Nesta terça-feira (7), Caxias do Sul ganha mais uma centenária com muita história para contar. Dona Maria Bedin, esposa do fundador da Transportadora Panex, completa cem anos de vida. Ela nasceu no Travessão Felisberto da Silva, um distrito que pertencia à Flores da Cunha, em 1921, conforme o filho Paulo Bedin, um dos diretores da transportadora da família.
— A minha mãe é uma pessoa que veio ao mundo para ser uma boa pessoa, ela sempre se preocupa em ajudar os outros, mas, principalmente, a família. Ela sempre nos protegeu e protege como uma leoa — conta Paulo.
Maria nasceu em uma família com mais 15 irmãos. Destes, quatro eram irmãos por parte de pai e outros 11 irmãos da mesma mãe. Ela foi a primeira filha do segundo casamento do pai, Fioravante Secatto. Segundo Paulo, naquele tempo era costume, quando a esposa morria, o homem se casar com a irmã da falecida, caso da mãe e do pai de Maria.
No local onde a matriarca dos Bedin morava “tinha um pouco de tudo”, como diz Paulo. O avô, que era agricultor e comerciante, criava porcos, vacas, fazia salame, queijo e comercializava nas redondezas. Na época, Maria ajudava a cuidar dos irmãos.
Ela estudou até o quarto ano das séries iniciais, pois era o que havia disponível na escola da vila. Maria conheceu Raul Bedin em um dia que foi à igreja. Como é tradição em cidades pequenas, as pessoas costumavam visitar o município, nesse caso, Flores da Cunha, aos domingos e passear pela cidade. Foi assim que, apesar de morarem em lados opostos da cidade, os dois acabaram se conhecendo.
— Meu pai morava no outro lado, na Linha 60, mas ele ia na cidade no domingo a cavalo, dar uma olhada, dar uma paquerada — conta.
Eles se casaram em 1947, quando Maria tinha 27 anos, (quase completos, conta a família) e Raul, 26. Depois de dois anos, tiveram a primeira filha, Suzana, e depois veio o Paulo, a Sueli e a Suzete. Suzana teve 3 filhos, Paulo teve 3 filhas, Sueli também teve 3 filhos e, a caçula, Suzete, teve um filho. Os 10 netos, fizeram de Maria a bisavó de 11 crianças.
Segundo conta Paulo, a mãe sempre foi uma pessoa muito tranquila e calma. Maria não é de se colocar em momentos que possam provocar broncas ou confusão.
— Pelo contrário, ela sempre busca mediar o que não está bem. Então, se a gente chegar em casa com algum problema, ela não vai repreender, ela senta com a gente, tenta entender o que aconteceu e arrumar uma solução — explica ele.
A única discordância foi com o nome de Paulo. Ao contrário das irmãs, cujos nomes iniciam com a letra “s”, Paulo se diferencia. Quando questionado do porquê da diferença, ele explica que seu nome talvez fosse com a tal inicial, mas dona Maria não gostou da ideia de Raul.
— Meu pai queria colocar outro nome que talvez até começasse com “s”, mas ela não gostou e eles acabaram entrando em um acordo para ser Paulo — conta rindo.
A história da família com a transportadora começou quando Raul foi escolhido pelo pai para dirigir o caminhão que levava os vinhos da família e dos vizinhos. Por causa da dificuldade de levar o produto para fora da cidade e distribuir pelo país, a família de Raul comprou um caminhão Chevrolet 1945 para fazer o transporte para as cantinas da região. Cinco anos depois, em 1950, com a parceria do cunhado, Samuel Antoniazzi, Raul fundava o Expresso Bedin, que se transformou em Transportes Panex em 1960.
Naquela época, dona Maria atuava com a cunhada Otília Antoniazzi, irmã de Raul, cuidando das finanças da empresa enquanto os maridos dirigiam pelas estradas. As duas famílias moraram juntas desde o início da parceria. A ligação entre as famílias permanece, pois, até hoje, as viúvas dos fundadores continuam morando na mesma casa há quase 70 anos. A partir de 1981, os filhos começaram a participar da gestão da empresa.
— A grande dificuldade de montar uma empresa, muitas vezes é começar algo e nós recebemos isso pronto. Eles nos deram estudos, nos incentivaram a nos aperfeiçoar e cuidar daquilo que eles geraram. Nós conseguimos ajudar um pouco e a empresa continua crescendo, mas o importante é a base que eles deixaram — analisa.
Raul faleceu em 1999, aos 74 anos, e a dona Maria segue firme carregando consigo o legado da família nesse centenário repleto de histórias. Sobre os ensinamentos trazidos pela mãe, Paulo aponta que dona Maria sempre orientou os filhos a seguir o que é certo.
— Especialmente a honestidade, ser obediente e respeitar os outros. Os princípios fundamentais, eles passaram isso bem certo para nós — orgulha-se o filho.
Antes de se casar, Maria trabalhava como costureira, produzindo roupas para fora. Depois do casamento, com a dedicação aos cuidados com a família, ela passou a criar peças para os filhos, depois para os netos e bisnetos.
— Ele sempre gostou de crochê, para todos da família ela fez um cueiro de bebê, aquela malha de crochê para envolver a criança no inverno, uma espécie de casaquinho. Ele faz um para cada, de forma manual. Há pouco tempo, nasceu um bisneto e ela fez para ele também — revela Paulo.
Mas o que a dona Maria mais gosta é de reunir a família, estar com os entes queridos. Nos domingos, ela faz questão de ter todos em volta e cozinhar.
— Ela gosta da turma reunida, num ambiente bom, cheio de amizades. Ela adora cozinhar para a família para que todos vejam que ela gosta de fazer aquilo por nós. Ela cozinha muito bem, faz bolos, tortas. Em comidas italianas, ela é especialista — conta o filho.
Dona Maria tem uma saúde invejável e fazer as tarefas diárias sem transtornos. A única dificuldade que a matriarca enfrenta é a memória que começa a falhar, principalmente em relação às histórias mais recentes.
Para o filho, a receita de sucesso é a forma como sua mãe encara a vida: com leveza e sem preocupações exageradas
— É uma pessoa que sempre levou a vida sem exagerar, eu acho que o segredo é esse. Eu vejo que ela tem uma vida longa porque ela sempre foi uma pessoa muito boa, duvido que alguém possa dizer que ela fez mal a alguém, pelo contrário ela sempre ajudou as pessoas a seguirem o melhor caminho — finaliza ele.