Em um ano, de outubro de 2020 até agora, o número de pessoas pedindo dinheiro nas ruas de Caxias do Sul mais do que dobrou, passando de cerca de 20 para em torno de 50. O levantamento é do Centro de Referência Especializado para População em Situação de Rua (Centro Pop), um dos serviços da Fundação de Assistência Social (FAS) do município.
De acordo com a gerente do Centro Pop, Márcia Furh, o dado tem como base o cadastro de usuários do serviço e as abordagens feitas pela equipe nas ruas na cidade. O público é diverso, mas ela conta que houve aumento na quantidade de famílias indígenas venezuelanas que moram na Capital e vêm para Caxias para mendigar:
— É um público flutuante, que tem domicílio em Porto Alegre e é indígena. Às vezes, eles ficam aqui uma semana ou de três a quatro dias. Fazemos o monitoramento deles e vemos o que precisam. Mas eles vêm mais pela mendicância mesmo.
A quantidade de famílias venezuelanas (não indígenas) que moram em pensão na região do bairro Esplanada também aumentou, segundo o serviço. Além disso, há os moradores de Caxias que pedem dinheiro para o uso de drogas ilícitas e para dormirem em pensões. E, ainda, há os que vendem balas nos semáforos e os que se oferecem para limpar para-brisas. Um jovem de 21 anos, natural de Caxias, que prefere não ter a identidade divulgada, vive nas ruas há quatro anos e, desde então, vende doces nos cruzamentos do bairro São Pelegrino.
— As pessoas compram para eu começar (a vender). Sempre alguém me ajuda para comprar os doces. Dá para sobreviver. Não sou de roubar. Várias pessoas me ajudam por isso, por estar vendendo, fazendo as coisas certas, não incomodando — contou.
Segundo Márcia, em agosto deste ano, foram 438 pessoas atendidas e 1.337 acessos ao serviço, considerando que um mesmo indivíduo faz mais de um acesso.
— Temos eles mapeados por áreas e tentamos minimizar essa questão. A população (em situação de rua) aumentou justamente pela questão do trabalho, vinda da região e de outros Estados para a cidade em busca de trabalho. Estamos com as casas de passagem cheias, muita gente na rua e chegando cada vez mais. O panorama não está fácil — pondera.
Na avaliação da gerente, isso ocorre porque a retomada da economia e a abertura de vagas de trabalho não alcança a este público, que não tem escolaridade.
— Eles estão à margem da sociedade. Muitos não têm documentos e ajudamos a fazer; alguns têm tornozeleira (eletrônica) porque saíram do sistema prisional e as empresas não contratam. Agravou muito a situação. Mesmo aqueles que se viravam (sozinhos), não precisavam do Pop, agora, estão recorrendo (ao serviço) — referindo que a busca, no centro, é por alimentação, documentação e encaminhamento para trabalho.
Para além dos 50 que pedem dinheiro nas ruas, conforme o Centro Pop, 18 usuários fazem parte do Programa de Renda Familiar, têm aluguel custeado pelo município e fazem cursos. Para outros, foi conseguido Benefício de Prestação Continuada (BPC). Já os que atuam como malabares têm procurado menos pelo serviço, conforme a gerente, porque ganham certa quantia por dia e pagam por suas coisas.
Para tentar mudar a realidade de quem vive pedindo dinheiro pelas ruas, o Centro Pop ainda oferta oficinas de ensino, de contos e de cinema. Esta última é uma novidade realizada em parceria com a FSG. Porém, as atividades estão temporariamente interrompidas devido ao surto de covid-19 no Residencial Santa Dulce, que muitos frequentam.