A ampliação da campanha de vacinação contra a covid-19 para crianças de cinco a 11 anos tem levantado uma preocupação em pais de estudantes desta faixa etária matriculados na rede privada de ensino de Caxias do Sul: a exigência do comprovante vacinal. A imunização dos alunos, a princípio, não deverá ser obrigatória nessas instituições, em conformidade com orientações governamentais como a da Secretaria Estadual de Educação (Seduc).
Em nota, a Seduc afirmou na quarta-feira (6) que, tanto para a rede pública quanto a privada, "no caso da vacina contra a covid, até o momento, não há exigência (da imunização) para que os alunos frequentem as aulas". A titular da Secretaria Municipal de Educação (Smed) de Caxias do Sul, Sandra Negrini, afirmou que o assunto ainda será avaliado:
— Nós ainda não conversamos com a Secretaria Municipal da Saúde (SMS), estamos organizando uma reunião pra verificar isso, mas a definição é dos pais que têm responsabilidade pelas crianças, como foi já para os mais velhos. A única coisa que a secretaria fez foi facilitar, isso não significa que isso vai se repetir agora para as crianças menores. Vamos aguardar a Secretaria (Municipal) da Saúde, que também deve estar conversando com a Secretaria (de Saúde) do Estado pra que a gente tenha um alinhamento comum.
Entidades representativas e escolas incentivam a vacinação
Procurada pela reportagem, a presidente do Sindicato das Instituições Pré-escolares Particulares de Caxias, Bruna Volpato, afirmou que o assunto deverá ser abordado a partir do retorno das atividades da entidade, na semana que vem, mas adiantou que a vacinação contra a covid-19 segue sendo incentivada, embora seja respeitada a decisão individual em relação a fazer ou não a vacina.
— A gente sempre defendeu o quanto é importante a imunização, assim como foi para os profissionais da educação, mas acho que é uma escolha bem pessoal das famílias. A gente percebe que muitas estão favoráveis, mas assim como ocorreu com os adultos, algumas não são e, neste caso, a decisão cabe aos pais das crianças — afirmou a presidente do Sinpré, ao qual são ligadas 80 das 180 escolas de educação infantil de Caxias.
Diretores da Rede Caminho do Saber e do Colégio São José relataram na manhã desta sexta-feira (7) que familiares de alunos, favoráveis e contrários à vacinação, estão entrando em contato nos últimos dias para saber como será a volta às aulas diante a ampliação da campanha para crianças. As duas escolas consultadas pretendem seguir a mesma linha adotada no caso da vacinação em professores e funcionários, depois em adolescentes, de incentivo sem obrigatoriedade da vacina para frequência presencial.
— Nós sempre fizemos campanhas internas estimulando a vacinação, até porque, quanto mais vacinados, mais garantia do retorno presencial. A gente incentiva, mas não obriga. Não temos como interferir na decisão individual de cada família — afirma a diretora pedagógica da Caminho do Saber, Carina Schneider.
As instituições também devem manter o cumprimento dos protocolos sanitários exigidos, como forma de minimizar as chances de contágio.
— Medidas de cuidado estão mantidas, como a sanitização dos pés, evitar aglomeração... Fomos realizando atualizações ao longo do processo e conforme a situação a gente está sempre revisando. A nossa adesão presencial é de quase 100% e, felizmente, não registramos nenhum caso de contaminação dentro da escola — afirma Jorge De Godoy, diretor do Colégio São José.
Segundo ele, no segundo semestre três turmas de Educação Infantil e Ensino Fundamental I chegaram a ser afastadas em diferentes momentos, por conta de casos isolados detectados em estudantes. O diretor afirma que ninguém chegou a ser hospitalizado e que os estudantes positivados foram infectados fora da escola.
Sindicatos reforçam importância da imunização
Na manhã desta sexta-feira, o Sindicato do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinepe) emitiu uma nota onde afirma entender como essencial a imunização de toda a população brasileira para frear a pandemia e a consequente diminuição no número de internações e óbitos no país. O presidente da entidade, Bruno Eizerik, declarou que respeita a posição de alguns pais em optarem por não vacinar seus filhos, mas que não concorda, tendo em vista que a imunização de crianças faz parte de um movimento mundial e que, no Brasil, é recomendada pela Anvisa e pelo Ministério da Saúde.
O Sindicato dos Professores do Ensino Privado do Rio Grande do Sul (Sinpro/RS), também se posiciona favorável à cobertura vacinal em crianças.
— Nós incentivamos a vacinação prioritária aos professores e, embora não houvesse a discussão da vacina em crianças, o ensino presencial sempre foi uma preocupação porque elas, muitas vezes, ficam assintomáticas e podem transmitir a doença. Evidentemente, agora, somos pela ciência. Estamos de férias, mas esperamos que, até reiniciarem as aulas boa parte das crianças já esteja vacinada, porque com essa variante mais transmissível poderá complicar até a questão dos protocolos — observa o coordenador do Sinpro em Caxias do Sul, José Carlos Monteiro.
A Secretaria Estadual da Saúde (SES) prevê iniciar a campanha voltada às crianças em 17 de janeiro, começando com os grupos prioritários, que contemplam crianças com comorbidades e deficiências permanentes, indígenas e quilombolas.
Em Caxias do Sul, a Secretaria Municipal de Saúde ainda aguarda orientações do Ministério da Saúde e deverá cumprir, depois, o calendário por faixa etária em ordem decrescente. Isso foi o que projetou a diretora da Vigilância em Saúde, Juliana Argenta Calloni, em entrevista ao Gaúcha Hoje da Gaúcha Serra na manhã de sexta-feira. Segundo ela, a estimativa é de que 60 mil crianças integrem a faixa de cinco a 11 anos de idade no município.