O que faz com que um professor ou professora marque para sempre a vida de um aluno? Cada um tem um motivo especial e o Pioneiro resolveu perguntar para nomes da política, cultura, economia e da comunidade de Caxias do Sul qual educador se destacou em sua trajetória — seja no primeiro contato com uma sala de aula ou até mesmo durante a formação de suas profissões.
No Dia do Professor, lembrado nesta sexta-feira (15), reunimos os depoimentos que revelam como a relação entre educadores e alunos pode permanecer ativa na memória de ambos por muitos anos.
Os relatos foram feitos à reportagem.
Bruna Mallmann e a homenagem na festa de 15 anos para a professora Rozenai
"A Rozenai Garcia foi a minha primeira professora da pré-escola no Pena de Moraes, escola que estudei até a quarta série. Dentre as tantas figuras marcantes da minha trajetória educacional, que me inspiraram a tornar-me professora e que até hoje são modelo para minha prática docente, não poderia deixar de lembrá-la.
Ela marcou de forma especial por ser carinhosa e, ao mesmo tempo, brincalhona com os alunos.
BRUNA MALLMANN,
sobre a professora Rozenai
Ela marcou de forma especial por ser carinhosa e, ao mesmo tempo, brincalhona com os alunos. Além de também ter sido professora da minha irmã Camila, a Rozenai era muito próxima da minha mãe, que sempre frequentou a escola e tinha uma relação próxima com os meus professores.
Em 2007, tive a oportunidade de homenagear a profe Rozenai na minha festa de 15 anos, presenteando-a com rosas e um caderno feito por mim com as minhas primeiras letras e desenhos. Foi um momento emocionante, um gesto simples, mas muito importante para destacar uma pessoa tão querida na minha vida.
Além dela, eu poderia destacar tantos outros que foram fundamentais na minha caminhada e na minha decisão de ser professora. Educar sempre me realizou e essas pessoas foram verdadeiros espelhos ao longo da minha vida. Obrigada professores por serem luz na vida dos seus alunos. Parabéns colegas pelo dia do professor, a profissão que enobrece e transforma a sociedade."
Bruna também é professora de Biologia e princesa da Festa da Uva 2022
Júlio Cesar Chiappin e o exemplo de superação do professor Daniel
"Sempre tive uma relação próxima e de muita admiração por todos os professores, mas um dos meus favoritos foi o Daniel Krewer, que lecionou química durante boa parte do Ensino Médio. Um típico professor brincalhão, divertido, amigo, com brilho no olhar, mas que quando precisava ser sério, era bastante sério.
"Um típico professor brincalhão, divertido, amigo, com brilho no olhar, mas que quando precisava ser sério, era bastante sério"
JÚLIO CESAR CHIAPPIN
sobre o professor Daniel Krewer
Em 2012, no final do primeiro ano do Ensino Médio, o professor Daniel precisou se afastar da escola para tratar de um problema de saúde. A ausência dele fez com que eu e meus colegas sentíssemos muito, o que acabou marcando aquele ano.
Foi um susto não ter mais a presença do professor Daniel na sala de aula. Ao mesmo tempo que estávamos preocupados com a sua saúde, seguimos sempre na torcida pela sua recuperação e para que voltasse logo. Eu e meus colegas chegamos até mesmo a nos mobilizar e montar grupos de estudos específicos para a química, uns ajudando aos outros para que o professor ficasse orgulhoso do nosso desempenho.
No final do segundo ano, quase um ano depois, o professor Daniel voltou para a escola e para a nossa turma. Foi uma felicidade imensa e me marcou por ele ser um exemplo de superação e garra, que são características fundamentais e que seguem comigo até hoje."
Júlio César é administrador e integrante da CIC Jovem de Caxias do Sul
Paula Ioris e os reencontros com a professora Ivete
"Sou de um tempo em que praticamente todas as escolas de Caxias do Sul tinham um coral e no Colégio Pena de Moraes, onde estudei até a oitava série, quem dava aula de música era a professora Ivete de Carli. Lembro bem da época em que fizemos uma rifa entre os estudantes para comprar os instrumentos que permitiam nos apresentarmos na escola e até mesmo em um casamento de uma das nossas professoras.
"Sou grata a ela por ter me ensinado a ter um ouvido apurado para a música"
PAULA IORIS,
sobre a professora Ivete de Carli
Quem me conhece sabe que gosto de música e canto em casa, apesar de não saber tocar nenhum instrumento. Cantei muito para os meus filhos durante a infância deles e sempre me recordava desse tempo no coral com a professora Ivete. E esse gosto pela música surgiu durante essas aulas com a professora Ivete, que de um jeito muito doce e carinhoso ensinava a todos com dedicação.
Ela sempre dizia para prestarmos atenção no ritmo das canções e na letra das composições. Sou grata a ela por ter me ensinado a ter um ouvido apurado para música. No coral, era comum cantarmos músicas italianas, MPB e também os hinos nacional, do Rio Grande do Sul e também de Caxias do Sul. O hino de Caxias é lindo e só voltei a ouvi-lo novamente quando me tornei vereadora.
E, pelas boas coincidências da vida, rotineiramente encontro a professora Ivete pelas ruas. Vi ela na praça, na feira e sempre me remontam boas lembranças. Um dos nossos encontros, em 2019, pedi para registrarem o momento e compartilhei nas minhas redes sociais. O professor é uma referência, um ícone para muitas pessoas, e a minha foi a professora Ivete."
Paula é psicóloga e vice-prefeita de Caxias do Sul
Geovani de Gregori segue levando os ensinamentos da professora e educadora Sirlei
"Frequentei por quase 10 anos o Serviço de Convivência e Fortalecimento de Vínculos Cruzeiro do Sol, no bairro Cruzeiro, onde moro desde que nasci. Nesse período, conheci a professora Sirlei Zanrosso, que todo mundo chamava de Chica. Ela era uma mãe para todos.
Estudava de manhã na Escola Ítalo João Balen e depois ia pra lá, lugar que eu considerava como minha segunda casa. A gurizada que frequentava o espaço era um pouco rebelde, medonha, mas ela tinha um toque especial que fazia com que todos a respeitassem e se sentissem bem acolhidos. Essa relação fazia toda a diferença e não conheci ninguém que não colocasse ela como uma das professoras e educadoras preferidas. A Chica foi fundamental na minha vida até hoje.
"Ela era uma mãe para todos"
GEOVANI DE GREGORI
sobre a professora Sirlei Zanrosso
Com a ajuda dela, também descobri no Cruzeiro do Sol a minha grande paixão: a dança. Foi ela que me apresentou a cultura hip hop, incentivou a dançar, me expressar por meio da arte e sigo até hoje nesse caminho. Aos 15 anos, precisei deixar a casa para que outras pessoas também pudessem ter essa mesma experiência, mas sigo levando os ensinamentos da Chica para outras crianças. Me tornei educador social e, há 12 anos, contribuo multiplicando esse aprendizado CAMI São José, no bairro Cânion, e também na Fluência Casa de Cultura, no bairro Santa Fé. Sigo os passos dela, com muito amor e transmitindo conhecimento, amor e muita dedicação para outras pessoas."
Geovani, também chamado de Gê do Break, é educador social e um dos idealizadores da Fluência Casa de Cultura do bairro Santa Fé
Alessandra Rech e o professor, orientador e compadre Flávio
"Refletindo sobre os professores que marcaram minha trajetória, chego à conclusão que as aulas mais significativas serão sempre aquelas em que o nosso desejo está mais mobilizado. Por isso, embora eu tenha tido mestres importantes desde os primeiros anos escolares e da graduação em Jornalismo, um divisor de águas foi o ingresso no Mestrado em Letras e Cultura Regional da Universidade de Caxias do Sul, em 2003. Passado o meu “retorno de Saturno”, quando a gente realinha os propósitos para a jornada, a oportunidade de estudar Literatura Brasileira em diálogo com questões culturais foi uma grande alegria.
"Flávio me guiou pelo sertão de Guimarães Rosa, tema da minha dissertação, com sabedoria e um certo rigor"
ALESSANDRA RECH,
sobre o professor Flávio Loureiro Chaves
O professor Flávio Loureiro Chaves, um dos criadores desse programa com José Clemente Pozenato, foi meu orientador e, mais tarde, se tornou padrinho da minha filha Clarice, que hoje está com 15 anos. Referência sobre a obra de escritores como Simões Lopes Neto, Machado de Assis e Erico Veríssimo, Flávio me guiou pelo sertão de Guimarães Rosa, tema da minha dissertação, com sabedoria e um certo rigor, o que faz jus ao entendimento de que a escrita acadêmica é também um rito de passagem.
Crítico literário brilhante, o professor Flávio tem o dom de ampliar os horizontes de entendimento de uma obra literária, iluminando-a não só do ponto de vista contextual, mas também do tempo presente, do significado e da transcendência possíveis para cada geração de leitores."
Alessandra também é professora dos cursos de Comunicação Social e do Mestrado em Letras e Cultura da UCS e patrona da 37ª Feira do Livro de Caxias do Sul