Se as 7,5 mil caixas de leite do consumo mensal interno na Penitenciária Estadual de Caxias do Sul (PECS) tinham como o lixo o destino certo, aos poucos, a destinação está sendo bem diferente. Isso porque, através do trabalho realizado por três apenados do Apanhador, as caixas tornam-se painéis de isolamento térmico para moradias de famílias em vulnerabilidade social.
O projeto, iniciado em janeiro, é uma parceria da PECS com as secretarias de Habitação e Obras e, após a entrega de uma casa utilizada como piloto, está sendo analisada a viabilidade de oficializar a ação, o que pode beneficiar as mais de 20 mil casas em condições precárias estimadas, pela prefeitura, em Caxias.
A casa que serviu de projeto piloto é da aposentada Ivete Rodrigues, que mora com mais quatro pessoas no bairro Bom Pastor. Ela mora no local há mais de 20 anos e conta que a estrutura sempre foi vulnerável e comprometida, entretanto, a família nunca teve condições financeiras de realizar o conserto.
— Minha casa antes era pequena. Ela estava caindo, chovia dentro. A gente ficava de sombrinha dentro de casa, no inverno era muito frio. Foi sofrido mesmo — desabafa.
A casa entregue foi reconstruída por funcionários da Secretaria de Habitação, que também realizaram a instalação das placas de isolamento térmico produzidas pelos apenados do Apanhador, sendo entregue no final de fevereiro à Ivete. A moradia teve a construção padrão popular, onde foram necessários 50 painéis para fazer a cobertura. A partir deste dado, a prefeitura junto à PECS analisam a possibilidade de dar sequência à ação social.
— Ainda não sabemos o poder de produção que a (Superintendência dos Serviços Penitenciários) Susepe tem, mas ela se colocou à disposição da Habitação para modelar o tamanho dos painéis conforme a nossa necessidade. Essa é a primeira experiência e aí sim, vamos analisar para evoluir — explica o titular da Habitação, Carlos Giovani Fontana.
Ele ainda acrescenta que, caso o projeto tenha andamento, a Susepe já externou o planejamento de coletar a matéria-prima das 20 casas-lares da FASE.
— Nossa ideia é que as casas construídas pela secretaria (de Habitação) sejam feitas dessa forma. Já para as casas que são doadas, a ideia é que a gente doe essa parte (do isolamento) e instrua essas famílias a como fazer a instalação nas paredes — informa o secretário.
Conforme o vice-diretor da PECS, Roberto Gonçalves, são 250 caixas que eram descartadas por dia e, com a ação, os apenados envolvidos agora as lavam, secam e botam na prensa para formar o painel. Ao todo, 10 mil caixas já estão estocadas e cortadas, prontas para serem instaladas.
— A ideia da Susepe é fazer com que os presos estejam engajados no trabalho e ao mesmo tempo dar um retorno à sociedade. Eles estão lá pagando a pena, mas dando um retorno para as pessoas também. Quando eles estão vinculados a um trabalho, está previsto que a cada três dias de trabalhados, diminui um da pena — explica a psicóloga da Penitenciária, Luana Boeira.