Questionada em carta da comissão de diretores de escolas municipais, a falta de uma sede ainda mantém quatro instituições de ensino em locais provisórios em Caxias do Sul. Três delas deixaram os prédios originários em função de problemas na infraestrutura que ameçavam a segurança dos alunos — as escolas de Ensino Fundamental (Emefs) Atiliano Pinguelo, Laurindo Formolo e Afonso Secco — e uma, a Leonel Brizola, nunca chegou a ter uma sede própria desde que foi instituída, em agosto de 2014. Mais do que estarem sujeitos às adaptações de espaços que, em alguns casos, não foram feitos para serem ambientes escolares ou dividindo dependências com outras instituições, professores e alunos enfrentam outras dificuldades, como o afastamento das comunidades e as consequências disso.
— Ano passado foi bem complicado para nós. Tivemos que acessar o bairro (De Zorzi) o ano inteiro para levar as atividades, para entregar os kits de alimento. É sempre uma mobilização bem grande. Não estando no bairro, limitamos muito o acesso deles e restringindo as relações. Só vem até a escola quem consegue pela questão financeira. Para algumas famílias é difícil ter duas passagens de ônibus para vir ao Centro — contou a diretora da Atiliano Pinguelo, Mariana Zanotti, referindo que tiveram que ir dois sábados por mês, de maio a dezembro, no bairro, já que mais de 90% dos 134 estudantes são de famílias de baixa renda com dificuldade de acesso à internet e precisavam dos materiais de aula impressos.
Mariana diz que o transporte escolar também preocupa pelo aspecto da segurança e porque muitos perdem o ônibus e faltam as aulas. Mais de 90% das crianças da Educação Infantil ao 5º ano do Ensino Fundamental utilizam o serviço que é ofertado pela prefeitura.
A Laurindo Formolo divide as dependências do antigo Colégio Mutirão com a Atiliano desde julho deste ano. A escola deixou a sede, no bairro São Ciro, devido a problemas estruturais para que um novo prédio fosse erguido. À época, a licitação estava em andamento. Contudo, já foram feitos dois processos que não tiveram interessados e um terceiro deve ser lançado sem data prevista ainda. Enquanto isso, a diretora Jaciara Viesser Bosi, diz que a distância da comunidade impacta ainda na configuração das turmas, porque a escola perdeu cerca de 40 alunos dos bairros que atendia (Serrano, Jardim Iracema, Eldorado), que pediram transferência em função da mudança de endereço. Com a abertura dessas vagas, terá de atender a novos estudantes da área central e a direção acredita que eles não permanecerão quando a instituição voltar ao São Ciro. Atualmente, são 331 em duas turmas de Educação Infantil e oito de Ensino Fundamental (anos iniciais e finais).
— Descaracteriza bastante a nossa comunidade porque não tem a proximidade — afirma a diretora.
A escola Governador Leonel Brizola tem a situação mais complexa. A instituição, criada para atender as crianças do Campos da Serra, nunca esteve no bairro. Já passou por um espaço cedido na UCS (entre 2014 e 2018) e, há cerca de três anos, está alocada em parte da Escola Estadual Ivanyr Euclinia Marchioro, no bairro Jardelino Ramos.
— A escola foi criada e, desde então, as crianças não têm paradeiro, não têm uma referência. Há uma falta de identidade e de pertencimento da comunidade. Na UCS ainda tínhamos turno integral, conseguíamos fazer um trabalho mais perto deles. Depois que viemos para cá, perdemos meio turno e continuamos longe. É muito ruim para nós, perdemos contato com as famílias, os pais não têm condições de vir na escola. E sempre que precisa, nós temos que deslocar para lá (Campos da Serra) e não o contrário — pondera a diretora Carmem Guimarães Nunes.
Fora da sede original desde 2006, a escola Afonso Secco foi instalada em uma casa alugada que fica ao lado do antigo prédio, na Parada Cristal. Ou seja, permanece perto da comunidade, onde atende a 114 alunos.
— Atendemos a demanda de toda a região. A comunidade próxima é a Santa Rita, o Parque dos Pinhais e a Parada Cristal, mas acabamos atendendo crianças de localidades mais distantes também. Como tem o transporte público, não temos essa dificuldade — explica a diretora Ângela Honorato.
O que diz a prefeitura sobre as obras
Para a escola Atiliano Pinguelo, a notícia é relativamente boa. A obra de construção do novo prédio está em andamento, apesar de ter atrasado. Segundo técnicos da Secretaria Municipal da Educação (Smed), houve problema na drenagem do terreno na Rua Madre Bárbara e a necessidade de desvio de uma tubulação que passava pelo lote, o que adiou os trabalhos. Foi feito um aditivo de prazo, empurrando a entrega em cerca de seis meses. Com isso, a mudança pretendida pela direção para o início do ano que vem ficou para a metade de 2022. A ampliação do serviço também necessitou de aumento no valor, que não foi informado pela prefeitura. O novo prédio será maior do que o anterior, que foi parcialmente interditado após um temporal em 16 de abril de 2019. Com isso, a escola vai passar a atender alunos até o 9º ano (atualmente, é da Educação Infantil até o 5º ano).
No caso da Laurindo Formolo, foram realizadas duas licitações sem interessados e o processo precisou ser refeito para uma terceira tentativa. Um novo edital deve ser publicado, ainda sem data para ocorrer, segundo a prefeitura.
Já a Leonel Brizola, tenta melhorar o espaço temporário, enquanto a construção da primeira sede não se desenrola. Contudo, a direção não consegue fazer certas melhorias na estrutura atual porque ela pertence ao Estado.
— As crianças estão estudando com as paredes todas mofadas, a parte elétrica danificada também, e vidros quebrando bastante. Estamos sempre trocando. Mas a pintura não nos autorizaram. Antes das aulas presenciais retornarem, consegui uma reunião com a secretária da Educação e ela nos deu garantia de que essa reforma iria acontecer. Só que o valor extrapola a verba da autonomia financeira, então precisa de uma licitação e provavelmente entre janeiro e fevereiro conseguiríamos reformar. Ela disse que a intenção deles era adquirir esse prédio para o município — relatou a diretora Carmem Guimarães Nunes.
A pintura tem orçamento previsto de R$ 70 mil, segundo a direção, quase o dobro da verba total da autonomia que a escola dispõe para toda a demanda. Sobre isso, a Smed disse que não há como fazer melhorias no prédio pertencente ao Estado.
Para a construção da nova escola Afonso Secco não há nem previsão, segundo a Smed. A direção diz que recebeu emenda parlamentar de R$ 250 mil que poderia ser usada na obra. Na impossibilidade disso, a verba poderia ser utilizada para reformar a antiga sede. Mesmo assim, necessitaria de contrapartida do município. Com isso, o prédio reformado ficaria para a instalação de algum equipamento para a comunidade. A nova escola seria em terreno próximo pertencente ao município, no outro lado da BR-116.