O retorno obrigatório às salas de aula nesta segunda-feira (8) nas escolas estaduais Henrique Emílio Meyer, no bairro Exposição e na Melvin Jones, no bairro Planalto, em Caxias do Sul foi marcado por reencontros. Depois de 1 ano e oito meses sem frequentar o ensino presencial havia um misto de alegria por rever os colegas, mas também de apreensão pelo vírus ainda circular.
O sentimento mais marcante, no entanto, era a alegria de voltar a conviver com colegas e amigos. Mesmo vacinadas, as colegas Fernanda Andreis e Ellen Tavares de 17 anos estavam empolgadas, mas com receio:
— Estou feliz em reencontrar as gurias, mas estamos numa pandemia e se tiver mais uma onda? — questiona Fernanda que enfrenta renite e sofre com o uso de máscara.
Ellen sente o mesmo. Ela também encara a renite e já teve covid-19.
— Meu pai sempre se cuidou, mas teve covid-19 e também peguei. Foi um pouco antes de fazer a vacina. Estou feliz de voltar pelos colegas, mas com um certo receio. É um sentimento complicado — confessa ela.
Diego Leite, 17, e Bruno Dutra, 18, se conhecem há mais de 10 anos. Não estão na mesma turma, mas são amigos. Nesse tempo longe da escola se viram apenas uma vez. Apesar de felizes pelo reencontro, Diego afirma que no caso dele era melhor o ensino remoto.
— Estou trabalhando de manhã e à tarde. Era mais fácil sem o ensino presencial. Para mim não valeria a pena voltar agora no final do ano. Estou feliz de rever os colegas, mas com alguns tinha contato fora da escola.
Para Bruno o retorno foi melhor:
— Voltei há uma semana. Sou uma bomba de ansiedade e para mim estudar em casa era complicado.
Já Paulo Pimel Jr, 18, acha estranho voltar agora:
— Depois de ficar mais de um ano e meio sem vir pra aula é esquisito. Eu estava tranquilo estudando em casa e mantive contato com os meus amigos — conta ele.
Conversas e risos voltam a tomar conta dos corredores
Na entrada do Melvin Jones o clima era descontração. Dentro da escola, o som de conversas e risadas voltou a dar vida aos corredores e salas de aula. Erick Santos, 17, estava feliz pelo retorno.
— Estudar na escola é mais fácil porque fico mais concentrado.
Meirieli Fagundes de Oliveira, 16, estava ansiosa:
— Estou nervosa porque estudava em outra escola. É uma turma nova. Bate uma ansiedade pela volta e pelo vírus.
Para Raíne de Oliveira Cardoso, 18, o sentimento também era confuso:
— Esse retorno foi bom, mas ao mesmo tempo estou confusa. Estamos quase no final do ano, e estávamos há tanto tempo longe da sala de aula. Nos reencontramos porque teve uma ação e pintamos o muro da escola, e aí deu muita vontade de voltar. Estar aqui é melhor porque em casa nem sempre entendemos direito (o conteúdo) — avalia ela.
Retorno dos alunos é considerado tranquilo pelas direções
No colégio Henrique Emílio Meyer, os estudantes entraram pelo portão lateral na Rua Santos Dumont, que dá acesso ao pátio. O portão foi aberto às 7h e cerca de 20 alunos já aguardavam para entrar na escola. A aula começa às 7h20min, com tolerância de 20 minutos. O colégio é um dos maiores da cidade com 1.094 estudantes. Mesmo assim, não precisa de revezamento para o retorno 100% presencial.
— Nossas salas são bem grandes para receber os alunos com todas as medidas necessárias. Abrimos o portão do lado para que eles ficassem no pátio antes de entrarem, e teve todo o protocolo sanitário.
No turno da manhã há 443 alunos matriculados entre o Ensino Médio e o Fundamental. Destes, 260 foram para o colégio na manhã de segunda-feira.
— É um bom número para o retorno obrigatório em uma segunda-feira. Estávamos preparados, então além de mudar o portão de entrada só demarcamos com um "x" embaixo de cada cadeira para que fiquem exatamente onde estão. Estávamos ansiosos para vê-los porque são eles que dão vida a nossa escola. Os profes estão bem entusiasmados — ressalta a diretora Fabiane Zanettini.
Na Melvin Jones, há 763 alunos matriculados. No Fundamental, já teve o retorno de 90% dos estudantes, mas o Médio estava com uma média em torno de 40%. No turno da manhã, são 302 divididos em 13 turmas. À tarde, 303, e no turno da noite 158 estudantes. A diretora Leila Ramos afirma que vão avaliar se será necessário o revezamento para receber todos em sala de aula:
— Muitos pais apresentaram atestados médicos de alunos que têm comorbidades e não vão retornar ao presencial. Temos que contabilizar quantos não virão para a sala de aula.
Dos 302, 152 compareceram a aula durante a manhã. Como muitos estão trabalhando, uma das solicitações dos pais e estudantes é transferência para o turno da noite.
— Os nossos estudantes estão trabalhando e muitos deles querem ir para o noturno, mas não temos vagas para todos. Vamos avaliar cada caso e definir os critérios para ver quem muda de horário — afirma ela.
No total, a rede estadual tem cerca de 25 mil alunos matriculados em Caxias. A Coordenadoria Regional de Educação não tinha o levantamento de quantos estavam frequentando as escolas até a última sexta-feira (5).
O que diz a Coordenadoria Regional de Educação
Cerca de 45 mil alunos estão matriculados nas 118 escolas estaduais na área de abrangência da 4ª Coordenadoria Regional de Educação (CRE). Destas, 117 receberam mais alunos na manhã de hoje com a obrigatoriedade do ensino presencial determinado pelo governo do Estado. Das que retornaram, 38 fazem revezamento de alunos porque não tem espaço para garantir o distanciamento correto entre as classes. Em Caxias, são 56 instituições, com 25 mil alunos matriculados. A escola Dr. Renato Del Mese, que fica no distrito de Vila Cristina, segue com 100% dos alunos em ensino remoto, porque o colégio está em obras.
Conforme a 4ª CRE, 79 escolas já estão recebendo todos os alunos. A coordenadora Viviani Devalle enfatizou a importância deste momento na vida de alunos e professores.
— Essa retomada é muito importante para ajustarmos o rumo da educação. Precisamos nos unir para superar os próximos desafios — disse.
De acordo com a Secretaria Estadual de Educação (Seduc), 92% dos profissionais da educação estão com a imunização completa no Rio Grande do Sul, enquanto 68,1% dos adolescentes de 12 a 18 anos tomaram, pelo menos, a primeira dose da vacina.