de aula. Entre as crianças, todos os dias, há alguma com sintoma gripal. O frio de Caxias impacta também no ambiente escolar. Temos nos organizado para fornecer os conteúdos e não perder o contato, especialmente com os que estão se alfabetizando. Acredito que seja necessário repensar estratégias de saúde pública controle, não de maneira exagerada, como no começo, mas com algumas medidas.
Outra diretora concorda que é necessário rever as estratégias no ambiente escolar:
— Há casos mais graves, daí é necessário aguardar o retorno e ir monitorando. Acho que as máscaras deviam voltar porque o frio dificulta a manutenção dos ambientes bem ventilados sempre e parte dos alunos não fez e não fará vacina.
Avaliação da Smed
O aumento de casos de doenças respiratórias tem sido constante em Caxias. De abril para cá, a média de atendimentos foi de cerca de 35% a mais nas unidades de pronto-atendimento (UPAs) em razão de sintomas respiratórios. A secretária municipal de Educação (Smed) de Caxias, Sandra Negrini, avalia que esse cenário se reflete em todos os setores.
— As doenças respiratórias estão em todas as instituições e, nesse ano, se agravam em função do inicio do frio e da umidade ter sido antecipado e também pelas pessoas já estarem com menos resistência porque muitas foram contaminadas pela covid-19. Fica mais evidente em função do número de pessoas que circulam no ambiente escolar. Se for olhar no todo, o número de profissionais que se afastam é considerado normal. Está um pouco maior agora, mas em virtude dessas condições climáticas.
A secretária ressalta que isso tem ocorrido também nas escolas de Educação Infantil, das quais o município compra vagas. Sandra ressalta, no entanto, que não teve registro de alguma escola sem condições de disponibilizar aulas presenciais. Ela lembra que no ano passado foi apontada a questão da defasagem no ensino e que as escolas do município tem buscado recuperar essas perdas:
— Já identificamos um déficit na aprendizagem em função da pandemia. Isso tem sido retomado com o Programa de Recuperação da Aprendizagem, e os alunos que estão afastados podem fazer atividades compensatórias. As escolas têm esse mecanismo. Hoje, temos 13 professores faltando na rede, mas que estão sendo nomeados para completar os quadros.
Sobre as máscaras, a secretária lembra que as escolas não deixaram de recomendar o uso, mas a obrigatoriedade do uso depende de orientação do COE estadual e, até o momento, não há nada nesse sentido.