Com déficit no número de pediatras na rede pública, Bento Gonçalves viu fracassar uma nova tentativa de contratação de profissionais dessa especialidade. Em processo seletivo simplificado, aberto há pouco mais de 30 dias com 14 vagas ofertadas, apenas dois profissionais se inscreveram e apenas uma finalizou o processo.
O contrato oferecido era para plantões de 12 horas semanais, intercaladas com 36 horas de descanso. Na prática, isso significa trabalhar um dia e folgar dois, recebendo uma remuneração de R$ 20,4 mil com férias, décimo terceiro e outros benefícios. O salário representa o teto do funcionalismo público municipal, limitado pelos vencimentos do prefeito, e foi proposto após tentativas anteriores, via concurso, também terminarem sem interessados.
A falta de interessados reflete o baixo número de pediatras no mercado e a dificuldade do setor público, especialmente em cidades menores em conseguir atrair os profissionais. O processo seletivo simplificado demanda inscrição e apresentação de documentação, mas não exige prova como em um concurso. Além disso, permite ao município ajustar o salário para tentar tornar o cargo mais atrativo sem precisar alterar a legislação. Foi essa a opção seguida peça prefeitura para tentar ao menos reduzir o déficit atual.
— A gente vê que a situação só se agrava. Realmente tem poucos profissionais e não sei como vai ser daqui a alguns anos. Não sou pediatra, mas na pediatria a demanda dos pacientes é mais alta, então acho que isso acaba gerando desinteresse. Nos municípios o teto do salário é o do prefeito e sabemos que o salário do mercado muitas vezes é maior — avalia a secretária de Saúde de Bento, Tatiane Misturini Fiorio.
Segundo Tatiane, a única inscrita a finalizar o processo de seleção é uma profissional que atuava na rede pública da cidade de São Paulo. Ela está em processo de desligamento do antigo trabalho e a previsão é de que assuma o cargo em Bento até o fim do mês. Ela irá atuar nas unidades básicas de saúde (UBSs) do município.
Atualmente, Bento conta com seis pediatras nas UBSs e outros dois no Pronto Atendimento, mas o número é insuficiente para a demanda. Com a proximidade do inverno, o número de crianças com doenças respiratórias também aumentou, o que agrava o problema. Por isso, clínicos gerais também atuam nas consultas ao público infantil.
— O Conselho de Medicina permite que profissionais clínicos que se sintam aptos atendam crianças — explica Tatiane.
Após a conclusão do processo de contratação da pediatra inscrita na seleção, o município deve avaliar outras alternativas para tentar preencher as vagas restantes. Em tentativas anteriores, até mesmo universidades foram procuradas para auxiliar no recrutamento.
Em Caxias do Sul, a Secretaria da Saúde afirmou que não há falta de pediatras no momento, mas que há a necessidade de ajuste de carga horária entre uma UBS e outra em função de licenças de saúde. Além disso, a pasta disse que os especialistas costumam assumir quando são chamados em concurso. O certame mais recente, com provas aplicadas no último dia 15, teve cinco interessados para o cadastro reserva de pediatria.