Em fevereiro do ano passado, o engenheiro mecânico Diego Basso decidiu investir em uma franquia de cafés por entender a ascensão do consumo acompanhado do interesse do consumidor por uma bebida de qualidade superior. Neste período, o empresário diz já ter visto o preço subir 70%, em duas altas consideráveis. Como se não bastasse o aumento ocorrido ao longo da operação, que completou um ano nesta quarta-feira (23), um novo reajuste de pelo menos 30% está previsto para maio.
As cafeterias agora trabalham com o desafio de repassar os aumentos para o consumidor final, que já sentiu no bolso a alta dos preços.
—A gente segura estrategicamente, mas eu não consigo aumentar na mesma proporção, fica muito caro para o cliente. Então, a gente acaba repassando com uma estratégia de reajustar um pouco aqui, um pouco ali em outros produtos. Não dá pra aumentar os 30% direto na xícara, explicou Basso.
Segundo dados da Associação Brasileira de Café, o quilo do grão dobrou de valor entre janeiro de 2021 e o mesmo mês deste ano. Já o Centro de Estudos Avançados em Economia da USP constatou que o preço da saca do tipo arábica se aproximou de R$ 1,5 mil em janeiro de 2022, o que representa um aumento de 109,3% em relação ao mesmo período de 2021.
Utilizado por cafeterias como a de Basso, que moem o grão na hora e oferecem uma qualidade superior da bebida, o grão arábica sofreu, segundo ele, com as geadas registradas em Minas Gerais e com a alta do dólar, que reflete quase que instantaneamente nos preços dos fertilizantes e dos combustíveis.
— O grão robusto, vindo geralmente do Paraná e utilizado em cafés comuns vendidos no supermercado, tem uma colheita de alto volume. Então aumenta, mas não tanto — afirmou o proprietário da cafeteria, instalada no centro da cidade.
Ainda assim, o pacote de café tem contribuído para o preço final de compras cada vez mais caras no supermercado. Quem opta por levar o item para casa não gasta menos de R$ 11 em um pacote de 500g, vendido em promoção. Em uma pesquisa nos supermercados de Caxias do Sul, o Pioneiro constatou que um pacote de meio quilo de café chega a ser vendido por R$ 22,99.
Quem vai às compras semanalmente, como o professor de matemática, Marcelo Puziski, 29 anos, percebe o reajuste no valor da bebida. Segundo ele, são cerca de dois pacotes de 500g comprados por mês, o que representa um gasto mensal de aproximadamente R$30,00 que acaba interferindo nos hábitos de consumo.
— Comprava por R$8,90 o pacote, agora percebo que tem café custando quase o dobro. Experimentei outras marcas depois que começou a aumentar, já aconteceu de optar pela mais barata, mas prefiro sempre avaliar o custo benefício, explicou.
O presidente do Sindigêneros de Caxias do Sul, Eduardo Slomp, revela que atualmente o quilo do café na indústria é vendido a R$ 40 e o varejo tenta atrasar o repasse ao consumidor final.
— Produtos como o café, o óleo de soja e a farinha têm seus preços mantidos por mais tempo, mas devem aumentar ainda mais a partir de março, quando o consumo aumentar. Serão dois anos até os produtores de São Paulo se recuperarem das geadas que acabaram com as plantações.
Historicamente as vendas de café são menores no verão, agora o preço do produto junta-se ao calor como um dos motivos para não haver tanta saída da bebida nos supermercados. Gerente do Super Testolin, Julio Mendo confirma que irá repassar, nessa semana, o aumento de 10% no custo da última compra.
— Tivemos um aumento menor no começo do mês, que não se refletiu na gôndola, mas esse não temos como segurar. O consumo já é baixo nessa época e com certeza irá se manter devido ao valor.
Por ser padronizado e de alto consumo global, o Instituto de Pesquisa Aplicada da UCS, o Ipes, explica o tratamento de commodities dado ao café que é negociado inclusive na bolsa de valores e comprado em mercados futuros. De acordo com o coordenador do Ipes, Mozar Ness, o café segue a dinâmica da carne, sofre com a variação cambial e tem o valor reajustado quando consumido em larga escala.